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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2014

O eremita e o jardineiro

Disse um ancião: «Havia um padre que vivia no deserto. Depois de haver servido Deus durante muitos anos, disse: “Senhor, dai-me a conhecer se vos soube satisfazer”. E ele então viu um anjo que lhe disse: “Não estás ainda à altura do jardineiro que vive em certo lugar”. O ancião, estupefacto, disse: “Irei à cidade para visitá-lo. Quem será esse que pôde fazer obras superiores às minhas e suportou os sofrimentos que eu suportei durante tantos anos?”. Partiu e dirigiu-se ao lugar indicado pelo anjo. Viu um homem ocupado a vender legumes. Sentou-se perto dele e já no fim do dia, no momento em que ele se ia embora, disse-lhe: “Não te importas, irmão, de me receber esta noite em tua casa?” O homem aceitou cheio de alegria, e já em casa pôs-se a preparar o jantar para o ancião. E este perguntou-lhe: “Por caridade, irmão, podes dizer-me do que vives?”. O outro teve medo; não queria falar, mas o ancião não se cansava de lhe pedir que dissesse. Finalmente o homem, esgotado, responde
do que quer que nos arrependamos do tempo que vivemos, nunca é do que damos, nunca é do que amamos. Judith Wright (Poetisa Australiana, 1915-2000)

Não te pergunto de onde chegas?

não te pergunto de onde chegas?, porque sei para onde vais.  hoje é a hora exacta em que até o vento  até os pássaros desistem. e a noite a teus pés é um instante e um destino. não te pergunto onde está o teu rosto, tantas vezes ocluso e pisado sob os ramos, onde está o teu rosto? nem te peço que incendeies o teu nome numa nuvem nocturna, nem te procuro. és tu que me encontras. ficas no rio que passa, nada de um tempo que não existe, nem correntes, nem pedra, nem musgo. nem silêncio. José Luís Peixoto
Tira-me a luz dos olhos: continuarei a ver-te Tapa-me os ouvidos: continuarei a ouvir-te E embora sem pés caminharei para ti E já sem boca poderei ainda convocar-te. Arranca-me os braços: continuarei abraçando-te Com o meu coração como com a mão Arranca-me o coração: ficará o cérebro E se o cérebro me incendiares também por fim Hei-de então levar-te no meu sangue. Rainer Maria Rilke a Lou Andreas-Salomé

O outro livro de Job

Além, Mais adiante ainda, Fora do vosso alcance, Mora aquele do meu romance Que não finda… Ali, Onde ninguém o sabe, Recebe a onda perdida E vive, para que a Vida Não acabe… Deserto Onde não há solidão (Cada miragem é uma veia Que recolhe a alma cheia Do que lhe dão…) Sofre Mas a sua dor não é Como a dor de quem não ama, Ou como a pior de quem chama Sem Fé… Chora, Mas o seu pranto não é sal desfeito… As suas lágrimas desumanas são Feitas de humano perdão E respeito… Homem, Foi na Terra que nasceu… Mas libertou-se da terra Como um Guerreiro da guerra Em que morreu… Profeta, Olha de longe as horas do futuro… E as suas visões são belas, E o seu amor é por elas, E é puro… Outro, Nem eu me sei conhecer Nessa grandeza de Santo Onde mora o meu encanto De viver… miguel torga o outro livro de job 1936

Tu, Eu

Tu procuras saber eu não procuro porque sei que nunca saberei Tu queres abrir as portas do conhecimento para fundares a tua integridade Eu entrego-me ao vago e indefinível vagar da luz sobre a página que nunca é um oásis e não conduz ao plácido porto que nela pressentimos Tu desejas ir além das sequências quotidianas eu procuro também um além mas no interior da sombra do meu corpo ao ritmo da respiração para fortalecer a minha incerta identidade Tu não desistes de conhecer a lucidez do centro para que a vida encontre o seu equilíbrio e o seu horizonte Eu não conheço outro horizonte além da vaga claridade que às vezes brilha no silêncio de um abandono ou no fluir das palavras que procuram a nudez Tu procuras algo que transcenda o mundo eu procuro o mundo no mundo ou para aquém dele Eu sei que a fragilidade pode cintilar como uma constelação ou como um delta quando o corpo se entrega sobre as dunas do silêncio Tu queres ser a coluna ou a balança viva do puro equilíbrio que sustenta o mun

Tu eras também uma pequena folha

Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo.   pablo neruda

Somos MISSÃO PAÍS!

Mais um ano, mais um sonho tornado realidade ;-)

"Somos feitos de átomos, dizem os cientistas, mas um passarinho contou-me que também somos feitos de histórias." Eduardo Galeano

És chamado a fazer caminho

Paulo Teia,sj [Secção outros tons] Dou-te talentos: cria. Deixa que as mãos moldem a terra, semeando possibilidades de poemas. Dou-te dons: anuncia. Trabalha a voz, aprende a palavra, nesse canto que evoca paz, perdão e justiça. Dou-te capacidades: serve. Desenrola-te, em rosto frontal e braços dispostos em oferenda, de tempo e de espaço. E se o medo aparecer, poda-o. És chamado a fazer caminho. http://oinsecto.blogspot.pt/2014/11/entre-talentos-dons-e-capacidades.html
"Quero permanecer nesta tempestade e não perder nenhum frémito desta comoção. Quero ter Outono. Quero recobrir-me de Inverno sem me atraiçoar pela menor cor. Quero cobrir-me de neve, preparando-me para a Primavera que há-de vir, de tal modo que aquilo quer germina em mim, não cresça demasiado depressa fora dos sulcos." Rainer Maria Rilke (sobre Lou Andreas-Salomé no seu Diário de Worpswede)
Vida na expectativa Espectáculo sem ensaios. Corpo sem tirar medidas. Cabeça sem reflexão. Não sei o papel que desempenho. Sei apenas que é meu, intransmissível. [...] Wislawa Szymborska
We don't read and write poetry because it's cute. We read and write poetry because we are members of the human race. And the human race is filled with passion. And medicine, law, business, engineering, these are noble pursuits and necessary to sustain life. But poetry, beauty, romance, love, these are what we stay alive for.  Dead Poets Society

Fotografei hoje, na nossa casa em Mesão Frio ;-)

Há muito tempo que não regressava a casa tão feliz!

Foi Deus (Absolutamente magistral!)

Não sei, não sabe ninguém Por que canto o fado Neste tom magoado De dor e de pranto E neste tormento Todo o sofrimento Eu sinto que a alma Cá dentro se acalma Nos versos que canto Foi deus Que deu luz aos olhos Perfumou as rosas Deu oiro ao sol E prata ao luar Foi deus Que me pôs no peito Um rosário de penas Que vou desfiando E choro a cantar E pôs as estrelas no céu E fez o espaço sem fim Deu o luto as andorinhas Ai, e deu-me esta voz a mim Se canto Não sei o que canto Misto de ventura Saudade, ternura E talvez amor Mas sei que cantando Sinto o mesmo quando Se tem um desgosto E o pranto no rosto Nos deixa melhor Foi deus Que deu voz ao vento Luz ao firmamento E deu o azul às ondas do mar foi deus Que me pôs no peito Um rosário de penas Que vou desfiando E choro a cantar Fez poeta o rouxinol Pôs no campo o alecrim Deu as flores à primavera Ai!, e deu-me esta voz a mim.
Many paths lead up the mountain, but at the top we all look at the same bright moon.  Ikkyu (1394-1481), a Japanese Zen Buddhist priest and poet.

Nascem lugares para o amor

“O amor é o sangue do sol dentro do sol. A inocência repetida mil vezes na vontade sincera de desejar que o céu compreenda. Levantam-se tempestades frágeis e delicadas na respiração vegetal do amor. Como uma planta a crescer da terra. O amor é a luz do sol a beber a voz doce dessa planta. Algo dentro de qualquer coisa profunda. O amor é o sentido de todas as palavras impossíveis. Atravessar o interior de uma montanha. Correr pelas horas originais do mundo. O amor é a paz fresca e a combustão de um incêndio dentro, dentro, dentro, dentro, dentro dos dias. Em cada instante de manhã, o céu a deslizar como um rio. À tarde, o sol como uma certeza. O amor é feito de claridade e da seiva das rochas. O amor é feito de mar, de ondas na distância do oceano e de areia eterna. O amor é feito de tantas coisas opostas e verdadeiras. Nascem lugares para o amor e, nesses jardins etéreos, a salvação é uma brisa que cai sobre o rosto suavemente. Eu acreditava mesmo que o amor é o sangue do sol dentro

Todos os anos surpreendem ;-)

Aos primeiros raios de sol na manhã nascente, os búfalos ainda lá estavam. E quando me levantei para os ver, cambaleando ensonado e enregelado, eu, sem o saber ainda, era uma rocha, uma pedra lisa e inocente, imune a ciladas, a emboscadas, aos males do mundo. A noite tinha limpado tudo e a manhã que agora nascia na planície húmida, onde apenas conseguia distinguir os vultos dos búfalos envoltos em nevoeiro, quase que me convencia de ter nascido outra vez, sem nada, absolutamente nada, a pesar nos meus passos. Apenas um coração em África. Ukuhamba, Miguel Sousa Tavares
E é por isso, afinal, que aqui estamos. Para ver de perto um mundo que deixou de ser o nosso há muito tempo atrás e onde hoje somos intrusos, desfasados das leis que outrora também nos regiam, dessas coisas iniciais que então partilhávamos com os bichos: beber antes da noite e ao nascer do dia, caçar durante o dia, proteger as crias, defender o território que é a nossa cas, e afastarmo-nos para morrer sozinhos, quando a inevitabilidade da velhice nos torna apenas um fardo inútil para os outros. E vimos então a África em aviões pressurizados, sobrevoamos num repente as distâncias que antes percorriamos caminhando durante semanas ou meses, dormimos em bungalows confortáveis, assentes sobre estacas para nos porem fora do alcance dos perigos, comemos um pequeno-almoço de luxo que nos espera depois de ir ver se as feras ainda o são verdadeiramente e levamos tudo de volta para casa, arquivado em milhares de fotografias, em cadernos de viagem, em bugigangas feitas de osso de rinoceronte ou,

Há viagens que se fazem por dentro

http://abbyross.com/

Pati

Doce

As cartas dela: diretas, sonhadoras, subtis, sensíveis, justas, concentradas, solidárias...As primeiras cartas do poeta começavam por "Maria Helena" e passam progressivamente para o "Querida Maria Helena"ou "Minha querida Maria Helena". E da parte da pintora o mesmo: "Mário", "Querido Mário", "Querido anjo-daemon". Mais para a frente Cesariny despedia-se repetindo "Miau, Miau, Miau" ou "Seu, seu Cesariny". Maria Helena escrevia: "Um grande abraço", "Muitos abraços e beijos". Com tão pouco, a amizade reinventa o mundo e a sua alegria.” O hipopótamos de Deus e outros textos, Tolentino Mendonça

Há lágrimas arrebatadoramente simples!

I tried to repress it Then I carried its crown I reached out to undress it And love let me down Love let me down… So I tried to erase it But the ink bled right through Almost drove myself crazy When these words led to you And all these useless dreams of living alone Like a dogless bone… So come let me love you Come let me love you And then… colour me in Well I tried to control it And cover it up I reached out to console it It was never enough Never enough… So I tried to forget it That was all part of the show Told myself I'd regret it But what do I know About all these useless dreams of living alone Like a dogless bone… So come let me love you Come let me love you And then… colour me in Come let me love you Come let me take this through the end Of all these useless dreams of living In all these useless dreams All these useless dreams of living In all these old noes Come let me love you Come let me love you Come let me love you Come let me…
“(...) amizade é singularíssima e mune-se de uma desconcertante simplicidade de meios. O traço mais universal da sua gramática é, talvez o da presença: mas esta tanto se faz de muitos encontros, como de poucos; de muitas palavras ou de um silêncio espaçado e confidente; de um telefonema por dia ou por ano; de uma ou de incontáveis atenções… O importante é que tudo isso se torne, a dada altura, uma história que nos acompanha e por onde o essencial da vida passa.” O hipopótamo de Deus e outros textos, Tolentino Mendonça

Creio na nudez da minha vida

Os místicos sabem que Deus se dá ausentando-se. Entre Deus e nós há um espaço vazio. Nós movemo-nos nesse espaço. O essencial está além, só na pobreza da nossa carne e do nosso tempo, que são também carne e tempo de Deus, podemos entrevê-lo. Ver, entrever e experimentá-lo na transparência do instante. Não é fugindo ao banal e ao ordinário, pois ele habita todo o comprimento delicioso e árduo do nosso caminho. Podemos, por isso, entender como uma oração o verso de Sophia de Mello Breyner Andresen, que começa assim: «Creio na nudez da minha vida.» Por difícil e turva que ela se possa revelar, não há via de maior lucidez e transparência para começarmos a viagem espiritual. José Tolentino Mendonça In A mística do instante http://www.snpcultura.org/a_mistica_do_instante.html

Descobrir-se amado

Respirar, viver não é apenas agarrar e libertar o ar, mecanicamente: é existir com, é viver em estado de amor. E, do mesmo modo, aderir ao mistério e entrar no singular, no afetivo. Deus é cúmplice da afetividade: omnipotente e frágil; impassível e passível; transcendente e amoroso; sobrenatural e sensível. A mais louca pretensão crista não está do lado das afirmações metafísicas: ela é simplesmente a fé na ressurreição do corpo. O amor é o verdadeiro despertador dos sentidos. As diversas patologias dos sentidos que anteriormente revisitámos mostram como, quando o amor está ausente, a nossa vitalidade hiberna. Uma das crises mais graves da nossa época é a separação entre conhecimento e amor. A mística dos sentidos, porém, busca aquela ciência que sé se obtém amando. Amar significa abrir-se, romper o círculo do isolamento, habitar esse milagre que é conseguirmos estar plenamente connosco e com o outro. O amor é o degelo. Constrói-se como forma de hospitalidade (o poeta brasileiro M

As coisas boas demoram tempo. Bem-vindo de volta!

I made you laugh, I made you cry I made you open up your eyes Didn't I? I helped you open out your wings, your legs, and many other things Didn't I? Am I the greatest bastard that you know? The only one who let you go? The one you hurt so much you cannot bear? Well we were good, when we were good When we were not misunderstood You helped me love, you helped me live You helped me learn how to forgive Didn't you? I wish that I could say the same But when you left, you left the blame Didn't you? Am I the greatest bastard that you met? The only one you can't forget? Am I the one your truth's been waiting for? Or am I just dreaming once again? Some dreams are better when they end Some make it, mistake it Some force and some will fake it I never meant to let you down Some fret it, forget it Some ruin and some regret it I never meant to let you down We learn to wag and tuck our tails We learn to win and then to fail Didn't we? We learn that lovers love to sing

Também to com sodade di tu!