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A mostrar mensagens de dezembro, 2017
Apesar de tudo, o amor era menos simples do que ele julgava. Era mais forte do que o tempo. O amor, no fim das contas, era feito de inquietações, de renúncias, de pequenas tristezas que surgiam a todo instante. Simone de Beauvoir
Se escrevo ou leio ou desenho ou pinto logo me sinto tão atrasado no que devo à eternidade, que começo a empurrar p’ra diante o tempo e empurro-o, empurro-o à bruta como empurra um atrasado até que cansado me julgo satisfeito. (Tão gémeos são a fadiga e a satisfação!) Em troca, se vou por aí sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo, compreendo tão bem o que não me diz respeito, sinto-me tão chefe do que está fora de mim, dou conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição que não a minha, que, sinceramente, não sei qual é melhor: se estar sozinho em casa a dar à manivela da vida, se ir por ai e ser Rei de tudo o que não é meu. Almada Negreiros
“E, aquele Que não morou nunca em seus próprios abismos Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas Não foi marcado. Não será exposto Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.” Manoel de Barros
Ficar até ao fim, por amor, mesmo quando doer. Enterrar esta pequenina foi das coisas mais difíceis que fiz.  Não doi só po-la dentro dum saco, cavar o buraco, cobri-la com terra, procurar-lhe flores. Não doi só porque aqui quase não há flores. Não doi só abraçar a avó e o pai, não doi só chorar com eles. Não doi só ela ser criança e nem sequer ser suposto as crianças morrerem. Não doi só porque as crianças deviam só viver, brincar, crescer, ir à escola e apanhar elas flores. Não doi só perde-la, não doi só a morte, não doi só ser para sempre. Não doi só por conhece-la, por saber-lhe o nome, o rosto, a história de vida que carrega no coração. Isso doi, muito, mas não é só isso que doi. Doi perceber que estas coisas continuam a acontecer todos os dias e continuamos a perde-los e a cavar buracos todos os dias porque a guerra nos países deles não nos tira a paz a cada um de nós. Porque o caminho que fazem, a fugir, não nos cansa. Porque o medo que sentem não nos assusta nem nos tira
Bernardo é quase árvore. Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe E vêm pousar em seu ombro. Seu olho renova as tardes. Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho; 1 abridor de amanhecer 1 prego que farfalha 1 encolhedor de rios – e 1 esticador de horizontes. (Bernardo consegue esticar o horizonte usando três Fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.) Bernardo desregula a natureza: Seu olho aumenta o poente. (Pode um homem enriquecer a natureza com a sua Incompletude?) Manoel de Barros
Rir é correr risco de parecer tolo. Chorar é correr o risco de parecer sentimental. Estender a mão é correr o risco de se envolver. Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu. Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas. Amar é correr o risco de não ser correspondido. Viver é correr o risco de morrer. Confiar é correr o risco de se decepcionar. Tentar é correr o risco de fracassar. Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada. Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada. Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas elas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem. Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade. Somente a pessoa que corre riscos é livre! Séneca
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Miguel Esteves Cardoso
Se eu não acreditasse mais na vida, se duvidasse da mulher amada, se me desiludisse da ordem das coisas e, pelo contrário, me convencesse de que tudo não passa de um maldito caos, mesmo se caísse sobre mim todos os horrores da desilusão humana: apesar de tudo, eu quereria viver. Se encostei a taça aos lábios, hei de beber até o fim. Dostoiévski
Toda a gente é capaz de sentir os sofrimentos de um amigo. Ver com agrado os seus êxitos exige uma natureza muito mais delicada. Oscar Wilde
Existem três classes de pessoas que são infelizes: a que não sabe e não pergunta, a que sabe e não ensina e a que ensina e não faz. Buda
Todo o animal tem uma alma à medida de si. Só o homem a tem infinitamente maior. E o seu drama, desde sempre, é o de querer preenchê-la. Vergílio Ferreira
Dos meus favoritos desde sempre: Escuto mas não sei Se o que ouço é silêncio Ou deus Escuto sem saber se estou ouvindo O ressoar das planícies do vazio Ou a consciência atenta Que nos confins do universo Me decifra e fita Apenas sei que caminho como quem É olhado amado e conhecido E por isso em cada gesto ponho Solenidade e risco Sophia de Mello Breyner Andresen
Não desafies a alegria. Quando ela chegue um instante só não lhe perguntes porquê? Estende as mãos ávidas para o calor da cinza fria. João José Cochofel

Facing the Brokenness of the Manger

Imagine it – a cozy creche with the shepherds, magi, and animals all in awe of the newborn baby. A joyful mother and father look tenderly upon their new son, Jesus. The star above shines brightly, welcoming the Christ. “Oh Holy Night” rises softly out of the reverent silence. I’m struck by how often we romanticize the manger scene. This romanticization can easily make it more palatable and more comfortable, which also makes my prayer easier. But this romanticized version does not reflect the reality. While I love the peacefulness and ease of the scene, I’m also uncomfortable about how it glosses over reality. Jesus was born into an incredibly broken situation – a mother who would be spurned for accused sexual immorality, a political leader who wanted Jesus dead, and the poor showing up front and center at the birth. I’m left wondering – what does it mean to have a real Christmas story? A Christmas story that is not romanticized, but speaks to this reality. **** Here are severa
O Advento ajuda-nos a preparar o nascimento da Luz que vem novamente iluminar novas perspectivas de humanidade. Em sol que nasce para todos, vem eliminar a antiga separação de puros e impuros, de elevados e rebaixados, de melhores e piores. Diante de Deus, dissolve-se toda e qualquer separação de humanidade. No entanto, Ele continua a precisar de nascer, de fazer-se carne como nós para nos resgatar de toda a divisão. Seria mais fácil, mais mais desumano, se vivêssemos em bolhas, onde gente aparentemente pura nem se aproximava da impura. Esta pureza pode ser retratada, não só em termos de higiene, como em modos de pensar ou de viver. Há que afastar das pessoas da má-vida, para não se ser corrompido com maus exemplos. Mas, que melhor exemplo podemos dar para além da proximidade no respeito pelo outro? Há dias vi um cartoon: uma mãe dizia ao filho pequeno ao ver um pedinte: “estuda muito para não teres uma vida como a dele.” Outra mãe, ao lado, dizia ao filho pequeno ao ver o mesmo

Coisas que têm quereres

Sei que seria possível construir o mundo justo As cidades poderiam ser claras e lavadas Pelo canto dos espaços e das fontes O céu o mar e a terra estão prontos A saciar a nossa fome do terrestre A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia Cada dia a cada um a liberdade e o reino — Na concha na flor no homem e no fruto Se nada adoecer a própria forma é justa E no todo se integra como palavra em verso Sei que seria possível construir a forma justa De uma cidade humana que fosse Fiel à perfeição do universo Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
Tenho sempre, na algibeira da noite, algumas vigorosas perguntas de reserva, prontas a disparar em legítima defesa contra o negrume. Algumas são pequeninas, vulgares aspectos de pormenor. Outras, pelo contrário, são enormes, desabridas como a boca dum forno - do género porque é que deste quatro, e não seis, ou oito, pernas à rã. Hoje ocorre-me fazer a menor de todas: se foste tu que fabricaste o tempo e a ele nos acorrentaste? e com que barro? e com que raio de segunda intenção? Se é que não foi apenas por descuido. Ou até casualmente, como acontece às vezes ao cientista que faz experiências e acaba por descobrir seja o que for. A. M. Pires Cabral

Coisas que têm quereres

I want someone To remind me to wear sunscreen And take my vitamins when it slips my mind I want someone Who knows how I like my coffee And wants to share a bed from morning to night But I'm stubborn Selfish And I just want someone Easily jealous at times I'm hard to love To try Who knows that I'm not made for mornings I want someone And doesn't scold me for smoking when I drink And gives me enough space to breathe I want someone Who listens when they've heard the story Coz I'm stubborn And I just want someone Selfish And easily jealous at times I'm hard to love To try To try Light up the dark side of my head I want someone Who can ground me when I'm too high I want someone Someone stubborn To share my coffee and sunscreen My mornings, my stories, and my bed Selfish To try And easily jealous would be fine I won't mind If they're hard to love I just want someone
Existe o belo natural e o belo criado. A Natureza inspira o Homem. A beleza faz a vida valer a pena. Gestos belos, obras de arte, águas livres, revoltas, em cursos ou lagos. A fauna, a flora e a gente que guarda beleza no interior. Serão os mais sensíveis ao belo os mais completos? Serão mais felizes os que conseguem distinguir cada traço de beleza quase oculta? Há dias perfeitos e dias de esquecer. Datas de comemorar e fases de digerir a fealdade do humano, dos desatinos da vida. Sem beleza nas paredes, na rua, nas caras, todos serão dias de nada. Belo é conseguir o que nos eleva. Manter o equilíbrio, sorrir diante do que quer que seja. Belo é ser capaz. É ser livre e solidário. Belo é ajudar a ser. Não julgar, não afastar. Partilhar o melhor. http://escritoaquente.blogspot.pt/2017/11/existe-o-belo-natural-e-o-belo-criado.html
Da mais alta janela da minha casa Com um lenço branco digo adeus Aos meus versos que partem para a humanidade E não estou alegre nem triste. Esse é o destino dos versos. Escrevi-os e devo mostrá-los a todos Porque não posso fazer o contrário Como a flor não pode esconder a cor, Nem o rio esconder que corre, Nem a árvore esconder que dá fruto. Ei-los que vão já longe como que na diligência E eu sem querer sinto pena Como uma dor no corpo. Quem sabe quem os lerá? Quem sabe a que mãos irão? Flor, colheu-me o meu destino para os olhos. Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas. Rio, o destino da minha água era não ficar em mim. Submeto-me e sinto-me quase alegre, Quase alegre como quem se cansa de estar triste. Ide, ide, de mim! Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza. Murcha a flor e o seu pó dura sempre. Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua. Passo e fico, como o Universo. s.d. alberto caeiro o guardador de rebanhos
Senhor, ensina-me a viver a riqueza do despojamento para que eu saiba: consentir na ausência como quem vai a uma festa, atravessar o sofrimento como quem junta os amigos, contemplar o invisível como quem descobre um rosto, esperar o impossível como quem aguarda uma carta, ouvir um silêncio como quem decifra um oráculo, acolher as impotências como quem recebe um milagre, desenrolar a tristeza como quem desfralda uma vela, apresentar as mãos vazias como quem eleva uma taça, caminhar em terra árida como quem vai uma fonte, olhar a própria fraqueza como quem descobre uma estrela. Autor desconhecido
O tempo de cada vida é um templo. A nossa grande tarefa é, sim, descobrir o que somos, e tornarmo-nos esperançosamente nisso que somos. Tolentino Mendonça