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A lição norueguesa

Por Miguel Esteves Cardoso

Anders Breivik (AB) não é norueguês. Não tem nada de norueguês. É um chacinador de noruegueses. Se tivesse nascido em Marrocos, também não seria marroquino - apenas um chacinador de marroquinos. Se tivesse nascido em Portugal, seria um assassino de democratas portugueses.

A reacção dos noruegueses ao julgamento de um indivíduo que é isento de qualquer qualidade humana - muito menos animal - é uma lição dada ao mundo. Tratando-o como um ser humano, com os mesmos direitos que qualquer ser humano, mostram o que é bonito e fácil para os seres humanos verdadeiramente civilizados.

Eu sou menos civilizado. Não o matava nem prendia para sempre - mas punha-o a trabalhar forçadamente, de borla, nos esgotos do mais malcheiroso país de fé islâmica. Só por favor e misericórdia. Garantindo que o trabalho dele, movendo merda de um buraco para outro, fosse útil, mas solitário.

Os noruegueses, com a reacção deles, civilizaram-me; fizeram-me sentir mal. AB não é norueguês, mas é um cidadão e um ser humano. É essa a maior ofensa que se pode oferecer: tratá-lo como se fosse um idiota normal, que faz o que fez por ser estúpido.

No PÚBLICO de ontem, o título certeiro da notícia era "Sem remorsos, [AB] disse que, se pudesse, faria tudo outra vez". Rita Siza contou que "um dos três "juízes-leigos" que compõem o colectivo foi afastado por ter defendido a aplicação da pena de morte a [AB]". É assim que se defende a vida. Dando-lhe o valor que tem.

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