Por Vítor Belanciano
A palavra Facebook estava presente num terço das petições de divórcio durante 2011 no Reino Unido, ou seja, cerca de 28 milhões de desavenças, enquanto nos EUA a rede social foi apontada como causa de 20% das separações, apontava um estudo surgido há duas semanas, que foi muito comentado na imprensa mundial.
Estudos deste género têm sido frequentes ao longo dos últimos anos, o que é revelador do grau de excepcionalidade com que as redes sociais ainda são encaradas. Podem existir mil razões para divórcios, mas o Facebook não é garantidamente uma delas. Pode ser melhor ou pior integrado na vida de cada um, e por consequência do casal, mas é preciso não confundir o meio, com todas as novas implicações, com o seu uso.
A maior parte de nós ainda fala de "espaço virtual" e de "espaço real" quando quer distinguir a sua presença na Internet. Mas faz sentido? Na sexta-feira, enquanto assistia a um concerto, ao meu lado havia quem comentasse no Facebook o que via e colocasse fotografias do mesmo. No dia seguinte, enquanto me movia fisicamente no espaço, através do Alfa, na direcção do Porto, olhei em redor e, mais uma vez, havia muitas pessoas no Facebook. Mais do que a dicotomia "real" e "virtual", vivemos numa realidade mista, na qual o real é amplificado e mudado pelo virtual.
A vida desenvolve-se numa contínua justaposição de espaços reais e digitais, o que nos obriga a reflectir sobre a natureza da realidade em que vivemos e de que forma altera o entendimento do corpo, das relações sociais e do espaço.
O espaço torna-se híbrido, e exemplo disso é a separação entre privado e público, que tem estado em contínua redefinição. Antes da Internet, a fronteira era nítida. Agora podemos projectar o espaço privado na rede, ou seja, num contexto público. Nas redes sociais, essas categorias não se diluem, mas reconfiguram-se. Interrogamo-nos continuamente sobre esses limites. Correm-se riscos. Experimenta-se. Aprende-se e erra-se. Não é fácil encontrar o equilíbrio. Mas não existe nenhuma solução perfeita.
O mesmo se poderia dizer sobre o conceito de amizade, que tendemos a pensar enquanto vínculo desapegado, privado e cooperante. Na rede, sobrepõe-se um outro tipo de ligação utilitarista, que origina uma colaboração não regular. Na amizade clássica, a relação é sempre recíproca, não somos amigos de quem não é nosso amigo. No Facebook ou no Twitter, podemos seguir alguém que não nos segue.
No início, prevalecem os contactos entre pessoas que são importantes para nós. Os laços fortes. De seguida, tornamo-nos amigos de amigos, ampliamos o círculo dos laços fracos e entramos em contacto com ambientes que, anteriormente, nos estavam vedados, alargando a orgânica clássica - seja a família, o trabalho ou o país.
Não vale a pena demonizar as redes sociais, nem romantizá-las. Tal como os divórcios não são provocados pelo Facebook, também as revoluções não são feitas pelas redes. São feitas pelas pessoas, suas ideias e energia. As redes potenciam a coordenação, a troca, e ampliam o raio de acção. Não se substituem ao real. Sobrepõem-se.
Estudos deste género têm sido frequentes ao longo dos últimos anos, o que é revelador do grau de excepcionalidade com que as redes sociais ainda são encaradas. Podem existir mil razões para divórcios, mas o Facebook não é garantidamente uma delas. Pode ser melhor ou pior integrado na vida de cada um, e por consequência do casal, mas é preciso não confundir o meio, com todas as novas implicações, com o seu uso.
A maior parte de nós ainda fala de "espaço virtual" e de "espaço real" quando quer distinguir a sua presença na Internet. Mas faz sentido? Na sexta-feira, enquanto assistia a um concerto, ao meu lado havia quem comentasse no Facebook o que via e colocasse fotografias do mesmo. No dia seguinte, enquanto me movia fisicamente no espaço, através do Alfa, na direcção do Porto, olhei em redor e, mais uma vez, havia muitas pessoas no Facebook. Mais do que a dicotomia "real" e "virtual", vivemos numa realidade mista, na qual o real é amplificado e mudado pelo virtual.
A vida desenvolve-se numa contínua justaposição de espaços reais e digitais, o que nos obriga a reflectir sobre a natureza da realidade em que vivemos e de que forma altera o entendimento do corpo, das relações sociais e do espaço.
O espaço torna-se híbrido, e exemplo disso é a separação entre privado e público, que tem estado em contínua redefinição. Antes da Internet, a fronteira era nítida. Agora podemos projectar o espaço privado na rede, ou seja, num contexto público. Nas redes sociais, essas categorias não se diluem, mas reconfiguram-se. Interrogamo-nos continuamente sobre esses limites. Correm-se riscos. Experimenta-se. Aprende-se e erra-se. Não é fácil encontrar o equilíbrio. Mas não existe nenhuma solução perfeita.
O mesmo se poderia dizer sobre o conceito de amizade, que tendemos a pensar enquanto vínculo desapegado, privado e cooperante. Na rede, sobrepõe-se um outro tipo de ligação utilitarista, que origina uma colaboração não regular. Na amizade clássica, a relação é sempre recíproca, não somos amigos de quem não é nosso amigo. No Facebook ou no Twitter, podemos seguir alguém que não nos segue.
No início, prevalecem os contactos entre pessoas que são importantes para nós. Os laços fortes. De seguida, tornamo-nos amigos de amigos, ampliamos o círculo dos laços fracos e entramos em contacto com ambientes que, anteriormente, nos estavam vedados, alargando a orgânica clássica - seja a família, o trabalho ou o país.
Não vale a pena demonizar as redes sociais, nem romantizá-las. Tal como os divórcios não são provocados pelo Facebook, também as revoluções não são feitas pelas redes. São feitas pelas pessoas, suas ideias e energia. As redes potenciam a coordenação, a troca, e ampliam o raio de acção. Não se substituem ao real. Sobrepõem-se.
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