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A vida dele (Abraão) parecia resolvida. Ora, a Fé começa por ser, precisamente, desafio a transcendermos a resolução individual da nossa existência, ou as formas pretensamente definitivas que construímos para ela, e nos abrirmos, até ao fim, ao impacto das surpresas de Deus. A Fé desinstala-nos para vivermos na dependência de Deus. Não há parques de estacionamento espirituais. Há sim a chamada ininterrupta a experimentar a itinerância de uma Promessa que é maior do que nós.
(...) Nem por acaso o modelo da Fé é um ancião que se torna viajante, um aposentado que se faz à estrada, um homem que em princípio devia estar a viver do rendimento dos seus bens e que Deus manda olhar para os vastos céus, como se ele fosse um jovem enamorado, cheio de futuro, com as mãos vazias e os olhos cheios. Mas a Fé quer-nos assim, o crente é assim: um peregrino com as mãos pobres e vazias e os olhos cheios.

Pe. José Tolentino Mendonça,
in O Tesouro escondido

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