Mas para mim, o contacto com os livros era um prazer velho e humano, porque era uma razão humana de vida: o lucro que daí viesse era um acréscimo, não um fim. No entanto, nas minhas relações novas com os livros havia uma desarranjo difícil de acertar. Porque um livro que eu comprasse era um livro resgatado, um objecto de preço. Ou não bem objecto, uma presença de mim, uma transfusão do que sou. Subterrâneas vozes em muralhas de silêncio erguidas à volta do meu quarto, eles eram o modo múltiplo de eu poder abrir-me à vida. Mas, agora, ao balcão, a redimi-lo da degradação: eram os outros. Trocava o que não tem preço por moedas para a caixa.
Vergílio Ferreira, in Estrela Polar
Vergílio Ferreira, in Estrela Polar
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