Desde 1979 que não mais comemorámos esta data, o dia de hoje, 27 de fevereiro. Mas é uma data que não podíamos esquecer e todos os anos era motivo de conversa breve. Neste dia, em 1933, nascia em São João da Ribeira, meu pai, Ruy Belo. Haveria de partir 45 anos depois, em agosto de 1978. Hoje passam dez dias sobre a morte de minha mãe, Teresa Belo. É o fim de um tempo para mim e para os meus irmãos Catarina e Diogo. O meu pai deixou, em poemas, palavras sobre o amor, sobre o tempo, sobre a morte, sobre tantas coisas, sobre o cosmos presente num quotidiano errático. Minha mãe desenhou caminhos para a liberdade, mostrou-nos, aos quatro, a força e a determinação da alegria, da vontade, da coragem. Transmitia-nos uma energia enigmática, funda, irrecusável. Era esta uma das suas faces. Era uma generosidade que não queria retorno. Silêncio. Ensinou-nos o que não se explica, o intraduzível em palavras, talvez em coisa nenhuma, uma condição de humanidade em aberto, onde o futuro é vislumbrado pela curiosidade e pela criatividade. Mostrou-nos a arte da vida, mesmo nos momentos mais duros e difíceis. Deixou-nos a dignidade maior.
Duarte Belo
http://cidadeinfinita.blogspot.pt/search?q=PAI
Comentários
Enviar um comentário