Quatro anos depois voltei a visitar Nguezi. Estava bastante doente e completamente cego. Perguntei por que razão se tinha recusado a deslocar-se à cidade. A reposta dele foi: não fui porque tinha medo de ver o mar.
(...)
Na altura, confesso, tive medo que o caçador pedisse que lhe explicasse o que era o mar. Esse medo que então senti é o mesmo que sinto hoje diante da autossuficiência de um certo discurso científico. O mar, o amor, a paixão, a beleza e tantas outras entidades só têm explicação se foram vazadas de vida. É desta simplificação que tenho medo.
Mia Couto
Conferência de abertura do Brain Congress, Brasil, 2017
O universo num grão de areia
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