Frederico Lourenço
O leitor do mundo
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-leitor-do-mundo-1666207
ANABELA MOTA RIBEIRO (Texto)
E andámos de roda dos antigos. E falámos de Heitor e Aquiles como se fossem — como são — pessoas como nós. Do que acalma a dor do mundo. Do sofrimento como condição inelutável do humano. De aceitar que as coisas tenham sido como foram. Falámos da vida de Frederico Lourenço a partir dos antigos e nisto falámos da nossa. Deste tempo.
(...)
Tem algum verso de que goste muito?
Há um verso da Ilíada que é dos mais importantes da minha vida. Aparece duas vezes, diz o seguinte: “A estas coisas permitiremos o terem sido”. Aquiles olha para trás, para as coisas que estão para trás na vida dele, depois de as enumerar.
É uma forma de dizer...
Vou aceitar que o passado existiu desta forma, não vou entrar em luta com o que foi o passado, vou centrar-me no agora e no futuro. Esse verso é de uma profundidade espantosa. Não é óbvio. Muitas vezes estamos ainda a lutar com os anos que já passaram. Estamos a tentar entendê-los.
A fazer as pazes.
Sim. Chegar a esse ponto, de permitir que o passado tenha sido assim, é de absoluta lucidez.
Comentários
Enviar um comentário