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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2015

IKEA presents THE OTHER LETTER

Eu

Se soubessem que me descalço para me perder no caminho,  saberiam que não tenho pegadas, apenas metamorfose

O que dizem os abraços

Juntar as pontas dos ombros e dar algumas palmadinhas nas costas não é um abraço. Escrever "abraço" no fim de um e-mail também não é um abraço. Indiferente ao desenvolvimento social e tecnológico, um abraço continua a ser duas pessoas que se juntam e se apertam uma de encontro à outra. Esses rapazes que aparecem com cartazes a oferecerem abraços nos festivais de verão têm graça e talvez sejam bem-intencionados, mas fazem publicidade enganosa. Não são os abraços que provocam as ligações, são as ligações que provocam os abraços. Um abraço não é apenas duas pessoas que se juntam e se apertam uma de encontro à outra. Um abraço tem muita importância. Quando eu era uma criança, teria talvez uns nove ou dez anos, o meu pai deu-me um abraço na cozinha da nossa casa. Era de madrugada porque essa era a hora em que, naquele tempo, se saía da minha terra quando se ia para Lisboa. O meu pai tinha uma operação marcada no hospital, estava vestido com as roupas novas e tinha

Senhor Imediato, não dê "Volta à Faina"

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão, Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido, Olho e contenta-me ver, Pequeno, negro e claro, um paquete entrando. Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira. Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo. Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio, Aqui, acolá, acorda a vida marítima, Erguem-se velas, avançam rebocadores, Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto. Há uma vaga brisa. Mas a minh'alma está com o que vejo menos, Com o paquete que entra, Porque ele está com a Distância, com a Manhã, Com o sentido marítimo desta Hora, Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea, Como um começar a enjoar, mas no espírito. Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma, E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente. Os paquetes que entram de manhã na barra Trazem aos meus olhos consigo O mistério alegre e triste de quem chega e parte. Trazem memórias de cai

Father and Son have the most precious conversation about Paris attacks

How To Connect With Anyone

Quando forem de pedra  os teus olhos uns te darão por falecido. Quando forem de fogo os insectos que te devoram: talvez então te digam defunto. Mas nem pedra nem fogo te darão ausência: no teu ombro pousa o voo dos regressos. A vida  é um prematuro sonho. Só morre  quem nunca viveu. Mia Couto
Amar,  só ama quem amou antes. Felizes os que sabem que, antes deles, se cumpriram amores. Afortunados os que de si sabem no milagre das estações. Venturosos os que escutam a mulher dizer: estou a sonhar um filho. E engravida. A alma que temos  só fora de nós  tem morada. E vai-nos chegando  como a distante luz que em nós demora: - um olhar sem fundo, uma palavra cega à procura do mundo. Mia Couto
É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas. É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer. É urgente o amor, é urgente permanecer. Eugénio de Andrade
Numa outra vida que foi minha. Que é minha. Intensamente minha.
Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada, E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio, Então, sozinho de mim, passageiro parado De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti. Todo o passado, em que foste um momento eterno E como este silêncio de tudo. Todo o perdido, em que foste o que mais perdi, É como estes ruídos, Todo o inútil, em que foste o que não houvera de ser É como o nada por ser neste silêncio nocturno. Tenho visto morrer, ou ouvido que morrem, Quantos amei ou conheci, Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa; Ou um [...] assustado e mudo, E o mundo hoje para mim é um cemitério de noite Branco e negro de campas e [...] e de luar alheio E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti. Álvaro de Campos

O encontro

António Lobo Antunes Visão 27.10.2011 às 8h43 Conto até cem e, se não chegares antes dos cem, vou-me embora. Não chegaste antes dos cem. Conto de cem a um e, se não chegares antes do um, vou-me embora. Não chegaste antes do um. Conto dez automóveis pretos e, se não chegares antes dos dez automóveis pretos, vou-me embora. Não chegaste antes dos dez automóveis pretos. Nem antes dos quinze taxis vazios. Nem antes dos sete homens carecas. Nem antes das nove mulheres loiras. Nem antes das quatro ambulâncias. Nem sequer antes dos três corcundas e, entretanto, começou a chover. Começou a chover e não há um toldo onde abrigar-me, eu que não trouxe guarda-chuva, o céu sem nuvens quando saí de casa, previsão de céu sem nuvens para hoje, os camelos da meteorologia deviam ser fuzilados mas infelizmente não estamos em Cuba nem há maneira da máfia napolitana tomar conta da miséria deste país. E, já agora, da minha miséria, feito parvo à tua espera. Encosto-me ao prédio na esperança de me molhar m

Hoje, olhei-Te

Hoje olhei-Te daquela forma ... Vi que deixasTe sementes caídas em mim, prontas a crescer e a dar fruto! Vi que (quando me acolhesTe na Tua família) me deste a Água viva para as fazer crescer e a Luz forte que não abandona e que ainda me deste os que me podiam ajudar a colher os bons frutos! Olhei-Te mais uma vez ... e vi que ficaram espaços que foram preenchidos pelas sementes do inimigo, emanadas pela luz das trevas. Olhei-Te atentamente, por mais uns segundos ... vi que o tempo foi passando, as sementes brotando ... as boas e as más, de uma forma tão rápida, que eu fui deixando passar ... Olhei-Te uma última vez e perguntei: "Mas que frutos quero eu colher?" http://pegadasdapulga.blogspot.pt/2011/07/sementes.html
A vida ri-se das probabilidades e põe palavras onde imaginamos silêncios e súbitos regressos quando pensávamos que não nos voltaríamos a encontrar. José Saramago
Saudade de um mar para navegar e não ter ânsia de chegar. Vigia, Creoula 2015