Quem se faz prisioneiro do que recebeu, falha contra a criatividade da fidelidade e o exigente exercício da liberdade historicamente situada. Quem se faz ideólogo da novidade permanente, da autofundação e da autonomia absoluta, esquece que ninguém é pai sem, primeiro, ter sido filho, e que não há árvores sem raízes, nem promessas sem memória, nem crescimento sem espera, nem liberdade sem alteridade. Quem vive, apenas, de olhos postos no alto, perde o pé da existência corpórea, do presente e do finito. Vivendo na abstração de um mundo espiritualmente perfeito e puro, falha contra a lentidão do tempo, a espiritualidade da matéria, a concretude das relações. Quem, pelo contrário, anda cabisbaixo e olhar por terra, acaba, facilmente, amarrado ao lado amorfo e triste das próprias impossibilidades e temores. Entre-tanto, pelo exercício de se compreender e de se narrar na confluência de tantas dimensões - entre o eu e o outro, o mundo e o absoluto, os factos e a palavra, a graça e o limite...