Nunca tive pena de não ter casado. Poupei-me às histórias tristes das minhas amigas, em que se ouve o tecido das relações humanas a esgarçar-se devagarinho, ao longo do tempo. Tornei-me uma especialista em homens impossíveis. E a minha filha Natália segue-me os passos, até porque os homens impossíveis crescem na proporção contrária às possibilidades do mundo. Ambas somos herdeiras de uma ausência que está para além do nosso controlo ou da nossa compreensão. A sombra de Danielle, a sombra de Xavier, atravessam-se entre nós e o mundo, secam-nos a atmosfera como uma silenciosa e constante tempestade de areia. Pensei que as imagens me poderiam curar, que poderia colar os instantâneos do mundo sobre o sangue do meu coração e fazê-lo parar. Pensei que o amor podia ser domesticado e o lado negro do instinto maternal racionalizado. Pensei de mais. Tudo está escrito no espaços brancos que ficam entre uma palavra e a seguinte. O resto não importa.
nas tuas mãos,
inês pedrosa
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