Procuro um lugar. Não sei para onde vou. Sento-me, inquieta. Ruídos distantes perturbam-me. Olham-me, invadem-me sem a mínima discrição. Atento nos seus rostos, procuro neles a minha resposta. Assustam-me, não sei mas do que o meu próprio rosto, trémulo.
Entrelaço os dedos, frios, sinto apenas o coração latejante. O fogo consome-me. Ardo, frágil, procuro-me, caminho por entre o pouco espaço daqueles que viajam comigo. Para onde nos levam? Quem nos leva? Sustenho-me no fundo da carruagem, vejo-lhes apenas as silhuetas, disformes, perecíveis à mínima hesitação da linha.
Tomo a minha vida no coração, que ninguém ouse entrar agora. Recordo-me de palavras soltas, silêncios que as intercalam quando estas não mais não servem, das tendas de bolso que larguei em cumes de montanha para que os momentos se eternizassem e aqueles olhares e aqueles sorrisos e a ilusão de que os tinha fosse minha para sempre. Ouço o mar a trazer-me de volta, sinto-os a apertarem-me contra o peito, os dias felizes regressam-me. E a pouco e pouco surgem os sonhos, galopantes, com a promessa da conquista dos castelos de areia que só o vento escondido derruba. Um vento de deserto.
Ergo-me, recosto-me no ombro de quem se retrai. Tem lume?, pergunto-lhe. Preciso de ver o que está cá dentro.
Patrícia Oliveira
Março, 2012
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