Por natureza, o amor não existe - justamente uma água turva num espelho, a aliança momentânea de dois interesses, um misto de guerra e de comércio. Aquilo que é natural é este modo de amar que vos assemelha e lisonjeia - os amigos acolhedores, as damas perfumadas. Aquilo que é sobrenatural é entrar na leprosaria, perto de Assis, passar duma sala à outra, caminhar com passo de camponês, repentinamente calmo, ver avançar para vós estes farrapos de carne, estas mãos imundas que pousam sobre os vossos ombros, apalpam o vosso rosto; contemplar os fantasmas e apertá-los contra si, longamente, em silêncio, evidentemente em silêncio: não se vai falar de Deus àquela gente. São do outro lado do mundo. São dejectos do mundo, excluídos do prazer dos vivos, como do repouso do mortos. Sabem o suficiente sobre o mundo para compreenderem donde vem este gesto do jovem, para compreenderem que não vem dele, mas de Deus: só o Pequenino pode inclinar-se tão profundamente, com tanta simples graça.
Christian Bobin
Francisco e o Pequenino
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