SEXTA-FEIRA, OUTUBRO 12, 2012
Necessito amar. Mas cortam-me as pernas do amor, para que o amor não ande. Digo-o com todas as primeiras e segundas intenções. Digo-o, porque neste exacto momento tenho uma mão aberta, com os dedos afastados. Fecho-a, e apesar de fechada, tudo me foge da mão, por entre os dedos. E fica apenas o punho fechado. Sai-me da boca e da vontade sem querer. Deus criou-nos assim, com esta vontade infinita de amar. Afinal, é o amor que nos traz a felicidade e Deus quer-nos felizes. Saímos do seminário com esta certeza de que temos de amar a todos, mesmo que isso implique não amar ninguém. E vamos fazendo assim o nosso sacerdócio. Convenhamos que alguns constroem essa casa com uma série de janelas abertas. E não aponto nenhum dedo, pois tenho a mão fechada. Aproveito e fecho também as cortinas. Dizem-nos que para o sacerdócio só há esta porta. E eu acredito nisso, em sentido figurado. Mas todos necessitamos amar, em sentido real. Faz parte da nossa essência de seres finitos que procuram o infinito numa entrega, numa partilha, numa forma de se não ser sozinho no mundo. E tu que fazes, Senhor? Dás-nos uma família. Mas precisamos mais. Dás-nos uma irmandade a que chamas presbitério. Mas é uma virtualidade do amor. Dás-nos uns amigos, como eu costumo dizer, do peito. Mas também esses a vida nos afasta. Porque mudamos de poiso e nada é eterno senão Tu. Porque a vida é simplesmente assim. O que eu acho bonito no meio disto tudo, é que o amor, para ser valioso, tal como tudo o que tem valor, tem de ser procurado. Mas estou para aqui há um ano, e sinto falta desses amigos do peito. Não os perdi. Só estão longe. E é assim quem, em nome de Deus, tem de ou devia ser perfeito.
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