é porque existe o desejo, o olfacto, e o medo, e os vivos apaixonam-se por outros vivos, e lembram-se, por vezes, do enorme número de mortos, e dentro destes há alguns que os fazem desligar a luz e o trabalho, e o quotidiano aí já não basta, porque o coração tem em certos dias um orçamento incomportável E não basta então a mulher que amamos, nem os filhos - os que nos vão sobrevive no tempo - e é preciso sair, e não basta sair para a rua e correr, é preciso sair dos ossos, fugir do obrigatório, à casa, encontrar dentro dos bolsos o bocado de uma carta, de um mapa, fragmento que possa reconstruir o caminho para a casa da infância onde Deus era chocolate e o resolvíamos assim, de uma vez, porque o comíamos Porque mais tarde crescemos e ganhámos dinheiro, família, e alguns outros assuntos, mas perdemos qualquer coisa de que é impossível falar, de que não sabemos falar. E é preciso isso tudo, e por quase tudo o que faltou dizer, é por isso que é bom, por vezes, suspender a noite e o coraçã...