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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2017

"Guardar só o que é bom de guardar."

Talvez um dia Deus vos conte que vos pego ao colo todos os dias.
É tarde, nenhum sono repõe o que não vivi É tarde, nenhum amanhã cura a ferida que em nós sangra. Agora, que não há sonho, posso, enfim, dormir Agora, é tarde demais para morrer. Agora, resta um único desfecho: de novo, acordar por dentro. E acordar sempre até que volte a ser cedo. Mia Couto
Amar com obras e não com palavras P. Miguel Almeida, sj http://observador.pt/opiniao/amar-com-obras-e-nao-com-palavras/ O Papa Francisco instituiu, para este domingo, dia 19 de novembro, em toda a Igreja, o “Dia Mundial dos Pobres”, convidando todos aqueles que se queiram juntar a esta iniciativa, independentemente da sua fé ou pertença religiosa. O nome do dia não parece o mais feliz à partida, mas tem a virtude de questionar e desinstalar, pois chama as coisas pelo nome. “O amor não admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo quando somos chamados a amar os pobres” (§1), afirma Francisco na mensagem para este dia. O séc. XX – estendendo-se ao início do séc. XXI – foi o século em que se atingiu o máximo de bem-estar e o máximo de atrocidades e extermínios de seres humanos por todo o mundo (terão morrido, vítimas da guerra, cerca de 200 milhões de pessoas). Os negócios mais rentáveis são a venda de armas, o “comércio sexual” e a droga
Do outro lado da casa, as crianças brincam com o tempo que corre para que elas não brinquem com ele. Na casa ao lado, um cão vê o tempo a passar e ladra-lhe para ele fugir como se fosse um ladrão. Na rua, o mendigo pede a toda a gente a esmola de um tempo, e toda a gente diz que não tem tempo para lhe dar. No café, peço uma chávena de tempo, curto e bem forte porque não tenho tempo para dormir, mas ao meu lado há quem peça uma chávena bem cheia de tempo para que o tempo demore a beber. Há quem corra por falta de tempo, e o tempo vai atrás dele para o apanhar. No metro, a rapariga atravessa o cais, devagar, como se tivesse mais tempo do que todos os que contam o tempo para não lhes descontarem no tempo. E quando me perguntam se tenho tempo, olho para o relógio, como se ele estivesse cheio de tempo, e peço que tirem de dentro dele todo o tempo, e que o esvaziem até ao último segundo, para eu ficar com tempo para ver quanto tempo já passou. Nuno Júdice
Opinião Miguel Araújo Crónica publicada na VISÃO 1287 de 2 de novembro http://visao.sapo.pt/opiniao/2017-11-09-Carta--a-minha-filha Minha filhinha, Estás a dias de sair da barriga da tua mãe e ainda nem sequer tens nome. Ias ser Salomé, o tempo todo ias ser Salomé, porque era o nome da tua bisavó, avó da mãe, que a mãe adorava, mas agora parece que já não vais ser. A mãe lembrou-se de telefonar à tia avó, única irmã da tua bisavó Salomé, e pelos vistos a tua bisavó detestava o nome. Além disso, o nome tinha sido escolhido por uma madrinha que afinal acabou por se revelar uma bruxa, parece. Por isso não, já não vais ser Salomé. A mãe e eu andamos para aqui à volta com nomes (a mãe é um bocado indecisa, é uma coisa de família, tu já vais perceber.) Mas havemos de te arranjar um nome bonito. (Eu trato-te por tu, espero que não te importes, deste meu lado da família é pessoal da Maia e na Maia é tudo tu-cá-tu-lá). 
A mãe está com uma barriga gigante, maior do que quando fo
Tira-me uma dessas fotos que tiras, embacia a objectiva, desfoca um pouco e mede mal a luz. Agora que termina o dia não é difícil eu sair favorecida. Que os traços se suavizem, que todas as rugas da alma e do contorno dos olhos desapareçam e que quem me veja pense que posso merecer a pena. E sobretudo, que o que impressione nessa foto não seja eu, que estou ali, mas os teus olhos que a tiraram. amália bautista estou ausente tradução de inês dias averno 2013
http://illustrati.logosedizioni.it/numeri/40/
Este é o dia novo. Sei-o pelo desejo De o transformar. Este é o dia transformado Pelo modo como apoio este dia no chão. Coloco-o na posição humilde dos meus joelhos na terra Abro-o com os olhos que retiro de todas as coisas quando os fixo Na atenção. E fico atento, fico deitado porque não sei crescer Num terreno que se levante. Cresço na clareira de um homem que é uma palavra Na sua túnica inteira Porque este é o sítio do dia sem horário Sem divisões E ponho-me de frente no seu lado, Nos seus braços abertos para me unir E entro pelo lado aberto e ardo – como Elias Em chamas subindo para o céu. Faria, Daniel, Poesia, Vila Nova de Famalicão:Quasi, 2003
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando de vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas… Mário Quintana
Como fazer-te saber que há sempre tempo? Que temos que buscá-lo e dá-lo… Que ninguém estabelece normas, senão a vida… Que a vida sem certas normas perde formas… Que a forma não se perde com abrirmo-nos… Que abrirmo-nos não é amar indiscriminadamente… Que não é proibido amar… Que também se pode odiar… Que a agressão porque sim, fere muito… Que as feridas fecham-se… Que as portas não devem fechar-se… Que a maior porta é o afecto… Que os afectos definem-nos… Que definir-se não é remar contra a corrente… Que não quanto mais se carrega no traço mais se desenha… Que negar palavras é abrir distâncias… Que encontrar-se é lindo… Que o sexo faz parte da lindeza da vida… Que a vida parte do sexo… Que o porquê das crianças tem o seu porquê… Que querer saber de alguém não é só curiosidade… Que saber tudo de todos é curiosidade malsã… Que nunca é demais agradecer… Que autodeterminação não é fazer as coisas sozinho… Que ninguém quer estar só… Que para não estar só há que dar… Que para dar devemos an
Há mulheres que trazem o mar nos olhos Não pela cor Mas pela vastidão da alma E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos Ficam para além do tempo Como se a maré nunca as levasse ... Da praia onde foram felizes Há mulheres que trazem o mar nos olhos pela grandeza da imensidão da alma pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens... Há mulheres que são maré em noites de tardes e calma. Sophia de Mello Breyner Andresen
Liberdade não é ter jaulas maiores; é não ter jaulas. Qualquer pássaro sabe que amar não implica repartir uma jaula; implica partilhar um céu. Pedro Chagas Freitas

All I can do is try

Só a rajada de vento dá o som lírico às pás do moinho. Somente as coisas tocadas pelo amor das outras têm voz. Fiama Hasse Pais Brandão
Há problemas tão graves, situações pessoais tão dolorosas e complexas, que Cristo disse: "Intervir aí só com muita oração!" Que quer isso dizer? Que vamos pedir milagres? Não. Quer dizer que há coisas a que só se chega quando se vêem como Deus as vê e que só se curam com o amor com que Deus ama. Pe. Vasco Pinto de Magalhães,sj Não há soluções, há caminhos

Coisas que têm quereres

Vivemos cheios de perguntas

"Vivemos cheios de perguntas. De perguntas para as quais não conseguimos respostas, a maior parte do tempo. Por vezes, são tantas as perguntas sem resposta, que se transformam numa espécie de ruído surdo, difuso. Como em (quase) tudo, importa perceber. E, uma coisa muito importante: perceber que nem sempre dá para perceber. E que, face a algumas perguntas, o melhor que se pode fazer é mesmo isso: não querer perceber. Uma coisa que só vem com o tempo e com umas quantas experiências, creio. Porque a nossa tendência natural é para esclarecer, dizer, ouvir, circunstanciar. O mais que se puder, por se pensar que é esse o caminho da paz, por mais difícil que às vezes possa ser. E não. Com o tempo, vamos aprendendo que nem sempre esse é o caminho da paz. E, que, por vezes, o melhor é não querer entender coisa nenhuma que não tenha uma explicação que não seja só água, de límpida. Porque esse é um caminho que não vai levar a sítio nenhum. Um caminho que nos desvia de outros caminhos. Mas,
Se eu vir aquela árvore como toda a gente a vê, não tenho nada a dizer sobre aquela árvore. Não vi aquela árvore. Álvaro de Campos
Estamos no meio de uma certa confusão. Ingleses a querer sair da Europa, catalães a querer sair de Espanha, homens e mulheres a quererem sair do seu corpo e, pior que isso, pessoas que se dividem entre “a favor” e “contra”. Tenho dado por mim a pensar que, na origem deste basqueiro, está uma ideia de educação que gostaria de chamar “safa-te!”. No último século, uma certa educação aposta tudo para que a criança se torne numa pessoa adulta autónoma e independente, ou seja, que não tenha vínculos que a determinem nem a constrinjam. A antiga ideia da sociedade que corrompe o homem singrou e teve como consequência a educação de gerações na consciência da máxima “safa-te”. E, para se safar, uma pessoa tem de ser capaz de fazer tudo sozinha, sem depender de ninguém; quanto mais sozinho, mais valor tem! Só que a educação “safa-te!” não previu os resultados deste individualismo e destas autodeterminações… As tais pessoas independentes e autónomas, os ingleses, os catalães, I mean… nós!

Efemeridade do tempo

Havia um berço de ferro para onde iam todos os bebés que nasciam naquela casa em várias gerações. Nasciam na cama dos pais e era ali que passavam a dormir, ao lado. Era branco, de ferro, com rosáceas na cabeceira e os pés em baloiço. Alguns desses bebés nunca chegaram a ter outra cama. O luto dessa morte era feito com a chegada de outro bebé. E a vida continuava até que uma geração já não quis usar o berço usado e o berço foi para a casa onde se guardavam as batatas. cheguei a embalar-me nele aí, no fresco das telhas vãs,na brincadeira e uma penumbra que ficava bem com aquela cama. Eu pertenço à geração que já não foi para esse berço. Até que um dia a adega deixou de receber batatas, a telha vã foi substituída por uma placa e a geração a que pertenço deixou de plantar batatas. A mesma geração que parece morrer de medo da penumbra. O berço? Deve estar num sítio onde ninguém sabe a história dele nem os nomes de todos os que lá nasceram. Isabel Lucas https://puroaca
Plantar um bosque! Um dia destes passeava numa propriedade de um amigo, jovem agricultor entusiasta. Está a plantar uma mata nova. Eu ia andando e olhando aqueles paus espetados que me pareciam todos iguais. Mas o meu amigo, orgulhoso da sua obra, ia dizendo coisas. "Aqui temos um carvalho, aquele é um castanheiro-da-índia, além são nogueiras." Lembrei-me então da frase de São João: "Já somos filhos de Deus, mas ainda não se vê nada do que havemos de ser!" Mas há quem saiba ver, e neste ver já o que não é está todo o segredo da fé e da esperança. Pe. Vasco Pinto de Magalhães sj Onde há crise, há esperança