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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2015

Aqui entre nós: só falta um dia!

À Beleza

Não tens corpo, nem pátria, nem família, Não te curvas ao jugo dos tiranos. Não tens preço na terra dos humanos, Nem o tempo te rói. És a essência dos anos, O que vem e o que foi. És a carne dos deuses, O sorriso das pedras, E a candura do instinto. És aquele alimento De quem, farto de pão, anda faminto. És a graça da vida em toda a parte, Ou em arte, Ou em simples verdade. És o cravo vermelho, Ou a moça no espelho, Que depois de te ver se persuade. És um verso perfeito Que traz consigo a força do que diz. És o jeito Que tem, antes de mestre, o aprendiz. És a beleza, enfim. És o teu nome. Um milagre, uma luz, uma harmonia, Uma linha sem traço... Mas sem corpo, sem pátria e sem família, Tudo repousa em paz no teu regaço. Miguel Torga, in 'Odes'

Hoje encontrei Deus (também) aqui

Porque, por vezes, também o desassossego me habita

Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se-me quando, abrindo a janela para dentro de mim, pude esquecer-me na visão do seu movimento. Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Tudo o que não é meu, por baixo que seja, teve sempre poesia para mim. Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que eu a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minhas próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumavam – quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes da paisagem - uma doçura qu

DEJA QUE SUCEDA

Qué el amor te toque qué la luna salga qué la lluvia moje qué el sol te abrace qué te bese el viento y qué el mar te alcance Deja que suceda qué rompan tus sueños qué un muro te estorbe qué vuelvas a errar qué el alma te duela qué puedas llorar Porque si sucede todo pasará lo bueno, lo malo, lo negro, lo blanco, y en el equilibrio vivirás en paz. Aurora Orozco

Hoje encontrei Deus (também) aqui

O poeta não gosta de palavras

O poeta não gosta de palavras: escreve para se ver livre delas. A palavra torna o poeta pequeno e sem invenção. Quando, sobre o abismo da morte, o poeta escreve terra, na palavra ele se apaga e suja a página de areia. Quando escreve sangue o poeta sangra e a única veia que lhe dói é aquela que ele não sente. Com raiva, o poeta inicia a escrita como um rio desflorando o chão. Cada palavra é um vidro em que se corta. O poeta não quer escrever. Apenas ser escrito. Escrever, talvez, apenas enquanto dorme. Mia Couto

Enviaram-me dizendo "Patrícia, sinto que vais adorar!"

Há dois modos de dar. O primeiro, é quando dou algo 'meu': trata-se de um modo de ‘dar’ louvável mas ainda egocentrado, é um ‘dar’ que alimenta o orgulho; afinal era 'posse minha'. Mas, depois, há o ‘dar’ algo que, embora na minha posse aparente, reconheço que nunca foi realmente ‘meu’: esse é um ‘dar’ livre, que se limita a deixar correr o bem antes recebido. Quando reconheço que recebi a vida e, com ela, tudo o que ela me trouxe, estou livre para voltar a dar de modo livre. E é dando tudo que mais recebo: em vez de tanque ou fonte, o meu coração torna-se torrente. Não há maior dom do que esse. Ver para além do olhar