Acredito muito na resistência pelos detalhes, começando pelas pequenas coisas. Aqui no gabinete detenho o título da secretária mais organizada, mudei várias vezes de escritório e de colegas ,mas mantive o título. Quando se trata de gestão de tempo ou organização os meus genes são mais alemães do que um icebergue nos polos e não é raro o dia em que não me peçam para ser personal coach. Fiquei a matutar nisto. A multiplicação de termos como coach diz tanto acerca dos adultos que alguns se tornaram.
Vivemos uma era de adultos infantilizados que parecem precisar de alguém que lhe ensine a comer de forma saudável, a correr, a fazer amigos, a namorar, a organizar as gavetas. Ao reduzirmo-nos a adultos que precisam de amas – no fundo os coachs não passam de nannys – por total incapacidade de lidar com qualquer aspecto da vida, do sentimental ao profissional, de que prescindimos? Sobretudo da responsabilidade. E das escolhas que incluem frustrações e perdas por vezes. A vida é risco.“A falta de controle sobre o vivido não é uma maldição. Ao contrário, ela nos liberta. Se não ficamos perdendo tempo tentando antecipar e planejar cada passo, podemos nos dedicar apenas a viver. Sem postergar, sem adiar, sem deixar para depois“, palavras de Eliane Brum.
Cresci na “rua“ – no jardim da minha casa em Bissau, ao colo de guerrilheiros do PAIGC, na quinta da avó, em brincadeiras com os vizinhos em Lisboa – a dieta mediterrânica foi-me introduzida pela Avó Emília e as suas memoráveis sopas de legumes, aprendi a correr e a esfolar os joelhos com os primos, a trepar às arvores do Jardim Botânico da Ajuda com a Cristina, a arrumação transmitiu-ma a Mãe, os namoros foram acontecendo – a felicidade não é eterna, mas a desistência pode ser para sempre – e amizades construiram-se. Sem coach, mas com escolhas.
https://camalees.wordpress.com/2017/03/14/resistencia/
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