Visito um lar de idosos no dia de Natal. São olhares vazios de vida (ou cheios de outra vida, quem sabe?) que me fazem pensar na possibilidade do homem ter inventado as técnicas e as máquinas para sobrevivermos — 92 anos, 93 anos, 95 anos — mas ainda não ter inventado, ou sabido fazer as estruturas para que compreendamos o que querem os nossos velhos. Querem que os deixem? Querem morrer? Sabem que é Natal e não têm paciência para a data? Nem sabem que época é, apesar de as televisões sempre acesas? O mundo infantilizado que assistentes, enfermeiras e funcionárias criam à volta destes velhotes — palavras cheias de inhos e inhas — é do seu agrado? Ou detestam, pura e simplesmente o que têm? Não se expressam porque não podem ou porque não querem? Temos os meios de prolongar a vida, mas não sabemos o que havemos de fazer com ela. Ou, então, optimisticamente, direi que estes nossos velhos são os pioneiros de um outro mundo onde todos nos compreenderemos e seremos úteis. Hoje os velhos fazem-nos falta se partirem e fazem-nos pena quando ficam.
Henrique monteiro
http://www.escreveretriste.com/2013/12/vida-e-maquinas/
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