Sou mais desta linha: da antropologia chegamos à teologia. [Sei que me arrisco à heresia, mas como é difícil inventar novas, não me preocupo tanto.] Ou seja, tenho esta intuição de que muitas vezes para chegar a Deus é preciso conhecer-me enquanto humano. Às vezes fala-se de orações, espiritualidade, relação com Deus de tal forma que “põe-se o telhado onde ainda não há pilares”. O telhado protege, mas se não tem base… esmaga. Deus não sufoca e por não sufocar nem querer fazê-lo, muito pelo contrário dá Vida, fez questão de encarnar, conhecendo por dentro a humanidade. O Advento é mesmo o tempo para saborear esse desejo de Deus: viver em pleno a humanidade e dessa forma divinizar-nos… mesmo nas coisas mais banais da vida.
Talvez eu seja O sonho de mim mesma. Criatura-ninguém Espelhismo de outra Tão em sigilo e extrema Tão sem medida Densa e clandestina Que a bem da vida A carne se fez sombra. Talvez eu seja tu mesmo Tua soberba e afronta. E o retrato De muitas inalcançáveis Coisas mortas. Talvez não seja. E ínfima, tangente Aspire indefinida Um infinito de sonhos E de vidas. HILDA HILST Cantares de perda e predileção, 1983
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