Cego: o incrível dom da vista,
mas cego perante tantas coisas…
Morto: tanta vida oferecida,
mas tantos momentos sem viver a fundo.
Traidor: o meu melhor amigo,
e em tantas ocasiões negado.
Juiz: tanta bondade sem preço,
e por tantas sem-razões julgado.
Testemunha indiferente: o milagre do teu só olhar,
e por tantos vãos motivos não implicado.
Incrédulo: tanta divindade manifestada,
e falto de fé por tantas vulgares ocupações.
Olho, e não vejo em mim mais do que outro espinho na tua coroa,
outra cruz sobre o teu ombro fadigado,
o que te nega três, e mil vezes…
E salvas-me a mim também,
a MIM:
cego, morto, traidor, juiz, indiferente, incrédulo…
Quem sou eu, para dares a Tua vida nesse madeiro?
O que te move de mim, que amas tanto, que Te das até ao fim?
Quem, para o milagre da Tua ressurreição?
Mudo, absorto e de joelhos, porque de outra forma não pode ser:
e Tu diante, Senhor, e eu contigo.
DIEZ, Miguel - “Me salvas a mi también”, in “Silencios guiados”, 2008 –Valladolid.
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