Ezequiel sabe caminhar em silêncio, como os índios, e consegue aparecer sem se fazer anunciar. É por isso que parece mágico.
Nas noites de Lua cheia nunca se deita na cama. Fica à porta de casa, sentado, e só quando sente os ombros vergar e os olhos quebrar é que se levanta para endireitar as pernas e procurar a esteira prateada que a lua desenha no chão para se estender. Nos dias de Inverno deixa a porta de madeira que cobre a janela quadrada da entrada sempre puxada para trás. Para que a lua espalhe a sua luz dentro de casa e ele possa dormir naquela esteira.
Um dia perguntaram ao Senhor Ezequiel se sabia que havia homens no outro lado do mundo que já tinham ido à Lua. Ouviu em silêncio, cismou naquilo e encolheu os ombros.
-Eles que façam o que quiserem à Lua deles mas deixem a nossa aqui em paz.
Laurinda Alves
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