Cego: o incrível dom da vista, mas cego perante tantas coisas… Morto: tanta vida oferecida, mas tantos momentos sem viver a fundo. Traidor: o meu melhor amigo, e em tantas ocasiões negado. Juiz: tanta bondade sem preço, e por tantas sem-razões julgado. Testemunha indiferente: o milagre do teu só olhar, e por tantos vãos motivos não implicado. Incrédulo: tanta divindade manifestada, e falto de fé por tantas vulgares ocupações. Olho, e não vejo em mim mais do que outro espinho na tua coroa, outra cruz sobre o teu ombro fadigado, o que te nega três, e mil vezes… E salvas-me a mim também, a MIM: cego, morto, traidor, juiz, indiferente, incrédulo… Quem sou eu, para dares a Tua vida nesse madeiro? O que te move de mim, que amas tanto, que Te das até ao fim? Quem, para o milagre da Tua ressurreição? Mudo, absorto e de joelhos, porque de outra forma não pode ser: e Tu diante, Senhor, e eu contigo. DIEZ, Miguel - “Me salva...