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- Eles acham que têm o dever de salvar os africanos...
O sol brilhava sobre a prata lisa da lagoa. Ficamos um tempo em silêncio, partilhando a perfeição da tarde. Finalmente Hongolo falou:
- Conheces a história do macaco e do peixe?
Eu não conhecia. Então o quimbanda pôs-se a contar: andava um macaco a passear pela floresta. Movia-se aos saltos pelas árvores, quando topou com uma lagoa como esta e olhando-a, entre o encanto e o susto, porque todos os macacos receiam a água, viu um peixe movendo-se em meio ao lodo espesso, junto à margem. "Que horror!", pensou o macaco, "aquele pequeno animal sem braços nem pernas caiu à água e está a afogar-se." O macaco, que era um bom macaco, ficou numa grande angústia. Queria saltar e salvar o animalzinho, mas o terror impedia-o. Por fim, encheu-se de coragem, mergulhou, agarrou o peixe e atirou-o para a margem. Conseguiu içar-se para terra firme e ficou ali, alegre, vendo o peixe aos saltos. "Fiz uma boa ação", pensou, "vejam como está feliz!"
Ri-me. Rimo-nos os dois.
- O que eu mais receio - continuou o quimbanda depois que paramos de rir - é que os próprios peixes comecem a acreditar nos macacos.

José Eduardo Agualusa

A RAINHA GINGA

E de como os africanos inventaram o mundo

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