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A mostrar mensagens de fevereiro, 2013

A radicalidade da oração

Graça Franco RR on-line 27-02-2013 20:34 Que vai agora fazer Bento XVI, despido das honras e vestes do poder? Dar-nos um exemplo de humildade e coragem que impele à mudança. Não abandono a cruz. Permaneço apenas de um modo novo junto do senhor crucificado. "Já não sou portador do poder do Governo da Igreja, mas continuarei, no recinto de São Pedro, ao serviço da oração". Se dúvidas houvesse ficaram na sua última audiência, esclarecidas. O Papa não foge, não abdica, não vai gozar de uns anos sabáticos dedicados à reflexão e à música. Não voltará à sua condição de brilhante teólogo não irá viajar pelo mundo ou a fazer conferências. Não. Vai continuar, a sua mesma missão, dedicando-se a uma tarefa fulcral para o governo da Igreja. Não parte, fica. Tal como João Paulo II, também ele permanecerá junto à cruz até ao fim.   E se o Papa polaco fez do seu pontificado uma catequese da vida mostrando ao mundo (que abomina a doença e foge da velhice), o valor sagrado da vida
És tu quem perseguimos pelos lábios e tens em equilíbrio os seres e o tempo És tu quem está nos começos do mar e as nossas palavras vão molhar-te os pés Tu tens na tua mão as rédeas dos caminhos descem do teu olhar as mais nobres cidades onde nasceram os primeiros homens e onde os últimos desejarão talvez morrer Tu és maior que esta alegria de haver rios e árvores ou ruas donde serem vistos Por ti é que aceitamos a manhã sacrificada aos vidros das janelas aceitamos por ti o sol ou a neblina que faz dos candeeiros sentinelas É para ti que os pensamentos se orientam e se dirigem os passos transviados e o vento que nos veste nas esquinas És sempre como aquele que encontramos diariamente pela rua fora e a pouco e pouco vemos onde mora Só tu é que nos faltas quando reparamos que os papéis nos vão envelhecendo e os dias um por um morrendo em nossas mãos És tu que vens com todos os versos És tu quem pressentimos na chuva adivinhada quando os olhos ainda se nos fecham embora o sono nunca mais
“Houve momentos em que as águas estavam agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir, mas sempre soube que nessa barca está o Senhor e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é sua e a não deixa afundar”. Bento XVI, 27 de fevereiro de 2013

Nós e os nós

Humilde é aquele que está onde Deus pede. Santo é o pecador que não desiste. Padre Filipe Martins, sj
Ninguém nos disse que a nossa conversão seria instantânea. Se não é instantânea, é lenta, pensemos nós. A conversão não é, e nunca foi, uma caixa de velocidades, onde se mete a quinta e não há quem nos agarre. A conversão (a nossa e a de todos) respira e vive ao sabor do tempo, de forma pausada e súbtil. A conversão tem tempo para observar e percorrer. Cria raízes sem se instalar. Vive na urgência, mas não tem pressas. É fecunda porque não se prendeu à eficácia. Que a nossa conversão seja portanto, ao nosso ritmo e ao ritmo de Deus, porque não há outro. E que seja vivida com gozosa paciência. Nuno Branco, sj
José Tolentino Mendonça SNPC 24.02.13  Sei os riscos que corro ao propor um tema como este: o elogio da inutilidade. Por um lado, estamos claramente perante um termo ambíguo. A inutilidade parece à primeira vista um valor negativo ou um contravalor. Quando é que a inutilidade é boa e libertadora? Por outro lado, a nossa cultura, que idolatra a produção e o consumo, assumiu o útil como um dos critérios máximos para avaliar as nossas vidas. Se é útil, é bom. Quando nos sabemos úteis, sentimo-nos compensados. A vida tornou-se uma espécie de grande maratona da utilidade. Contudo, o termómetro que assinala a nossa vitalidade interior não pode dispensar a pergunta pelo lugar que saudavelmente damos ao inútil. Porque é que o inútil é importante? Porque o inútil subtrai-nos à ditadura das finalidades que acabam por ser desviantes em relação a um viver autêntico. Condicionados por esta finalidade, e aquela, e aquela acabamos simplesmente por não viver, por perder o sentido da gratuidade,
Moments from Everynone on Vimeo . “Olha o teu caminho, conta todos os momentos, se puderes. Essa é a tua Vida.” Tal como Abraão não conseguiria contar todas as estrelas, também é impossível contar ou definir o que são os momentos na vida. Há os especiais que se recorda com facilidade e há os banais que rapidamente entram no esquecimento. No entanto, como as estrelas eram a metáfora da descendência, também todos os momentos da vida vão construindo o futuro. Há coisas que se relativizam, outras que se agradece de forma sentida, outras ainda que mostram que se vive mais do que se pensa.   http://oinsecto.blogspot.pt/2013/02/momentos.html
A minha memória não é minha. A minha memória sou eu distorcido pelo tempo e misturado comigo próprio: com o meu medo, com a minha culpa, com o meu arrependimento.  José Luís Peixoto,  Cemitério de Pianos
De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira   e, misturado, o pó das duas realidades cai   sobre as minhas mãos cheias de desenhos de portos   com grandes naus que se vão e não pensam em voltar   Fernando Pessoa
construiste a tua casa  emplumaste os teus pássaros  golpeaste o vento  com os teus próprios ossos  terminaste sozinha  aquilo que ninguém começou.  alejandra pizarnik
É tarde nenhum sono repõe o que não vivi agora resta um único desfecho: de novo acordar por dentro e acordar sempre até que volte a ser cedo. Mia Couto
Quando sentimos que as coisas ou as pessoas são vazias, não podemos pôr a culpa nelas: a culpa está em nós, que tentamos meter o coração onde ele não cabe; a culpa está em nós, que insistimos em pedir às coisas o que não podem dar; a culpa está em nós, que não aprendemos a lição. É próprio da vida deixar-nos sentir o vazio de tudo o que temos e fazemos – até o vazio das nossas relações - para que finalmente encontremos o grande vazio que existe em nós: a vida insistirá nisso até que encontremos a Deus no centro do nosso coração. E quando conhecermos esse vazio onde Deus habita então podemos voltar às coisas e ver que elas, afinal, não são vazias. João Delicado, sj

Eu médica?

Um homem morto. Uma realidade directa que me tocava de perto. Tinha estropiado cadáveres na morgue, chegara a ver enfermos a agonizar durante as lições nas enfermarias; vivia cercado de doenças, misérias, desertores. Mas tudo isso eram acontecimentos necessários para a lógica dos tratados. Esta morte dizia-me respeito. Conhecera o primo Lucas longe desse ambiente; era um homem, uma coisa viva e misturada nas recordações da minha infância; um ser pronto a sofrer, pronto aos júbilos e às desventuras. Os outros homens da enfermaria ou do necrotério não tinham para mim uma história, serviam para confirmar uma ciência. Alguma coisa estava brutalmente errada. Haviam-me iludido, magoado. Recebia uma lição. Daí em diante sofreria até à angústia o que é ter uma vida nas nossas mãos, uma vida que nos é entregue: um misto de desafio, de responsabilidade e de desespero. Fernando Namora, in RETALHOS DA VIDA DE UM MÉDICO
Aquilo que surpreende os outros não é tanto o que fazemos, mas o ver que nos sentimos felizes em fazê-lo e sorrimos fazendo-o. Teresa de Calcutá

OFERECIMENTO

Senhor,   se necessitas de valentes sob o Teu estandarte,   aí estão Clara, Teresa, Domingos, Francisco, Inácio,...   aí estão Lourenço e Cecília...   Mas, se por acaso, alguma vez precisares de um preguiçoso   e de um medíocre, de um ou outro ignorante, de um orgulhoso,   de um cobarde, de um ingrato ou de um impuro,   de um homem cujo o coração esteve fechado e cujo o rosto foi duro...   aqui estou eu!   Quanto te faltarem os outros, a mim sempre me terás!   CHARLES PÉGUY

Dois modos de agir, uma mesma fidelidade

Miguel Almeida S. J. Público, 14/02/2013 Há mais ou menos oito anos víamos como um Papa, o Papa João Paulo II, resistia até ao extremo das suas forças para levar até ao fim a missão que lhe fora confiada. Agora soubemos que outro Papa, o Papa Bento XVI, apresentou a sua renúncia. Há oito anos, muito se discutia, dentro e fora da Igreja, se João Paulo II devia "abdicar", já que estava manifestamente incapacitado para exercer convenientemente o seu mandato, devido à idade e à falta de saúde. Entre os fiéis católicos, porém, muitos defendiam que o Papa devia permanecer na Sede de Pedro até ao fim dos seus dias. Era, diziam, um testemunho para o mundo. Um mundo em que as pessoas idosas contam pouco mais que nada, em que a imagem é tudo, um mundo que valoriza as pessoas por aquilo que fazem e não pelo que são. O Papa Wojtyla surgia então como uma luz, ténue é verdade, mas uma luz que iluminava caminhos de fidelidade e de compromisso, bem para lá do "apetecer"
Haverá tesouro mais precioso que a amizade? Poder partilhar a vida e dizer "diante de ti posso ser eu"... E, no entanto, não escapamos a pagar um alto preço: é que a amizade é vivida numa tensão constante entre a distância e a proximidade. Como o fogo precisa do oxigénio, o amor precisa da liberdade interior. E, se queremos viver a amizade em pleno, teremos de aprender a ascese própria das boas relações: pôr de lado o nosso orgulho e necessidades; fazer a nossa parte para que o outro esteja livre: seja para regressar da distância, seja para partir para longe. Não é um equilíbrio fácil; mas por um tesouro tão grande, todo o sacrifício vale a pena. João Delicado, sj

Nós e os nós

Há vozes que me tentam e me testam... E tantas vezes se metem no meu caminho... Vozes que me mentem, Vozes que fomentam a divisão, que convidam ao egoísmo. É a voz da tentação e do tentador. A tentação é prova a que somos submetidos enquanto passamos pela vida. No caminho de Jesus esta voz esteve presente, procurando desviá-lo da sua missão. A tentação fez-se presente convidando: a viver a partir do autocentramento. a viver adorando quem não é Deus. a viver a partir da aparência e da necessidade de aplauso. Nesta semana...vou cair na conta das vozes que me levam a pecar: viver recusando a oferta de amor que Deus me fez através de Jesus, do seu modo de estar e viver: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Vou anotando e vou aprendendo. Só com Jesus posso dar um fundamento sólido à minha vida e ao meu mundo. Só com Jesus posso ir além do mal e da morte. "Há dois erros, iguais e opostos em que a nossa raça pode incorrer quando de demón
Diego no conocía la mar. El padre, Santiago Kovadloff*, lo llevó a descubrirla.  Viajaron al sur.  Ella, la mar, estaba más allá de los altos médanos, esperando.  Cuando el niño y su padre alcanzaron por fim aquellas cumbres de arena, después de mutcho caminar, la mar estalló ante sus ojos. Y fue tanta la inmensidad de la mar, y tanto su folgor, que el niño quedó mudo de hermosura.  Y cuando por fin consiguió hablar, temblando, tartamudeando, pidió a su padre:  - Ayudame a mirar!  Eduardo Galeano  

Sede de ser

" O Papa abdicou. Ouço alguns comentários: uns que foi humilde e que fez bem, ao contrário de João Paulo II que não teve essa humilidade. Outros dizem o contrário, que este não levou até ao fim o seu Ponteficado como fez o Papa Joao Paulo II. Ora, lendo e ouvindo o que se vai dizendo, parece que a Igreja é u ma qualquer holding em que o seu "Presidente" sentiu que era tempo de abandonar, ao passo que o outro, ficou lá até morrer. As "coisas" da Igreja vão muito além dos timings das coisas terrenas. O Papa desempanha uma missão que Deus lhe confiou. E se ao Papa Bento XVI, Deus através do Espirito Santo, lhe terá dito que era tempo de parar, em contraponto terá dito a Joao Paulo II que aguentasse que era isso que Deus lhe pedia. Tudo o resto, pensar que quer um quer outro, fizeram aquilo que a sua própria vontade lhes dizia (não abdicar e abdciar) é não entender o que é ser Papa, e é pensar que a Igreja se gere como uma qualquer holding!" Luís Mesquita B
As estrelas são os olhos de quem morreu de amor. Ficam-nos contemplando de cima, a mostrar que só o amor concede eternidades. Mia Couto, in ESTÓRIAS ABENSONHADAS

Alguém para amar

Senhor, Quando eu tiver fome, dá-me alguém que necessite de comida. Quando tiver sede, dá-me alguém que precise de água. Quando sentir frio, dá-me alguém que necessite de calor. Quando tiver um aborrecimento, dá-me alguém que necessite de consolo. Quando a minha cruz parecer pesada, deixa-me compartilhar a cruz do outro. Quando eu me achar pobre, põe a meu lado alguém necessitado. Quanto não tiver tempo, dá-me alguém que precise de alguns dos meus minutos. Quando eu sofrer uma humilhação, dá-me a ocasião para elogiar alguém. Quando eu estiver desanimada, dá-me alguém para lhe dar novo ânimo. Quando sentir a necessidade da compreensão dos outros, dá-me alguém que necessite da minha. Quando sentir necessidade que cuidem de mim, dá-me alguém que eu tenha de atender. Quando pensar em mim mesma, volta a minha atenção para outra pessoa. Torna-me digna, Senhor, de servir os que vivem e morrem pobres e com fome, no mundo de hoje. Madre Teresa de Calcutá
"Nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos. O que acontece, meu filho, é que quase todos estão cegos, deixaram de ver esses outros que nos visitam. Os outros? Sim, esses que nos acenam da outra margem." Mia Couto, in ESTÓRIAS ABENSONHADAS
Empurrado para ir, fui ao lugar onde Ele sempre espera. Entrei e com o joelho a tocar no chão bati na porta da fé. O sempre ali presente abriu-me a porta e convidou-me a entrar e eu aproximei as minhas escuridões da Sua luz. Levava na algibeira perguntas e pedidos e o depósito da esperança a chegar à reserva. Como sempre deixou-me a iniciativa, deu-me a liberdade de colocar na mesa aquilo que trazia. Meti a mão na algibeira procurando o que lá trazia mas não encontrei nada. Insisti na procura e a única coisa que encontrei foi esta migalha de palavra: “olá”. Coloquei-a sobre a mesa e Ele respondeu servindo um banquete de silêncio. Ceei com o meu amigo Deus, comendo silêncio. No final daquele banquete de silêncio, começado com uma migalha de palavra, saboreei um abraço amigo que dizia: “o que trazias na algibeira tirei-te quando bateste à porta da fé. Que isso não te pese mais. Estou contigo e com os que te são próximos, vai em paz”. Vítor Araújo http://www.patiodosgentios.com
"Ser feliz por momentos é algo de que não se deve ter vergonha. Momentos que o fim torna ridículos. A felicidade, como o amor, é um sentimento ridículo. Mas a felicidade, como o amor, só é ridícula quando vista de fora. A felicidade, como o amor, só é ridícula antes ou de pois de si própria. A felicidade são momentos que, no seu presente fugaz, são mais fortes do que todas as sombras, todos os lugares frios, todos os arrependimentos. Ser feliz em palavras que, durante essa respiração breve, mudam de sentido. E nem a forma do mundo é igual: o sangue tem a forma de luz, as pedras têm a forma de nuvens, os olhos têm a forma de rios, as mãos têm a forma de árvores, os lábios têm a forma de céu, ou de oceano visto da praia, ou de estrela a brilhar com toda a sua força infantil e a iluminar a noite como um coração pequeno de ave ou de criança. Momentos que o fim torna ridículos. Momentos que fazem viver, esperando por um dia, depois de todas as desilusões, depois de todos os arrependime
Porventura o mais fecundo a perguntar, quando os nossos amigos morrem, não é: "porque é que eles partiram?". O que levaremos o resto da vida a responder, sempre em total gratidão, é antes: porque é que eles vieram". José Tolentino Mendonça, in NENHUM CAMINHO SERÁ LONGO
Como é possível de que Deus pergunte "Onde estás?" se Deus sabe tudo, está é uma pergunta completamente artificial. Mas se Ele não sabe, de facto, onde está o primeiro casal humano, então bem, isso coloca em causa a omnisciência de Deus. É um momento embaraçante da revelação bíblica. Os rabinos, porém, extraem daqui uma rica interpretação espiritual. Só nós podemos dizer onde estamos - ensinam-nos eles. Deus não nos persegue, mas amigavelmente espera que sejamos nós a dizer-lhe. José Tolentino Mendonça, in NENHUM CAMINHO SERÁ LONGO 
Bem eu sei a fonte que mana e corre, Embora seja noite. Aquela eterna fonte não a vê ninguém E bem sei onde é e de onde vem, Embora seja noite. Não sei a fonte dela, que não há, Mas sei que toda a fonte vem de lá, Embora seja noite. Não pode haver, eu sei, coisa tão bela E céus e terra bebem dela, Embora seja noite. A claridade sua não escurece E sei que toda a luz dela amanhece, Embora seja noite. Tão caudalosas são suas correntes Que regam céus, infernos e as gentes, Embora seja noite. E esta eterna fonte está escondida Em este vivo pão a dar-nos vida, Embora seja noite. Aqui está a chamar as criaturas Que bebem desta água, e às escuras, Porque é de noite. Esta fonte viva que desejo, Em este pão de vida, aí a vejo, porque é de noite. São João da Cruz
No meio das muitas e pequenas conversões diárias quase imperceptíveis, há as grandes, onde se deram viragens no modo como me vejo como pessoa em relação com os outros e com Deus. Posso dizer que todas têm que ver com encontros. Não me tornei um novo Paulo, mais um Paulo renovado. Há medos e limites que se mantêm. O que muda? A consciência de que não estou sozinho, perdendo a vergonha da fragilidade. Aí, entre outras, a força do respeito dá-me impulso à vocação. http://oinsecto.blogspot.pt/2013/01/conversoes.html
Uma  das coisas que nos pode roubar a paz, é o excesso de previsão. Diante daquilo que para nós será desconhecido, agarramo-nos às previsões e aos cálculos. E é bom prever, equacionar, ponderar e imaginar. Mas, que tudo seja com conta, peso e medida porque senão andaremos com um problema sério na vida. E sabem qual é? Recusar aquilo que a vida tem para nos mostrar. E grande parte da vida joga-se muitas vezes no inesperado e no imprevisível.  E quem recusa este desafio, demite-se de viver. Nuno Branco, sj
«Zaqueu poderá parecer a alguns um incorrigível individualista, um «marginal»; ali onde as outras pessoas se mostram imediatamente dispostas a alinhar em fileiras entusiásticas ou furiosas, ele procura instintivamente um esconderijo entre os ramos de uma figueira. Não o faz por orgulho, como poderia parecer; afinal, está bem ciente da sua «pequena estatura» e das suas grandes faltas, das suas lacunas em relação a postulados e desafios absolutos… Há muitos Zaqueus entre nós. O destino do nosso mundo, da nossa Igreja e da sociedade depende – mais do que estamos dispostos a admitir –, até que ponto esses Zaqueus serão seduzidos ou não. Eu gosto dos Zaqueus. Penso que recebi o dom de compreendê-los. As pessoas interpretam, com frequência, a distância que os Zaqueus mantêm como uma expressão da sua «superioridade», mas não me parece que tenham razão – as coisas não são assim tão simples. Tenho visto, pela minha experiência, que é antes consequência da sua timidez. Em certos casos, a
A amizade é uma experiência mais frequente que o amor; mas todos os dias ouvimos histórias sobre ex-maridos e ex-namoradas, ao passo que pouca gente fala dos ex-amigos. E ao nosso lado há amizades que acabam, como uma implosão de um edifício em ruínas, estrépito abafado e uma grande nuvem de pó. Disso fica apenas um grande silêncio. As pessoas não gostam de reconhecer que a amizade é um laço frágil. A mitologia diz que os amigos são indestrutíveis e eternos. Há por isso um grau de decepção no fim de uma amizade que cobre de vergonha os envolvidos. Uma paixão amorosa está umbilicalmente ligada a dimensões mais superficiais e passageiras, como o aspecto físico ou o desejo sexual. Quando o amor acaba, a tragédia é minimizada porque já sabíamos que “o amor acaba”. O fim de uma amizade é uma surpresa mais chocante. Quando uma amizade acaba temos que reconhecer, contrariados, que a amizade, tal como o amor, é uma eternidade fraudulenta. Norman Podhoretz escreveu uma curiosa autobiograf