Junto às tias e a esta terra, tudo volta a ser pequenino. O sufixo parece ser anterior às palavras, o menino está cansadinho, a viagem foi boazinha, está tão branquinho, coitadinho. Portugal é assim, diminutivo e manso. O que foi chegando fez-se à escala e por cá ficou, as Indiazinhas, as Americazinhas, os pretitos, pobrezinhos. Os portugueses não querem nada que não possam meter no bolso. Como é que esta gente descobriu tanto mundo?
Os passageiros descem as escadas e alteram-se a cada passo, passam a ser filhos, sobrinhos, maridos e mães. No barco cada um foi o que quis e pôde, feito à medida de sonhos e frustrações, personagem entre actos, entre o ter partido e o ainda não ter chegado. À saída a vida não permite já devaneios e um nome dito por quem o diz é um grito de realidade.
Fernando não foi nada durante a viagem, apenas olhos de ver e uma cabeça de inventar filosofias. Agora é o sobrinho das tias e dá beijos e abraços. Há um grande conforto no encontrar o que se espera e uma coisa deve ser sempre aquilo que é. Lisboa é Lisboa, as tias as tias e faz calor porque o Verão não morreu.
A capital é um país de boca aberta para o rio, uma cidade a cantar modas de outro tempo, sempre de outro tempo. Em Portugal inventou-se o viajar no tempo, mas sempre para o passado, sem nunca se sair de onde um dia se partiu.
No meu peito não cabem pássaros,
Nuno Camarneiro
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