Num mundo à procura de si próprio talvez a maior fragilidade seja a de não perceber ou querer perceber fragilidade alguma. “A minha aldeia tinha árvores grandes. Chorei muito quando a queimaram”. Borrões. Letra incerta e erros. A história real do Pedro – que será feito dele ? – é igual a de tantos outros meninos moçambicanos, tantos outros meninos africanos. Homens armados assaltaram a povoação onde vivia. Queimaram, mataram. E o Pedro viu a mãe, o pai, os tios, os vizinhos ser degolada. O Pedro tinha 12 anos estava internado no departamento de próteses do hospital de Maputo, dirigido por holandeses. Campo de Mogulama. Zambézia. Uma clareira de terra vermelha com tendas. Azuis para os moribundos. Brancas para os refugiados. Aqui os bebés não choram e as crianças não riem. As que foram libertadas na floresta têm olhos de tristeza infinita. Os números são um desalento. Fome (37 por cento da população), subnutrição (50 por cento das crianças), esperança de vida 45 anos, mutilaç...
Há três espécies de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar. (Platão)