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A mostrar mensagens de março, 2012
Espiritualidade Da Quaresma à Páscoa 6.º Domingo da Quaresma: Reaprender a arte da procura (II) «Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: “Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.” Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.» (Lucas 15, 8-10) Varrer Varrer é um verbo ativo. Não fico apenas a lamentar o sucedido. Aceito «varrer», limpar, transformar, aclarar. Amontoam-se poeiras e desordens de todo o tipo. Penso, muitas vezes, no minúsculo planeta do Principezinho, a personagem criada por Saint-Exupéry. «Como em todos os planetas, no planeta do Principezinho havia ervas boas e ervas daninhas e, logo, sementes boas de ervas boas e sementes daninhas de ervas daninhas. Mas as sementes são invisíveis. Dormem no segredo da terra até que a uma lhe dê para acordar... Então, es
Ausência Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta.  Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência.  A ausência é um estar em mim.  E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,  que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. Carlos Drummond de Andrade

Conversa de grãos...de gente

- Dizia um dos grãos de trigo para os outros em pleno inverno debaixo de uns centímetros de terra: vamos acabar podres aqui sob esta terra húmida e fria. - Outro grão retorquia: tenho impressão que não. Se nos puseram aqui não é para acabar. - Que ideia, foi mesmo para acabar. Não sentes a tua casca a desfazer-se e o miolo a inchar? E aqueles ali já estão apodrecidos, desfeitos, nem já dão por nós. - Deixa lá, vais ver que não vai ser o nosso fim. Sinto cá por dentro uma vibraçãozinha como alguém a chamar-me baixinho! - Estás mesmo a sonhar, ilusão; estás a delirar. Eu não sinto nada, só o frio e a terra húmida a esmagar-me. É uma tristeza acabar assim. Era tão boa a nossa vida, antes! - Não estás a ver este grelinho a sair do meu interior por dentro da minha pele desfeita? Espera, espera…Já… - O quê? - Estou a subir de dentro do que estava podre. Vejo… - Se não estou louco, parece que também está a acontecer comigo. Estou a mexer… Qualquer coisa a subir… Será que é
Necessito de ti Senhor! Porque sem Ti a minha vida seca. Queria encontrar-Te na oração, na tua presença inconfundível, durante esses momentos em que o silencio está à minha frente, diante de Ti. Queria procurar-Te! Queria encontrar-Te no mundo que criaste; Na transparência de um horizonte longe e na profundidade de um bosque que protege com as suas folhas todas as pessoas. Precisava de te sentir! Queria encontrar-Te nos teus sacramentos, no reencontro com o teu perdão, ao ler a tua palavra, no mistério da tua entrega radical. Precisava de te sentir! Queria encontrar-te em todas as pessoas na necessidades de quem se sente pobre no amor dos meus amigos, no sorriso de uma criança e no barulho da multidão. Tenho que Te ver! Queria encontrar-Te, ainda, na minha pobreza, nas capacidades que me deste, nos meus desejos e sentimentos, no trabalho e no descanso, e um dia, na debilidade da minha vida, quando me aproximar das portas e me encontrar pessoalmente contigo. Teilhard de Char
5.º Domingo da Quaresma: Fazemos falta a Deus É de nós que Deus aguarda A coroação ou a descoroação de uma esperança sua. Terrível amor, terrível caridade, Terrível esperança, responsabilidade verdadeiramente terrível, O Criador tem necessidade da sua criatura, pôs-se a ter necessidade da sua criatura. Nada pode fazer sem ela. É um rei que tivesse abdicado nas mãos de cada um dos seus súbditos. Simplesmente o poder supremo. Deus tem necessidade de nós, Deus tem necessidade da sua criatura. Por assim dizer condenou-se assim, condenou-se a isso. Fazemos-lhe falta, a sua criatura faz-lhe falta. Aquele que tudo é tem necessidade de aquilo que nada é. Aquele que tudo pode tem necessidade de aquilo que nada pode. Ele entregou os seus plenos poderes. Aquele que é tudo nada é sem aquele que nada é. Aquele que pode tudo nada pode sem aquele que nada pode. Assim a jovem esperança Retoma, reverte, refaz. Restaura todos os mistérios Como restaura todas as virtudes. Nós podemos fazer-lhe fa
"na hora de pôr a mesa éramos cinco  o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu, depois, a minha irmã mais velha  casou-se, depois, a minha irmã mais nova casou-se, depois o meu pai morreu, hoje  na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está  na casa dela, menos a minha irmã mais nova que está na casa dela, menos o meu  pai, menos a minha mãe viúva, cada um deles é um lugar vazio nessa mesa onde  como sozinho, mas irão estar sempre aqui na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco,  enquanto um de nós estiver vivo, seremos  sempre cinco."    José Luís Peixoto    in   Cemitério de Pianos.
Amigos para sempre Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E, no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer. Nesta semana, tenho almoçado com amigos meus grandes, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos. Nada falha. Tudo dispara como se nos estivera - e está - na massa do sangue: a excitação de contar coisas e a alegria de partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há que décadas por realizar. Há grandes amigos que tenho a sorte de ter que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Enganei-me. O melhor
“Às vezes a vida parece-se com um longo e triste Sábado Santo. Tudo parece ter acabado, parece que triunfa o malvado, parece que o mal é mais forte que o bem.  Mas a fé faz-nos ver mais longe, faz-nos vislumbrar as luzes dum novo dia para além deste dia. A fé garante-nos que a última palavra cabe a Deus: somente a Deus!  A fé é, na verdade, uma pequena lâmpada, mas é a única lâmpada que ilumina a noite do mundo: e a sua luz humilde funde-se com as primeiras luzes do dia: o dia de Cristo Ressuscitado.  Assim, a história não acaba no sepulcro, antes, explode no sepulcro: assim tinha prometido Jesus, assim aconteceu e acontecerá!” http://paraalemdomeuhorizonte.blogspot.pt/2012/03/ontem-na-nossa-via-sacra.html
Chamo-lhe amor para simplificar. Há palavras assim, que se dizem como calmantes. Palavras usadas em série para nos impedir de pensar. Inês Pedrosa,  Fazes-me falta  

E eu também. Muito!

E das pessoas que sem saberem nos iluminam o dia. Adoro pessoas felizes, de bem com a vida, que contagiam os outros com o seu optimismo e a paixão pelo que fazem, gente simples e generosa, gente de afectos que gosta com o coração todo, que ajuda, que dá sem pensar em contrapartidas, que ouve, que sorri com os olhos, que se emociona e que se entusiasma com as pequenas coisas. Gosto de pessoas que gostam das outras pessoas. Sem filtros. http://asnovenomeublogue.blogspot.com/2012/03/das-boas-surpresas.html

Boa vida ou vida boa?

"- Imagina que quando pões este anel ficas invisível. Nem Deus te consegue ver. Ficando invisível, ninguém poderá saber o que tu fazes, não é? Isto quer dizer que nada do que fizeres te será atribuído. Nem as coisas boas nem as más. Podes roubar uma pessoa e ninguém saberá. Podes salvar outra e ninguém saberá. Que farás nessas circunstâncias? Farás o que farias se te pudessem ver? Ou farás coisas diferentes? (...) - É esse o teste das pessoas boas - concluiu - Comporta-te sempre com honestidade, estejam ou não outros a ver-te, possas ou não ser premiado, e terás uma vida boa." José Rodrigues dos Santos, in O Anjo Branco
«A nossa sociedade escondeu totalmente a ideia da morte. Em compensação, porém, estamos cheios de cadáveres. É só abrir a televisão. Como pode funcionar bem uma sociedade em que há muitos cadáveres mas não há a ideia da morte?» António Tabucchi, citado hoje pelo  Público  [numa entrevista de 2006]
"Se pudéssemos conhecer a história secreta dos nossos inimigos, encontraríamos na vida de cada homem tristeza e sofrimento suficientes para desarmar toda a hostilidade"  [Henry Wadsworth Longfellow]
“Por vezes, uma única árvore é toda a floresta; por vezes, a árvore é tão-só uma miragem que te distrai das tuas próprias raízes. Por vezes ainda, por vezes nem a árvore permanece. Aí, então, floresces…” – Luiz Pires dos Reys, “nascer do dia frag: mentos do ermo a esmo”, XV, in  Cultura ENTRE Culturas , nº4, p.40.
Preciso ser um outro para ser eu mesmo. Sou grão de rocha. Sou o vento que a desgasta. Sou pólen sem insecto. Sou areia sustentando o sexo das árvores. Existo onde me desconheço aguardando pelo meu passado ansiando a esperança do futuro. No mundo que combato morro no mundo por que luto nasço. Mia Couto
O homem converte-se aos poucos naquilo que acredita poder vir a ser. Se me repetir incessantemente a mim mesmo que sou incapaz de fazer determinada coisa, é possível que isso acabe finalmente por se tornar verdade. Pelo contrário, se acreditar que a posso fazer, acabarei garantidamente por adquirir a capacidade para a fazer, ainda que não a tenha num primeiro momento.  Mohandas Gandhi, in 'The Words of Gandhi'
O que é um louco? Por Rui Tavares Publico 2012-03-21 No Verão passado, quando o assassino AndersBreivik matou na Noruega mais de setenta pessoas, na sua maioria adolescentes,passei dois dias lendo o seu compêndio de mais de duas mil páginas comelucubrações contra o multiculturalismo, descrições da preparação do seuatentado e uma enxurrada de recriminações aos muçulmanos, aossociais-democratas e à esquerda em geral. Desde então, a opinião de que esse assassino era um louco acabou por se tornardominante. Tanto quanto sei, foi até validada num primeiro momento pelo sistemajudicial norueguês, o que gerou controvérsia e levou ao pedido de uma segundaavaliação psiquiátrica do assassino. A sociedade procura uma resposta a essa pergunta - é louco ou não é louco -como se ela fosse o fim do assunto. E, no entanto, ela é só o início. Ser louconão é um buraco negro que engole todas as outras explicações. Pode, no máximo,ser um espelho distorcido; mas a loucura não existe
Senhor, que es o céu e a terra, que es a vida e a morte! O sol es tu e a lua es tu e o vento es tu! Tu es os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor es tu tambem. Onde nada está tu habitas e onde tudo está - (o teu templo) - eis o teu corpo. Dâ-me alma para te servir e alma para te amar. Dâ-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e meos para trabalhar em teu nome. Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar. Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver
A criança que ri na rua, A música que vem no acaso, A tela absurda, a estátua nua, A bondade que não tem prazo - Tudo isso excede este rigor Que o raciocínio dá a tudo, E tem qualquer cousa de amor, Ainda que o amor seja mudo Fernando Pessoa
Todos os dias “Todos os dias Deus dá-nos um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um 'sim' ou um 'não' pode mudar toda a nossa existência.” Paulo Coelho
"Acendemos paixões no rastilho do próprio coração.  O que amamos é sempre chuva, entre o voo da nuvem  e a prisão do charco." Mia Couto
Somos a primeira pessoa do plural Estamos tão perto uns dos outros. Somos contemporâneos, podemos juntar-nos na mesma frase, conjugarmo-nos no mesmo verbo e, no entanto, carregamos um invisível que nos afasta. Ouvimos os vizinhos de cima a arrastarem cadeiras, a atravessarem o corredor com sapatos de salto alto, a sua roupa molhada pinga sobre a nossa roupa a secar; ouvimos a voz dos vizinhos de baixo, dão gargalhadas, a nossa roupa molhada pinga sobre a roupa deles a secar; cheiramos as torradas dos vizinhos do lado, ouvimo-los a chamar o elevador e, no entanto, o nosso maior problema não é apenas não nos reconhecermos na rua. O nosso problema grande é estarmos convencidos que os problemas deles não nos dizem respeito. A nossa tragédia é acharmos que não temos nada a ver com isso. Há três ou quatro anos, caminhava com um conhecido no aeroporto. De repente, ouviu-se um estalido. Ele agarrou-se ao peito com as duas mãos, caiu de joelhos e, pálido, esperou por morrer. Não morreu.
Urgentemente “É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, Ódio, solidão e crueldade, Alguns lamentos, Muitas espadas. É urgente inventar alegria, Multiplicar os beijos, as searas, É urgente descobrir rosas e rios E manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros e a luz Impura, até doer. É urgente o amor, é urgente Permanecer." Eugénio de Andrade
It doesn’t have to be/ the blue iris, it could be/ weeds in a vacant lot, or a few/ small stones; just/ pay attention, then patch/ a few words together and don’t try/ to make them elaborate, this isn’t/ a contest but the doorway/ into thanks, and a silence in which/ another voice may speak.] Michael-Paul Gallagher, sj 
Há sem dúvida quem ame o infinito,  Há sem dúvida quem deseje o impossível,  Há sem duvida quem não queria nada -  Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:  Porque eu amo infinitamente o finito,  Porque eu desejo impossivelmente o possível,  Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,  Ou até se não puder ser... Álvaro de Campos
Felicidade Parei numa estação de serviço na auto-estrada e num pequeno expositor encontrei cinco livros a oferecer felicidade, o que é, como se encontra, truques novos para a alcançar. Se lá estão os livros é porque há procura. Mas, afinal, que felicidade queremos? Muitos seriam felizes se a gasolina baixasse, outros vêm a felicidade em usar um porshe para andar a fazer barulho durante o Verão, outros estão mesmo só a enganar a tristeza e a solidão sem deixar de olhar para o umbigo, o próprio e o dos outros. Será que queremos mesmo a felicidade? Vasco Pinto Magalhães, sj

SENTADOS NO SILÊNCIO

"Com os mortos só poderemos ter delicadeza, mas o caminho por onde seguem é-nos hostil desde o primeiro passo; não nos resta outra coisa senão esperá-los aqui, sentados no silêncio, o coração em desordem. Talvez um verão ardente os traga até à nossa porta, dois golfinhos de prata no anel e o cheiro das ilhas no cabelo, para que o inverno seja suportável" Eugénio de Andrade

Com ou sem maquilhagem?

Ouvi uma vez uma história , contada por um professor de Materiais II, que nunca mais esqueci. Contou ele que, nos seus tempos de jovem arquitecto, se tinha perdido de amores por uma colega que era, confessou ele, uma "mulher de se perder a cabeça". E, ao que parece, era de facto cobiçada por muitos rapazes. Pois tinha ele a sorte de ter uma relação próxima com a rapariga. A coisa estava bem encaminhada para o jovem arquitecto. Um dia aconteceu cruzar-se com ela na rua. Mas não a reconheceu. O que tinha acontecido? Ela estava sem maquilhagem. Quando percebeu que era ela ficou de tal maneira chocado que o seu sonho de se casar com a rapariga se desmoronou de uma vez só. Lembrei-me desta história porque  às vezes fico a pensar se isto não acontece também com a Igreja. Ainda há bem pouco tempo tive uma boa conversa que gravitava à volta deste problema: um padre, como tantos outros, que fala e escreve sobre Deus de uma forma especialmente eloquente, que se preocupa sempre em e
A tentação mais perigosa é aquela que nos aparece como um bem. Os "bens" aparentes, enganadores e falsos, tentam-nos muito mais do que o mal. O mal visto como mal não tenta. Há que estar atento para saber lidar com as aparências de bem. NÃO HÁ SOLUÇÕES, HÁ CAMINHOS Vasco P. Magalhães, sj 365 vezes por ano não perguntes porquê, mas para quê.
E tu esperas, aguardas a única coisa que aumentaria infinitamente a tua vida; o poderoso, o extraordinário, o despertar das pedras, os abismos com que te deparas. Nas estantes brilham os volumes em castanho e ouro; e tu pensas em países viajados, em quadros, nas vestes de mulheres encontradas e já perdidas. E então de súbito sabes: era isso. Ergues-te e diante de ti estão angústia e forma e oração de certo ano que passou. Rainer Maria Rilke
Todas as descobertas da infância, no laboratório dos oito anos, dez anos, foram a descoberta do que precisava achar. Encontrei aquilo que era certo, que se adequava a cada ponto da idade e, mesmo, a cada hora do dia. Como criança eu corria, como adulta corro mais ainda, avanço dentro de mim - galáxia-, nado dentro de mim- oceano-, perco-me por vontade, presa, aterradora, contente, sonsa, inquieta, feliz, habituada. E , latejando, acredito que latejar é ser uma pessoa. É? É. José Luís Peixoto, in Abraço
Pessoas a despedirem-se no aeroporto. Não sei como serão os seus rostos. Da mesma maneira , não sei como será o meu próprio rosto. Porque entre mim e a vida há sempre a própria vida. Porque o voo para amanhã fará várias escala. Porque eu sou capaz de imaginar muitas coisas mas só em raros momentos consigo acertar naquilo que acontece realmente. José Luís Peixoto, In Abraço
A fragilidade, na experiência do encontro com Jesus, é o lugar privilegiado da Graça. Zaqueu testemunha-o de forma muito expressiva: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais» (Lucas 19, 8). Quando entramos na nossa sombra e aí nos experimentamos amados tal como somos, o nosso coração convertido pela misericórdia dilata-se para além de todas as fronteiras. Carlos Maria Antunes "Atravessar a própria solidão", ed. Paulinas «O Cristo que nós descobrimos realmente em nós mesmos distingue-se daquele que nos esforçamos, em vão, por admirar e idolatrar em nós. Bem pelo contrário: Ele quis identificar-se com aquilo que nós não amamos em nós próprios, porque Ele tomou sobre si a nossa miséria e o nosso sofrimento, a nossa pobreza e os nossos pecados… Jamais encontraremos paz se dermos ouvidos à cegueira que nos diz que o conflito está superado. Só teremos paz se formos capazes de escutar e a
"Tempo para tudo menos para o importante" 5 de Março Senhor Jesus, hoje quero consciencializar-me que vivo permanentemente tentada a ter tempo para tudo menos para o importante; a queixar-me insistentemente, mas sem nada fazer para mudar algo em mim ou à minha volta. Tenta-me, Senhor, o desânimo pelo lado difícil que, às vezes, as coisas apresentam. Tenta-me a desesperança e a falta de utopia que nos rodeia e paralisa. Tenta-me o deixar para amanhã, o que preciso começar a mudar já hoje. Tenta-me crer que Te escuto, quando o que escuto é apenas a minha voz. Ensina-me, Senhor a viver bem, comigo, contigo e com todos. Dá-me luz para distinguir o Teu rosto e o sentido que ele irradia. http://rr.sapo.pt/rubricas_detalhe.aspx?fid=70&did=52998
não há nada tão triste como a primeira coisa que escondemos numa gaveta ou a última pessoa que enterrámos num papel gil t. sousa falso lugar 2004
Tudo que cessa é morte, e a morte é nossa Se é para nós que cessa. Aquele arbusto Fenece, e vai com ele Parte da minha vida. Em tudo quanto olhei fiquei em parte. Com tudo quanto vi, se passa, passo, Nem distingue a memória Do que vi do que fui. Ricardo Reis, um dos heterónimos de Fernando Pessoa (1888-1935)
"E não nos deixeis cair em tentação". Rezo devagar estas palavras, fazendo-as minhas. Não me deixes, Senhor. Não me deixes quando as paredes do tempo se tornam instáveis, e as palavras de hoje têm a dureza do pão amassado de ontem. Não me deixes quando recuo porque é difícil, quando quase me inclino perante a idolatria do que é cómodo e vulgar. Não me deixes atravessar sozinho os baços corredores da incerteza, ou perder-me no sentimento do cansaço e da desilusão. Não me deixes tombar na maledicência e no descrédito quanto à vida. Que a Tua mão levante à altura da luz a minha esperança! Que o Teu nascimento inspire os meus renascimentos. Que a Tua presença, me ensine o que é tornar-se presente. Que o dom que fazes de Ti, me ajude a fazer da vida oferenda de amor. José Tolentino Mendonça
Invictus Out of the night that covers me, Black as the Pit from pole to pole, I thank whatever gods may be For my unconquerable soul. In the fell clutch of circumstance I have not winced nor cried aloud. Under the bludgeonings of chance My head is bloody, but unbowed. Beyond this place of wrath and tears Looms but the Horror of the shade, And yet the menace of the years Finds and shall find me unafraid. It matters not how strait the gate, How charged with punishments the scroll I am the master of my fate: I am the captain of my soul. William Ernest Henley
«Façamos aqui três tendas…» Mc 9, 5 2 de Março No cimo do Monte Tabor, Pedro, Tiago e João, são surpreendidos com a visão de Jesus transfigurado, ladeado por Moisés e por Elias. A experiência de uma plenitude de bem, de verdade e de beleza é traduzida por Pedro na expressão: «Mestre, como é bom estarmos aqui!» A proposta de «fazer três tendas», manifesta o desejo de que aquele instante permaneça, como que tentando fazer parar o tempo. Comove-me esta espontaneidade tão humana e tão verdadeira.  E comove-me porque este desejo de captar e prolongar os instantes de felicidade e de bem-estar é também uma experiência minha. Porque fui feito para ser feliz confundo amiúde bem-estar com felicidade e tudo faço para que seja assim cada instante meu. Foram homens como estes três Apóstolos que me ensinaram  o que é, onde está e como se alcança a felicidade verdadeira:  seguindo Cristo e vivendo como Ele ensinou, ainda que tenhamos que morrer como Cristo. Este jeito de vive