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Cegueira de olhos capazes
Cegos que conseguem ver.
Milagre naquela época, miséria na nossa.

Todos com vista, todos atentos a tanto, mas não a tudo. Não a Ele.
Não consigo apreciar o simples, o humilhado parece-me desfocado.
Não acabo de focar o alheio, nem quase vislumbro o pequeno.
Então sou cego.
Cego de coração. Cego do essencial, tão invisível aos olhos...
Passam os dias, e achando ver, não vejo que nada sinto.

Mas o teu dedo roça-me apenas e já vejo.
Unta com esse lodo teu este barro que eu sou!
Que não desprezo esta vida, mas desejo outra vista!

Abertos os olhos, observo vidas alumiadas por tua Luz...
Creio, Senhor!


In Silencios Guiados - Valladolid, 2008.

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