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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2012

Cuidado com os rótulos

Is the length of the tabletop on the left any different than the width of the tabletop on the right? In this optical illusion by Roger Shepard -“Turning the Tables”, the dimensions of the tabletops are amazingly the same!

Tratar dos doentes ou cuidar dos doentes?

Sentíamo-nos estafados. Tínhamos que erguer muito os joelhos para desenterrar os pés. Iria chegar tarde ao doente. Mais uma vez me atormentava não o ter continuamente debaixo de vigilância. Cada doente em perigo era uma razão de angústia: desejaria colocar-me no seu lugar, chamar a mim o seu sofrimento, para reagir com alma contra a doença; desejaria vê-lo ao meu lado, dia e noite. O doente do hospital era um caso clínico, uma cama numerada; cá fora, no meio familiar, era uma coisa humana, que nos dizia intimamente respeito, que dependia de nós e nós dele. In: Fernando NAMORA, Retalhos da Vida de Um Médico (p.64). Lisboa: Editorial Inquérito. 1949.
Não me procures ali Onde os vivos visitam Os chamados mortos. Procura-me Dentro das grandes águas Nas praças Num fogo coração Entre cavalos, cães, Nos arrozais, no arroio Ou junto aos pássaros Ou espelhada Num outro alguém, Subindo um duro caminho Pedra, semente, sal Passos da vida. Procura-me ali. Viva. Hilda Hilst (1930-2004)

Não sei quem escreveu, mas gosto. Muito ;-)

http://zenpencils.com/comic/83-howard-thurman-ask-yourself/

É por isto, não é por mais nada...

"O Médico Que Só Sabe de Medicina, nem de Medicina Sabe" Abel  de Lima  Salazar (1889-1946)
Um dia, uma experiente psiquiatra encontrou uma pessoa que lhe pareceu excepcionalmente saudável e equilibrada. Ansiosa, e estafada de neuroses e psicoses, perguntou-lhe: «Como era a sua mãe?» Em vez das respostas mais comuns - «A minha mãe era uma pessoa muito...», ou «A minha mãe amava-me muito, mas...», «A minha mãe fez tudo por mim...» - a psiquiatra ouviu:  «A minha mãe amava a vida» - Não há famílias perfeitas - Marta Gautier
Só se possui verdadeiramente o que somos capazes de dar. De outro modo, não somos os possuidores, somos possuídos. Abbé Pierre, 1990

O que disse Judas nessa noite

                                 Os discípulos olhavam uns para os outros,                                          pois não sabiam de quem falava.                                          Mt. 13.22 Longamente adestrados na suspeita e fartos de mentir-nos uns aos outros, canalhas que sorriem enquanto bebem os seus whiskies. Tempo de contrição: fizemo-nos tanto mal. E hoje, se tento olhar-nos como quem de fora alcança ver o centro das coisas, vejo monstros perfeitos: moscas contra um vidro. E contudo houve um tempo de rosas selvagens no mundo que habitámos a sós como amantes plurais, e era boa essa mão distraída num ombro, beber do mesmo copo em lentas cerimónias de saliva, nus de verdade contra  o céu bêbedo de uma noite inventada. A noite é o salão que enchemos de fumo quase às escuras. Tenho medo da noite que nos tira o pouco que nos resta ainda: essas rosas, as mãos sobre o ombro. Amigos tantas vezes atraiçoados: depois  das mentiras, perdoemo-nos ainda, enquanto há tempo. No fu
por Liniers  http://www.porliniers.com/  
Quando se faz uma peregrinação, muitas vezes nos interrogamos onde é que ela termina, porque uma das coisas que se experimenta é que, à medida que caminhamos, a realidade torna-se sempre mais aberta. Quando o peregrino chega a perceber no seu coração, então é que começa verdadeiramente. A peregrinação não tem propriamente um fim: tem uma extraordinária finalidade. A de Paulo é Cristo. E a nossa também. Pe.José Tolentino Mendonça, in O Tesouro escondido

Inquietudes

Protestos contra o filme “A Inocência dos Muçulmanos” em Rawalpindi, no Paquistão. A espécie de clausura que a violência põe em torno destes meninos e o resto mundo não lhes dá um ar infeliz. Eles sorriem e isso perturba-me.  Inquieta-me a intolerância transformada em ênfase. O outro transformado em ameaça. Os factos arredondados de modo a que entrem numa narrativa preestabelecida. E eles sorriem. Esta imagem que mostra a banalidade da violência obscurece-me o dia, contém mais solidão do que a que quero ver. http://camalees.wordpress.com/2012/09/21/inquietudes/
«Procuremos. Procuremos como quem há-de encontrar e encontremos como quem há-de voltar a procurar. Pois é quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa». Sto. Agostinho

De que falamos quando falamos de santidade

http://www.snpcultura.org/paisagens_de_que_falamos_quando_falamos_de_santidade.html Sophia de Mello Breyner naquele conto tão conhecido, “O retrato de Mónica”, explica que a poesia é-nos dada uma vez e quando dizemos que não ela afasta-se. O amor é-nos dado algumas vezes, e também se o recusamos ele distancia-se de nós. Mas a santidade é-nos dada todos os dias como possibilidade. E se a recusamos teremos de a recusar todos os dias da nossa vida, porque quotidianamente a santidade se avizinha de nós. Contudo, fizemos da santidade uma coisa tão extraordinária, abstrata e inalcançável, que quase não ousamos falar dela. Muito menos no espaço público. De certa forma, habituamo-nos a olhar para a experiência cristã como que acontecendo a duas velocidades: o caminho heroico dos santos e a frágil estrada que é aquela de todos os outros, e por maior razão a nossa. Ora esta conceção de santidade não pode estar mais longe daquilo que a tradição cristã propõe, pela qual pugnou e pugna. O C
A vida dele (Abraão) parecia resolvida. Ora, a Fé começa por ser, precisamente, desafio a transcendermos a resolução individual da nossa existência, ou as formas pretensamente definitivas que construímos para ela, e nos abrirmos, até ao fim, ao impacto das surpresas de Deus. A Fé desinstala-nos para vivermos na dependência de Deus. Não há parques de estacionamento espirituais. Há sim a chamada ininterrupta a experimentar a itinerância de uma Promessa que é maior do que nós. (...) Nem por acaso o modelo da Fé é um ancião que se torna viajante, um aposentado que se faz à estrada, um homem que em princípio devia estar a viver do rendimento dos seus bens e que Deus manda olhar para os vastos céus, como se ele fosse um jovem enamorado, cheio de futuro, com as mãos vazias e os olhos cheios. Mas a Fé quer-nos assim, o crente é assim: um peregrino com as mãos pobres e vazias e os olhos cheios. Pe. José Tolentino Mendonça, in O Tesouro escondido
Naqueles dias, o Senhor apareceu a Abraão junto dos carvalhos de Mambré, quando ele estava sentado à porta da sua tenda, durante as horas quentes do dia. Abraão ergueu os olhos e viu três homens de pé em frente dele. Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu encontro, prostrou-se por terra e disse: «Meu Senhor, se mereci o teu favor, peço-te que não passes adiante, sem parar em casa do teu servo. Permite que se traga um pouco de água para vos lavar os pés; e descansai debaixo desta árvore. Vou buscar um bocado de pão e, quando as vossas forças estiverem restauradas, prosseguireis o vosso caminho, pois não deve ser em vão que passastes junto do vosso servo.» Eles responderam: «Faz como disseste.» (Gn 18, 1-5) Muitas vezes nós até estamos dispostos a acolher, mas ficamos à espera de um pedido, de uma solicitação. Abraão adianta-se e isso é a verdadeira hospitalidade. E fá-lo de uma forma gratuita, deixando livre o outro: "Quando as vossas forças estiverem restauradas, pros
No diário de Paul Claudel há uma frase curiosa: "A vida espiritual não é uma questão de portas, mas de janelas." De facto, não se trata de sair do que sou ou de buscar na exterioridade a solução, mas de abrir as janelas e deixar o ar de Deus entrar, deixar circular o vento do espírito. Pe. José Tolentino Mendonça, in O Tesouro escondido
Os velhos deviam ser como os exploradores... Caminhando sempre em direcção a uma nova intensidade, a uma união mais alta, uma comunhão mais profunda... ................................................................ No meu fim está o meu início. T.S.Eliot
Servir é, com o nosso corpo, ficar ao lado das pessoas e, com o nosso espírito, bater à porta do céu através da oração. São João Clímaco
Às vezes, demasiadas vezes, a vida assemelha-se a uma repartição cinzenta, onde os horários se cumprem sem empenho. Estamos, mas fazemos sem compromisso íntimo. Falamos e fazemos, mas sentindo o nosso interesse noutro lado. Vivemos, claro, mas com o coração distante. Como é necessário tornar realmente úteis os dias úteis! Úteis não apenas por imposição do calendário. Úteis, porque vividos com generosidade e sentido. Úteis, porque não os atropelamos na voragem das solicitações, na dispersão das coisas, mas sabemos (ou melhor, ousamos) fazer deles lugar de criação e descoberta, tempo de labor e de escuta, modo de acção e de contemplação. É preciso acolher o “inútil” se quisermos chegar ao verdadeiramente útil. P. José Tolentino Mendonça
A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado e chorei. Sou fraco para elogios. Manoel de Barros
Quando o outono já não pode senão melancolia é que o secreto rumor da água inunda os lábios de oiro eugénio de andrade mar de setembro poesia fundação eugénio de andrade 2000
“ Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram. ” Machado de Assis

Um dia voltará a ser Hoje.

"Prometidos à Primavera" RR 15.09.2012

Senhor Jesus, Esta semana, reli as palavras de José Tolentino de Mendonça; “A história, atravessada pelo dinamismo do Reino de Deus, não se reduz a um monte de implacáveis cinzas. Estamos, sim, prometidos à Primavera”. Nestes dias em que somos confrontados com tanto que nos parece sufocar: a dureza do desemprego, a falta de convicções e de dignidade, o desânimo, a violência verbal de tantos, a ausência de expectativas… nestes dias em que para tantos, a falta de futuro quase parece falta de presente… É nestes dias que nos confrontas com a Tua Verdade - não estamos reduzidos a cinzas, estamos prometidos à Primavera.  Bem sei que é mais fácil ficarmos pelo desânimo, pela ausência de caminhos, pela crítica derrotada e derrotista… Mas também sei que naquela manhã de domingo, o Teu sepulcro estava vazio. E aí, está a nossa Primavera. Isabel Figueiredo http://rr.sapo.pt/rubricas_detalhe.aspx?fid=70&did=77222
http://zenpencils.com/comic/80-henry-david-thoreau-on-happiness/

O presente da minha irmã Anabela (Perfeito!)

Às vezes, parece-me que a minha irmã Anabela é quem guarda mais daquele tempo que todos vivemos, mas que fomos perdendo. As fotografias não existem apenas nos álbuns lá de casa, estão gravadas naquilo que nos constitui: uma menina de olhos grandes sempre a sorrir. A minha família e eu, mesmo que espalhados por lugares e idades, temos em nós essa menina de olhos grandes sempre a sorrir. Em muitas coisas importantes, todos somos a minha irmã Anabela. Somos a minha irmã Anabela sobretudo em silêncio. Estamos, por exemplo, rodeados de pensamentos. Como se estivéssemos a atravessar uma floresta de pensamentos. Lá ao fundo, suspeitamos a existência de uma sombra que nos poderá magoar. Então, somos a minha irmã Anabela na fragilidade e, também, ainda mais, na força imensa com que atravessamos esse caminho. Porque nenhum caminho ficará por fazer, mesmo que seja necessário arrancar a própria pele: fazer um corte, agarrar a própria pele com as duas mãos e arrancá-la. Somos a minha irmã A
Meu Deus, ensina-me a usar bem o tempo que me deste e a empenhá-lo, sem nada perder dele. Ensina-me a prever sem que me atormente. Ensina-me a tirar proveito dos erros passados sem que caia num escrúpulo exagerado. Ensina-me a imaginar o futuro sem me desolar, com a ideia de que ele não seja tão mau como eu imagino. Ensina-me a unificar a lentidão e a pressa a serenidade e o fervor, o zelo e a paz. Ajuda-me quando começo, porque é então que sou fraco. Vela pela minha atenção quando trabalho. E sobretudo, enche Tu mesmo, Senhor, o vazio das minhas obras. Ernâni Lopes
Sofre-se muito neste mundo e todos nós sofremos ao ver os outros sofrer E sofremos até porque lhes queríamos arranjar uma solução e não sabemos onde ela está, nem como encontrá-la. Mas quem sofre, a maior parte das vezes, mais do que uma solução, só quer partilhar a sua dor, ser ouvido e apreciado, acompanhado. Não é estranho que seja dessa ajuda, que todos podemos dar, que a maior parte de nós foge? Não há soluções, há caminhos. Vasco Pinto Magalhães, sj
"Saber que o perdão de Deus é sempre dado significa descobrir uma das mais generosas realidades do Evangelho. E isso liberta-nos, incomparavelmente." Irmão Roger
"A nossa alma possui uma fenda que, quando se consegue tocar, lembra um valioso vaso descoberto nas profundidades da terra." Wassily Kandinsky
Todo o homem recebe duas espécies de educação: a que lhe é dada pelos outros, e, muito mais importante, a que ele dá a si mesmo. Edward Gibbon

Auschwitz I, Bloco 5

Por Rui Patrício, publicado em 8 Set 2012 E é essa capacidade de crença que nos leva a fazer o melhor, mas também o pior, seja como vítimas, seja como carrascos O que mais impressiona no museu Auschwitz-Birkenau não é estar no local, recordar o que sabemos e imaginar o que aconteceu. Isso molha os olhos, dá um nó nas entranhas e deixa a inteligência em fogo. Passar pelo bloco 10 de Auschwitz I – o campo “brando”, comparando com Auschwitz II (Birkenau) – e ouvir a narrativa sobre as experiências médicas marca e dói, mas não é o que mais impressiona. O cabelo tirado às mulheres – ainda vivas ou já cadáveres – está exposto e o vidro que nos separa dele não evita que imaginar seja muito doloroso. O mesmo se passa com os sapatos, os óculos, os restos de roupas de criança. Tudo isso é muito, tudo isso é demasiado, mas também não é isso o que mais impressiona. E nem falo da câmara de gás ou da reconstituição dos fornos, nem do pátio de fuzilamento ou das retretes colectivas. Não falo, porqu
O que é que experimentamos quando observamos a nossa história? Que ordens lhe estamos a dar? Que maltratos lhe impomos? A nossa história precisa de respirar, precisa que lhe demos espaço, que se desenvolva, que frutifique, que tenha vida. Que seja vida. E a nossa vida tem sido outra. Impomos-lhe desejos, construímos paredes, levantamos limites. E isso não é sonhar. É outra coisa. Sonhar é auscultar a realidade. É descobrir-lhe a pulsação. E respeitá-la, acarinha-la. Fazer dela a nossa vida e a nossa história. E só assim ela será grande e aberta. Aberta ao horizonte, sem limites nem receios, sem maltratos nem ofensas. Ao surdo abriram-se-lhe os ouvidos e soltou-se-lhe a língua. Abre-te. Abrir o instante, a vida e a história e deixar que ela seja o que sempre foi. Não lhe dês ordens, nem lhe imponhas o teu tempo. Ela, a nossa história, precisa de ser acarinhada.  http://toquesdedeus.blogspot.pt/2012/09/a-nossa-historia-precisa-de-ser.html
The only way to deal with an unfree world is to become so absolutely free that your very existence is an act of rebellion. ALBERT CAMUS
YOUCAT

Prender o Vento RR 07-09-'12

No meio das tempestades ou no sufoco dos desertos da vida chamo por Ti, Senhor, porque sei que estás mas não Te vejo, porque sei que me chamas, mas não Te ouço. Tal como aconteceu com Elias no monte Horeb, Deus manifesta-Se na discreta quietude de uma «brisa suave». Quando assim acontece, o que mais quero é guardar esse instante, é prender esse vento que me consola. Mas a brisa passa e a solidão parece maior. E de novo Te chamo e uma vez mais Te peço: mostra-Te! E por que estás e porque és a companhia sempre presente, de uma maneira sempre nova e surpreendente, Tu respondes e deixas que eu experimente o conforto de Te saber a meu lado. Quase me envergonharia de tanto pedir, não fora a consciência de que o simples pedir é já uma graça porque só pede quem acredita que é ouvido. É certo que o Teu tempo nem sempre coincide com o meu, e nem sempre a resposta é aquela que eu esperava. É este o desafio. É esta a aventura que quero abraçar: descobrir-Te por maior que seja o dis
Source: pin2fun66.blogspot.com via Patrícia on Pinterest
  Lançamos os balões, agarramo-nos ao sonho. Mas quem voa é sempre o vento! (Variações de Mia Couto, Street art by Banksy) http://beijo-de-mulata.blogspot.com/2012/09/hoje-inventei-uma-palavra-nova-sonhar.html
Há dias que nos fazem questionar mais fundo os passos do nosso caminho. Há dias que nos fazem pôr em causa as nossas relações, as pessoas importantes. Há dias em que os nossos medos parecem triunfar. Há dias em que a alegria parece uma ilusão sem nexo. O caminho parece estar a chegar a lado nenhum. Porém... A vida não parou, o caminho não chegou ao seu fim, os nossos passos não estão sem direcção. Olha para os teus pés. Ainda estão assentes no solo. Tu ainda és capaz de olhar em frente. E, repara, não estás só, não estás mesmo. Olha à tua volta e encontra a Esperança. Busca a beleza do que te está a ser oferecido. Quando achares que não a consegues ver, não desanimes. Está Alguém à tua espera, Alguém que te quer fazer ver melhor o teu caminho. Há dias que nos fazem questionar mais fundo os passos do nosso caminho. Há dias que, sem nós notarmos, nos fazem andar em frente... http://www.gambozinos.org/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=43&Itemid=91