Ao abrir a janela do quarto para outras janelas de outros quartos, ao veres a rua que desemboca noutras ruas, e as pessoas que se cruzam, no início da manhã, sem pensarem com quem se cruzam em cada início da manhã, talvez te apeteça voltar para dentro, onde ninguém te espera. Mas o dia nasceu - um outro dia - e a contagem do tempo começou a partir do momento em que abriste a janela, e em que todas as janelas da rua se abriram, como a tua. Então, resta-te saber com quem te irás cruzar, esta manhã: se o rosto que vais fixar, por uns instantes, retribuirá o teu gesto; ou se alguém, no primeiro café que tomares, te devolverá a mesma inquietação que saboreias, enquanto esperas que o líquido arrefeça. Nuno Júdice