Deixar-se ser amada já é muito bom. Amar é sempre melhor.
O amor é o que fica depois de a vida ter tirado tudo o que pode tirar. O amor é o resto glorioso que consegue permanecer — e ser permanente —, quando tudo o que resta é retirado.
Mesmo quando tudo fica pó ou pedra (como no perfeito poema An Arundel Tomb de Larkin), o ser quase verdade já chega: "De nós sobreviverá só o amor."
Ler bons poemas afecta a vontade de viver. Os muito bons tiram-na. Larkin foi corajoso, mas é sempre tão cuidadosamente céptico, tão desejoso de chegar a uma espécie popular de verdade, que é sempre inglesmente derrotista e previsivelmente self-deprecating. Daí ser preciso fazer um esforço para não o ler entre as linhas.
Ele sabia o valor do verso final "[:]What will survive of us is love." Sabia que era esse o verso que entraria nos dicionários de citações: mais uma ambição do que uma surpresa, para quem escreve muito bem.
O amor, enquanto nos destrói, levanta-nos para levarmos mais. Põe-nos a jeito. A pessoa que amamos pode não mandar em nós, mas o amor que temos por ela (ou ele) manda violentamente em nós. Ser amado é um sonho longínquo, que seria delicioso. Mas quem ama de verdade já prescindiu desse luxo idiota: sorte, sorte é ter a sorte de poder amar, diária, concreta e fisicamente, a pessoa que se ama. Se essa pessoa consentir (para aí 65%), a euforia amorosa está ganha.
A verdade é que, quando se ama de verdade, a pessoa que se ama não é muito importante.
Deixar-se ser amada já é muito bom. Amar é sempre melhor.
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/amar-e-ter-ganho-1694819
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