1.
Adiro à tua mão como ter nome,
como ter medo e osso de ser homem.
Nas noites, essas luzes que me comem
são os olhos fechados desta fome.
Alicio a cidade como em jura,
ou exorcismo, ou esbracejar quieto.
Respiras baixo e tomas-me desperto
dos anos de silêncio e de secura.
Quando não falas falas, e conheces
as palavras que digo e não digo.
No teu gesto de lar em que me aqueces
são as ilhas achadas; e prossigo
a viagem sozinho, em que te esqueces
de mim, amor, teu nado-vivo amigo.
2.
Formado em direito e solidão,
às escuras te busco enquanto a chuva brilha.
É verdade que olhas, é verdade que dizes.
Que todos temos medo e água pura.
A que deuses te devo, se te devo,
que espanto é este, se há razão para ele?
Como te busco então se estás aqui,
ou, se não estás, porque te quero tida?
Quais olhos e qual noite?
Aquela
em que estiveste por me dizeres o nome.
3.
Por me dizeres o nome nascem fontes
noutro lugar do dia e verdadeiro.
E as ilhas são irmos para elas,
são montes de silêncio e liberdade
que levamos na boca e em segredo
nos nossos dedos cegos e cientes.
No fundo, não procuro nem procuras;
é na viagem mesma que nos temos.
PEDRO TAMEN, in RETÁBULO DAS MATÉRIAS, POESIA 1956-2001 (Gótica, 2001)
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