Avançar para o conteúdo principal

Vaidade das vaidades


Kalpana Chatterjee

[Homilia de hoje, cá em casa] “Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade”. Pode-se ler este texto do livro de Eclesiastes de forma angustiada, vendo a vida como um ciclo que se repete sem esperança. Vaidade vem do latim vanitatis que significa vazio. Tudo é vazio? Sim, sem a esperança de algo mais a vida torna-se vazia. Uahhh… O drama, o desespero do vazio… o abismo. Ok, mas, deixando de lado a frieza desse drama do vazio, podemos dar o passo de o preencher. O útero está vazio… e em cada mês prepara-se para receber uma nova vida. Caso não aconteça, esvazia-se e retoma a preparação. De facto, por vezes é preciso esvaziar o que já não interessa para dar espaço a algo mais importante ou prioritário. Dando um salto, a ressurreição também começa a ser vivida pelo túmulo que está vazio… continha apenas o essencial para perceber que Cristo já não estava lá: as ligaduras que já não prendem e convidam a desprender as nossas. Tudo é vaidade, tudo é vazio, se se perde o encontro com o essencial.

http://oinsecto.blogspot.pt/2014/09/vaidade-das-vaidades-tudo-e-vaidade.html

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Talvez eu seja O sonho de mim mesma. Criatura-ninguém Espelhismo de outra Tão em sigilo e extrema Tão sem medida Densa e clandestina Que a bem da vida A carne se fez sombra. Talvez eu seja tu mesmo Tua soberba e afronta. E o retrato De muitas inalcançáveis Coisas mortas. Talvez não seja. E ínfima, tangente Aspire indefinida Um infinito de sonhos E de vidas. HILDA HILST Cantares de perda e predileção, 1983

Não é uma sugestão, é um mandamento

Nos Evangelhos Sinóticos, lemos muito sobre as pregações de Jesus a propósito do «maior mandamento». Não é a grande sugestão, o grande conselho, a grande linha diretiva, mas um mandamento. Primeiro, temos de amar a Deus com todo o coração e com toda a nossa força, sobre todas as coisas. Ao trabalhar com os pobres camponeses da América Central, que não sabiam ler nem escrever, a frase que eu sempre ouvia era: «Primero, Dios». Deus tem de ser o primeiro nas nossas vidas, depois, todas as nossas prioridades estão corretamente ordenadas. Não amaremos menos as pessoas, mas mais, por amar a Deus. A segunda parte do «maior mandamento» é amarmos o próximo como a nós mesmos. E Jesus ensina-nos, na parábola do Bom Samaritano, que o nosso próximo é esse estrangeiro, esse homem ferido, essa pessoa esquecida, aquele que sofre e, por isso, tem um direito acrescido sobre o meu amor. Jesus manda-nos amar os estranhos. Se só saudamos os nossos, não fazemos mais do que os pagãos e os não cr...

Eis-me

Eis-me Tendo-me despido de todos os meus mantos Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses Para ficar sozinha ante o silêncio Ante o silêncio e o esplendor da tua face Mas tu és de todos os ausentes o ausente Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca O meu coração desce as escadas do tempo [em que não moras E o teu encontro São planícies e planícies de silêncio Escura é a noite Escura e transparente Mas o teu rosto está para além do tempo opaco E eu não habito os jardins do teu silêncio Porque tu és de todos os ausentes o ausente Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'