As pessoas felizes são aquelas capazes de dedicar-se a alegrias que não lhes pertencem. De conspirar discretamente para que elas aconteçam. De favorecê-las de muitas maneiras. E, por fim, de apagar-se para dar-lhes todo o lugar. Acho que me encontrei uma única vez com Miguel Esteves Cardoso. Foi, inclusive, um desses encontros de acaso: eu i-a almoçar com um amigo e encontrei-o num restaurante, pronto para fazer o mesmo com um amigo seu, que era meu também. Rapidamente, as mesas para dois transformaram-se numa única mesa maior. E assim ficámos, fazendo aquilo que à mesa de faz: alimentando-nos da comida, mas igualmente (ou sobretudo) da presença, esperada e inesperada, uns dos outros. O Miguel Esteves Cardoso estava nessa altura com um projeto de um livro sobre um mestre de cozinha japonês, que fez questão de tratar, ele próprio, de tudo aquilo que nos foi servido. Recordo-me que, no breve tempo que durou a refeição, aprendi imensas coisas sobre aquele mundo. Aprendi, por exemp...