A reter: A dor dos inocentes é algo de demasiado puro e misterioso para poder ser contido dentro das nossas pobres "explicações".
No Evangelho do II Domingo do Tempo Comum (Ano A), escutamos João Batista que, apresentando Jesus ao mundo, exclama: «Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo!». O cordeiro, na Bíblia, como aliás noutras culturas, é o símbolo do ser inocente, que não pode fazer mal a ninguém, mas apenas o pode receber.
Prosseguindo este simbolismo, a primeira carta de Pedro chama a Cristo «o cordeiro sem mancha», que «ao ser insultado, não respondia com insultos; ao ser maltratado, não ameaçava». Jesus, por outras palavras, é, por excelência, o Inocente que sofre.
Foi escrito que a dor dos inocentes «é a rocha do ateísmo». Após Auschwitz, o problema colocou-se de maneira ainda mais premente. São incontáveis os livros e os argumentos escritos em torno deste tema. Parece que estamos num processo judicial, em que ouvimos a voz do juiz a ordenar ao réu para se levantar. O réu, neste caso, é Deus, a fé.
O que pode a fé responder a tudo isto? Antes de mais, é necessário que nos disponhamos todos, crentes e não crentes, a uma atitude de humildade, porque se a fé é incapaz de "explicar" a dor, a razão ainda o é menos. A dor dos inocentes é algo de demasiado puro e misterioso para poder ser contido dentro das nossas pobres "explicações". Jesus, diante da viúva de Naim e da irmã de Lázaro, não soube fazer melhor do que comover-se e chorar.
A resposta cristã ao problema da dor inocente está contida num nome: Jesus Cristo. Jesus não veio dar-nos doutas explicações sobre a dor, mas veio para a tomar silenciosamente sobre si. Tomando-a sobre si, no entanto, mudou-a por dentro: de sinal de maldição, fez dela instrumento de redenção. Mais: fez dela o valor supremo, a ordem de grandeza mais elevada neste mundo.
Jesus não deu, porém, apenas um sentido à dor inocente; conferiu-lhe também um poder novo, uma misteriosa fecundidade. Olhemos para o que brota do sofrimento de Cristo: a ressurreição e a esperança para todo o género humano. Mas olhemos ao que acontece também à nossa volta. Quanta energia e heroísmo suscita muitas vezes, num casal, a aceitação de um filho deficiente, remetido ao leito durante anos. Quanta solidariedade inesperada em torno deles. Quanta capacidade de amor desconhecida.
O mais importante, no entanto, quando se fala de dor inocente, não é explicá-lo; é não aumentá-la com os nossos atos e com as nossas omissões. E também não chega não aumentar a dor inocente; é preciso igualmente procurar aliviar a que existe.
Diante de uma criança tolhida de frio que chorava de fome, um homem gritou um dia a Deus, do fundo do coração: «Ó Deus, onde estás? Porque não fazes alguma coisa por esta criança inocente?». E Deus respondeu-lhe: «Certamente que fiz algo por ela: fiz-te a ti!».
P. Raniero Cantalamessa
In Lachiesa.it
Trad.: rjm
© SNPC (trad.) | 17.01.14
Comentários
Enviar um comentário