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A mostrar mensagens de outubro, 2019
Não, não tens o mar nos olhos Não, não tens Nem o horizonte, nem o vento Tens as estrelas, as planícies e os cajueiros PO
Aqui há tempos, num blogue "dedicado à poesia", vi-me deste modo referido: Rui Pires Cabral (1967- ) e confesso que a lacuna no parêntesis me causou certa impressão. Como os aborígenes do Outback australiano que não vêem as estrelas mas o espaço negro entre elas, também eu, por um instante, nada mais vi no ecrã que esse vazio. Porque era, na verdade, a minha morte que ali estava, na zelosa antecedência de um gravador de lápides virtuais. Não ignoro, claro está, que o meu dia há-de chegar (ou melhor, a minha noite), mas não deixa de ser estranho ver que alguém, algures na rede (e enquanto eu me desunho para me manter à tona, nos versos como na vida), já previne, calmamente, aquela segunda data que há-de preencher o hiato e completar o registo. Rui Pires Cabral
Sobes a um miradouro para ver tudo isto: talvez a cidade não seja assim tão branca mas também ocre e rosa e amarelo torrado, e gostes mais das ruas ao vê-las de cima, no seu desenho, e penses que o rio é mais azul quando surge ao fundo de uma rua, por entre as casas, e não assim, completo, e talvez vejas parques e igrejas que respiram a pequena azáfama diurna, e talvez nascer aqui tenha sido um acidente, e não guardes um vínculo mas uma afeição que nasce do hábito e da tranquilidade, e descubras que és um estranho entre as gentes (não conheces mais de um terço do que vês e chamas-lhe a tua cidade). Ainda assim sabes que há outros miradouros e que as pessoas aí também não olham para a cidade mas umas para as outras. Umas para as outras. Umas para as outras. Pedro Mexia