No outro dia questionava-me sobre o tipo de pessoas que andam por Roma, nomeadamente aqui à volta de casa. Resolvi fazer um teste, em dois pequenos passeios, a olhar para o que as pessoas levavam nas mãos e a tentar perceber mais sobre cada uma. É uma estatística amadora, e sem grandes critérios científicos. Apenas anotei o que as pessoas que se cruzavam comigo traziam nas mãos. No final tenho uma amostragem de 180 pessoas. Quais as três coisas que as pessoas que andam no centro de Roma mais trazem nas mãos? Quem quer escrever numa folhinha de papel a sua aposta, antes de ler mais? (sacos e malas de senhora não contam que não se sabe o que vai lá dentro e são a enorme maioria, verdadeiramente incontável!) Eis os resultados do que anda nas mãos das pessoas no centro de Roma:
Capacete: 1%
Jornal: 2%
Flor: 2%
Cão: 3%
Filha(o): 4%
Gelado: 5%
Água: 6%
Cigarro: 8%
Namorada(o): 9%
Máquina fotográfica: 10%
Mapa: 22%
Telemóvel: 28%
Desta amostragem poderiam, como em qualquer estatística, sair conclusões muito imbecis, como dizer que em Roma se fuma mais do que se bebe água, ou que as pessoas gostam um bocadinho mais de ir passear os filhos que os cães, ou que do que as pessoas que estão em Roma querem mesmo é saber dos telemóveis, ou ainda que mais vale um gelado na mão que uma flor. A mim o que me chamou mais a atenção foi a percentagem de gente perdida. Ou então que se quer encontrar. Ou que quer saber por onde anda. Ou então que quer encontrar alguma coisa. Por isso é que trazem um mapa nas mãos. E olham para ele, e discutem opções. Diria que é uma forma inconsciente e primária de discernimento. De facto as pessoas quando vêm a Roma querem encontrar-se. Confrontando-se com a arte, com as igrejas, com a História, acabam por se confrontar consigo mesmas, com a sua história pessoal, e têm de lhes responder. Podem desistir dessa resposta, mas a questão foi colocada e ninguém sai indiferente. Agora em tempo Pascal entram milhares de peregrinos em Roma. Também eles vêm ao encontro. Aos magotes. Às vezes nem sabendo ao que vêm, mas com uma fé de que Roma lhes possa dar algo mais, ao menos uma esperança. E Roma dá! Afinal, Deus, por aqui, também anda connosco nas mãos. | |
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Talvez eu seja O sonho de mim mesma. Criatura-ninguém Espelhismo de outra Tão em sigilo e extrema Tão sem medida Densa e clandestina Que a bem da vida A carne se fez sombra. Talvez eu seja tu mesmo Tua soberba e afronta. E o retrato De muitas inalcançáveis Coisas mortas. Talvez não seja. E ínfima, tangente Aspire indefinida Um infinito de sonhos E de vidas. HILDA HILST Cantares de perda e predileção, 1983
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