No segundo aniversário da Exortação Amoris Laetitia, entrevistámos o jesuíta Diego Fares, amigo de longa data de Jorge Bergoglio, o Papa Francisco. O discernimento, a pedra de toque do atual pontificado, é o tema principal da conversa.(...)
Olhando para o pontificado do Papa Francisco, em que pontos se sente essa atitude de discernimento mais presente?
Em todos. Por um lado, o discernimento é algo que estamos vivendo. Por outro lado, o Papa diz que não se discernem as ideias, as ideias discutem-se. Discernem-se as situações.
As ideias estão sempre em movimento, dependem da cultura, da filosofia, do paradigma que se segue, ainda mais nesta época em que temos paradigmas misturados, confusos. Quando o Papa diz que é preciso discernir, não está a dizer para se ir contra as ideias, mas está a chamar-nos a discernir como é que essas ideias se podem viver na vida quotidiana. Nesse sentido, não há nenhuma diferença com o que fez o Senhor, por exemplo, quando disse à mulher adúltera: “se ninguém te condenou, também eu não vou fazê-lo”. Se nos colocamos apenas ao nível das ideias, é possível perguntar-se: mas ele estava a favor ou contra a lei? E se houvesse jornalistas talvez se tivesse escrito que Jesus tinha ignorado a lei que mandava apedrejar as mulheres adúlteras (risos). O que fez o Senhor foi suspender a discussão e deixar que a pessoa se reerguesse. Depois, a lei sempre voltou a reconstituir-se. No fundo, é como numa casa de família, a mãe sempre perdoa e deixa começar de novo. Se a mãe fosse implacável a aplicar a lei em sua casa, nenhum filho poderia resistir (risos). O processo de discernimento é, assim, com reta intenção, considerar que passo ou outro pode dar neste momento, confiando que se ele dá um passo ao encontro de Jesus, depois poderá voltar à lei e, eventualmente, até se tornar mais exigente consigo próprio.
Ponto Sj
Pe. José Maria Brito, sj
Rita Carvalho
7 de Abril de 2018
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