Respeita sempre a destruição das mulheres e dos homens que amaram ou ao menos tentaram amar a vida e esta queimou-os ou quebrou-lhes os ossos da cara, as entranhas e as veias, o fígado e o bom coração, respeita os consagrados e os mais humildes afundamentos dos seres humanos. Respeita os que se suicidaram. Respeita os que se atiraram aos oceanos. Não fales mal deles, peço-te, imploro de joelhos. Ama-me essas pessoas, essa multidão, esse rio amarelo da História, de todos quantos perderam tão injustamente, ou tão justamente, dá no mesmo. Pessoas que aceleraram numa curva. Pessoas que escondiam garrafas nos cantos da casa. Pessoas que choravam nos parques dos subúrbios das cidades. Pessoas que se envenenavam com pastilhas, com álcool, com insónias terríveis, com vinte horas de cama por dia. Tentaram, mas não conseguiram. Pessoas a quem sobravam três quartos do frigorífico, dos pequenos. Pessoas sem ter com quem falar semanas inteiras. Pessoas que não comiam, para não comerem sozinhas. São...