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A mostrar mensagens de 2017
Apesar de tudo, o amor era menos simples do que ele julgava. Era mais forte do que o tempo. O amor, no fim das contas, era feito de inquietações, de renúncias, de pequenas tristezas que surgiam a todo instante. Simone de Beauvoir
Se escrevo ou leio ou desenho ou pinto logo me sinto tão atrasado no que devo à eternidade, que começo a empurrar p’ra diante o tempo e empurro-o, empurro-o à bruta como empurra um atrasado até que cansado me julgo satisfeito. (Tão gémeos são a fadiga e a satisfação!) Em troca, se vou por aí sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo, compreendo tão bem o que não me diz respeito, sinto-me tão chefe do que está fora de mim, dou conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição que não a minha, que, sinceramente, não sei qual é melhor: se estar sozinho em casa a dar à manivela da vida, se ir por ai e ser Rei de tudo o que não é meu. Almada Negreiros
“E, aquele Que não morou nunca em seus próprios abismos Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas Não foi marcado. Não será exposto Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.” Manoel de Barros
Ficar até ao fim, por amor, mesmo quando doer. Enterrar esta pequenina foi das coisas mais difíceis que fiz.  Não doi só po-la dentro dum saco, cavar o buraco, cobri-la com terra, procurar-lhe flores. Não doi só porque aqui quase não há flores. Não doi só abraçar a avó e o pai, não doi só chorar com eles. Não doi só ela ser criança e nem sequer ser suposto as crianças morrerem. Não doi só porque as crianças deviam só viver, brincar, crescer, ir à escola e apanhar elas flores. Não doi só perde-la, não doi só a morte, não doi só ser para sempre. Não doi só por conhece-la, por saber-lhe o nome, o rosto, a história de vida que carrega no coração. Isso doi, muito, mas não é só isso que doi. Doi perceber que estas coisas continuam a acontecer todos os dias e continuamos a perde-los e a cavar buracos todos os dias porque a guerra nos países deles não nos tira a paz a cada um de nós. Porque o caminho que fazem, a fugir, não nos cansa. Porque o medo que sentem não nos assusta nem nos tira
Bernardo é quase árvore. Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe E vêm pousar em seu ombro. Seu olho renova as tardes. Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho; 1 abridor de amanhecer 1 prego que farfalha 1 encolhedor de rios – e 1 esticador de horizontes. (Bernardo consegue esticar o horizonte usando três Fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.) Bernardo desregula a natureza: Seu olho aumenta o poente. (Pode um homem enriquecer a natureza com a sua Incompletude?) Manoel de Barros
Rir é correr risco de parecer tolo. Chorar é correr o risco de parecer sentimental. Estender a mão é correr o risco de se envolver. Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu. Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas. Amar é correr o risco de não ser correspondido. Viver é correr o risco de morrer. Confiar é correr o risco de se decepcionar. Tentar é correr o risco de fracassar. Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada. Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada. Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas elas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem. Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade. Somente a pessoa que corre riscos é livre! Séneca
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Miguel Esteves Cardoso
Se eu não acreditasse mais na vida, se duvidasse da mulher amada, se me desiludisse da ordem das coisas e, pelo contrário, me convencesse de que tudo não passa de um maldito caos, mesmo se caísse sobre mim todos os horrores da desilusão humana: apesar de tudo, eu quereria viver. Se encostei a taça aos lábios, hei de beber até o fim. Dostoiévski
Toda a gente é capaz de sentir os sofrimentos de um amigo. Ver com agrado os seus êxitos exige uma natureza muito mais delicada. Oscar Wilde
Existem três classes de pessoas que são infelizes: a que não sabe e não pergunta, a que sabe e não ensina e a que ensina e não faz. Buda
Todo o animal tem uma alma à medida de si. Só o homem a tem infinitamente maior. E o seu drama, desde sempre, é o de querer preenchê-la. Vergílio Ferreira
Dos meus favoritos desde sempre: Escuto mas não sei Se o que ouço é silêncio Ou deus Escuto sem saber se estou ouvindo O ressoar das planícies do vazio Ou a consciência atenta Que nos confins do universo Me decifra e fita Apenas sei que caminho como quem É olhado amado e conhecido E por isso em cada gesto ponho Solenidade e risco Sophia de Mello Breyner Andresen
Não desafies a alegria. Quando ela chegue um instante só não lhe perguntes porquê? Estende as mãos ávidas para o calor da cinza fria. João José Cochofel

Facing the Brokenness of the Manger

Imagine it – a cozy creche with the shepherds, magi, and animals all in awe of the newborn baby. A joyful mother and father look tenderly upon their new son, Jesus. The star above shines brightly, welcoming the Christ. “Oh Holy Night” rises softly out of the reverent silence. I’m struck by how often we romanticize the manger scene. This romanticization can easily make it more palatable and more comfortable, which also makes my prayer easier. But this romanticized version does not reflect the reality. While I love the peacefulness and ease of the scene, I’m also uncomfortable about how it glosses over reality. Jesus was born into an incredibly broken situation – a mother who would be spurned for accused sexual immorality, a political leader who wanted Jesus dead, and the poor showing up front and center at the birth. I’m left wondering – what does it mean to have a real Christmas story? A Christmas story that is not romanticized, but speaks to this reality. **** Here are severa
O Advento ajuda-nos a preparar o nascimento da Luz que vem novamente iluminar novas perspectivas de humanidade. Em sol que nasce para todos, vem eliminar a antiga separação de puros e impuros, de elevados e rebaixados, de melhores e piores. Diante de Deus, dissolve-se toda e qualquer separação de humanidade. No entanto, Ele continua a precisar de nascer, de fazer-se carne como nós para nos resgatar de toda a divisão. Seria mais fácil, mais mais desumano, se vivêssemos em bolhas, onde gente aparentemente pura nem se aproximava da impura. Esta pureza pode ser retratada, não só em termos de higiene, como em modos de pensar ou de viver. Há que afastar das pessoas da má-vida, para não se ser corrompido com maus exemplos. Mas, que melhor exemplo podemos dar para além da proximidade no respeito pelo outro? Há dias vi um cartoon: uma mãe dizia ao filho pequeno ao ver um pedinte: “estuda muito para não teres uma vida como a dele.” Outra mãe, ao lado, dizia ao filho pequeno ao ver o mesmo

Coisas que têm quereres

Sei que seria possível construir o mundo justo As cidades poderiam ser claras e lavadas Pelo canto dos espaços e das fontes O céu o mar e a terra estão prontos A saciar a nossa fome do terrestre A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia Cada dia a cada um a liberdade e o reino — Na concha na flor no homem e no fruto Se nada adoecer a própria forma é justa E no todo se integra como palavra em verso Sei que seria possível construir a forma justa De uma cidade humana que fosse Fiel à perfeição do universo Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
Tenho sempre, na algibeira da noite, algumas vigorosas perguntas de reserva, prontas a disparar em legítima defesa contra o negrume. Algumas são pequeninas, vulgares aspectos de pormenor. Outras, pelo contrário, são enormes, desabridas como a boca dum forno - do género porque é que deste quatro, e não seis, ou oito, pernas à rã. Hoje ocorre-me fazer a menor de todas: se foste tu que fabricaste o tempo e a ele nos acorrentaste? e com que barro? e com que raio de segunda intenção? Se é que não foi apenas por descuido. Ou até casualmente, como acontece às vezes ao cientista que faz experiências e acaba por descobrir seja o que for. A. M. Pires Cabral

Coisas que têm quereres

I want someone To remind me to wear sunscreen And take my vitamins when it slips my mind I want someone Who knows how I like my coffee And wants to share a bed from morning to night But I'm stubborn Selfish And I just want someone Easily jealous at times I'm hard to love To try Who knows that I'm not made for mornings I want someone And doesn't scold me for smoking when I drink And gives me enough space to breathe I want someone Who listens when they've heard the story Coz I'm stubborn And I just want someone Selfish And easily jealous at times I'm hard to love To try To try Light up the dark side of my head I want someone Who can ground me when I'm too high I want someone Someone stubborn To share my coffee and sunscreen My mornings, my stories, and my bed Selfish To try And easily jealous would be fine I won't mind If they're hard to love I just want someone
Existe o belo natural e o belo criado. A Natureza inspira o Homem. A beleza faz a vida valer a pena. Gestos belos, obras de arte, águas livres, revoltas, em cursos ou lagos. A fauna, a flora e a gente que guarda beleza no interior. Serão os mais sensíveis ao belo os mais completos? Serão mais felizes os que conseguem distinguir cada traço de beleza quase oculta? Há dias perfeitos e dias de esquecer. Datas de comemorar e fases de digerir a fealdade do humano, dos desatinos da vida. Sem beleza nas paredes, na rua, nas caras, todos serão dias de nada. Belo é conseguir o que nos eleva. Manter o equilíbrio, sorrir diante do que quer que seja. Belo é ser capaz. É ser livre e solidário. Belo é ajudar a ser. Não julgar, não afastar. Partilhar o melhor. http://escritoaquente.blogspot.pt/2017/11/existe-o-belo-natural-e-o-belo-criado.html
Da mais alta janela da minha casa Com um lenço branco digo adeus Aos meus versos que partem para a humanidade E não estou alegre nem triste. Esse é o destino dos versos. Escrevi-os e devo mostrá-los a todos Porque não posso fazer o contrário Como a flor não pode esconder a cor, Nem o rio esconder que corre, Nem a árvore esconder que dá fruto. Ei-los que vão já longe como que na diligência E eu sem querer sinto pena Como uma dor no corpo. Quem sabe quem os lerá? Quem sabe a que mãos irão? Flor, colheu-me o meu destino para os olhos. Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas. Rio, o destino da minha água era não ficar em mim. Submeto-me e sinto-me quase alegre, Quase alegre como quem se cansa de estar triste. Ide, ide, de mim! Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza. Murcha a flor e o seu pó dura sempre. Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua. Passo e fico, como o Universo. s.d. alberto caeiro o guardador de rebanhos
Senhor, ensina-me a viver a riqueza do despojamento para que eu saiba: consentir na ausência como quem vai a uma festa, atravessar o sofrimento como quem junta os amigos, contemplar o invisível como quem descobre um rosto, esperar o impossível como quem aguarda uma carta, ouvir um silêncio como quem decifra um oráculo, acolher as impotências como quem recebe um milagre, desenrolar a tristeza como quem desfralda uma vela, apresentar as mãos vazias como quem eleva uma taça, caminhar em terra árida como quem vai uma fonte, olhar a própria fraqueza como quem descobre uma estrela. Autor desconhecido
O tempo de cada vida é um templo. A nossa grande tarefa é, sim, descobrir o que somos, e tornarmo-nos esperançosamente nisso que somos. Tolentino Mendonça

"Guardar só o que é bom de guardar."

Talvez um dia Deus vos conte que vos pego ao colo todos os dias.
É tarde, nenhum sono repõe o que não vivi É tarde, nenhum amanhã cura a ferida que em nós sangra. Agora, que não há sonho, posso, enfim, dormir Agora, é tarde demais para morrer. Agora, resta um único desfecho: de novo, acordar por dentro. E acordar sempre até que volte a ser cedo. Mia Couto
Amar com obras e não com palavras P. Miguel Almeida, sj http://observador.pt/opiniao/amar-com-obras-e-nao-com-palavras/ O Papa Francisco instituiu, para este domingo, dia 19 de novembro, em toda a Igreja, o “Dia Mundial dos Pobres”, convidando todos aqueles que se queiram juntar a esta iniciativa, independentemente da sua fé ou pertença religiosa. O nome do dia não parece o mais feliz à partida, mas tem a virtude de questionar e desinstalar, pois chama as coisas pelo nome. “O amor não admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo quando somos chamados a amar os pobres” (§1), afirma Francisco na mensagem para este dia. O séc. XX – estendendo-se ao início do séc. XXI – foi o século em que se atingiu o máximo de bem-estar e o máximo de atrocidades e extermínios de seres humanos por todo o mundo (terão morrido, vítimas da guerra, cerca de 200 milhões de pessoas). Os negócios mais rentáveis são a venda de armas, o “comércio sexual” e a droga
Do outro lado da casa, as crianças brincam com o tempo que corre para que elas não brinquem com ele. Na casa ao lado, um cão vê o tempo a passar e ladra-lhe para ele fugir como se fosse um ladrão. Na rua, o mendigo pede a toda a gente a esmola de um tempo, e toda a gente diz que não tem tempo para lhe dar. No café, peço uma chávena de tempo, curto e bem forte porque não tenho tempo para dormir, mas ao meu lado há quem peça uma chávena bem cheia de tempo para que o tempo demore a beber. Há quem corra por falta de tempo, e o tempo vai atrás dele para o apanhar. No metro, a rapariga atravessa o cais, devagar, como se tivesse mais tempo do que todos os que contam o tempo para não lhes descontarem no tempo. E quando me perguntam se tenho tempo, olho para o relógio, como se ele estivesse cheio de tempo, e peço que tirem de dentro dele todo o tempo, e que o esvaziem até ao último segundo, para eu ficar com tempo para ver quanto tempo já passou. Nuno Júdice
Opinião Miguel Araújo Crónica publicada na VISÃO 1287 de 2 de novembro http://visao.sapo.pt/opiniao/2017-11-09-Carta--a-minha-filha Minha filhinha, Estás a dias de sair da barriga da tua mãe e ainda nem sequer tens nome. Ias ser Salomé, o tempo todo ias ser Salomé, porque era o nome da tua bisavó, avó da mãe, que a mãe adorava, mas agora parece que já não vais ser. A mãe lembrou-se de telefonar à tia avó, única irmã da tua bisavó Salomé, e pelos vistos a tua bisavó detestava o nome. Além disso, o nome tinha sido escolhido por uma madrinha que afinal acabou por se revelar uma bruxa, parece. Por isso não, já não vais ser Salomé. A mãe e eu andamos para aqui à volta com nomes (a mãe é um bocado indecisa, é uma coisa de família, tu já vais perceber.) Mas havemos de te arranjar um nome bonito. (Eu trato-te por tu, espero que não te importes, deste meu lado da família é pessoal da Maia e na Maia é tudo tu-cá-tu-lá). 
A mãe está com uma barriga gigante, maior do que quando fo
Tira-me uma dessas fotos que tiras, embacia a objectiva, desfoca um pouco e mede mal a luz. Agora que termina o dia não é difícil eu sair favorecida. Que os traços se suavizem, que todas as rugas da alma e do contorno dos olhos desapareçam e que quem me veja pense que posso merecer a pena. E sobretudo, que o que impressione nessa foto não seja eu, que estou ali, mas os teus olhos que a tiraram. amália bautista estou ausente tradução de inês dias averno 2013
http://illustrati.logosedizioni.it/numeri/40/
Este é o dia novo. Sei-o pelo desejo De o transformar. Este é o dia transformado Pelo modo como apoio este dia no chão. Coloco-o na posição humilde dos meus joelhos na terra Abro-o com os olhos que retiro de todas as coisas quando os fixo Na atenção. E fico atento, fico deitado porque não sei crescer Num terreno que se levante. Cresço na clareira de um homem que é uma palavra Na sua túnica inteira Porque este é o sítio do dia sem horário Sem divisões E ponho-me de frente no seu lado, Nos seus braços abertos para me unir E entro pelo lado aberto e ardo – como Elias Em chamas subindo para o céu. Faria, Daniel, Poesia, Vila Nova de Famalicão:Quasi, 2003
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando de vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas… Mário Quintana
Como fazer-te saber que há sempre tempo? Que temos que buscá-lo e dá-lo… Que ninguém estabelece normas, senão a vida… Que a vida sem certas normas perde formas… Que a forma não se perde com abrirmo-nos… Que abrirmo-nos não é amar indiscriminadamente… Que não é proibido amar… Que também se pode odiar… Que a agressão porque sim, fere muito… Que as feridas fecham-se… Que as portas não devem fechar-se… Que a maior porta é o afecto… Que os afectos definem-nos… Que definir-se não é remar contra a corrente… Que não quanto mais se carrega no traço mais se desenha… Que negar palavras é abrir distâncias… Que encontrar-se é lindo… Que o sexo faz parte da lindeza da vida… Que a vida parte do sexo… Que o porquê das crianças tem o seu porquê… Que querer saber de alguém não é só curiosidade… Que saber tudo de todos é curiosidade malsã… Que nunca é demais agradecer… Que autodeterminação não é fazer as coisas sozinho… Que ninguém quer estar só… Que para não estar só há que dar… Que para dar devemos an
Há mulheres que trazem o mar nos olhos Não pela cor Mas pela vastidão da alma E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos Ficam para além do tempo Como se a maré nunca as levasse ... Da praia onde foram felizes Há mulheres que trazem o mar nos olhos pela grandeza da imensidão da alma pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens... Há mulheres que são maré em noites de tardes e calma. Sophia de Mello Breyner Andresen
Liberdade não é ter jaulas maiores; é não ter jaulas. Qualquer pássaro sabe que amar não implica repartir uma jaula; implica partilhar um céu. Pedro Chagas Freitas

All I can do is try

Só a rajada de vento dá o som lírico às pás do moinho. Somente as coisas tocadas pelo amor das outras têm voz. Fiama Hasse Pais Brandão
Há problemas tão graves, situações pessoais tão dolorosas e complexas, que Cristo disse: "Intervir aí só com muita oração!" Que quer isso dizer? Que vamos pedir milagres? Não. Quer dizer que há coisas a que só se chega quando se vêem como Deus as vê e que só se curam com o amor com que Deus ama. Pe. Vasco Pinto de Magalhães,sj Não há soluções, há caminhos

Coisas que têm quereres

Vivemos cheios de perguntas

"Vivemos cheios de perguntas. De perguntas para as quais não conseguimos respostas, a maior parte do tempo. Por vezes, são tantas as perguntas sem resposta, que se transformam numa espécie de ruído surdo, difuso. Como em (quase) tudo, importa perceber. E, uma coisa muito importante: perceber que nem sempre dá para perceber. E que, face a algumas perguntas, o melhor que se pode fazer é mesmo isso: não querer perceber. Uma coisa que só vem com o tempo e com umas quantas experiências, creio. Porque a nossa tendência natural é para esclarecer, dizer, ouvir, circunstanciar. O mais que se puder, por se pensar que é esse o caminho da paz, por mais difícil que às vezes possa ser. E não. Com o tempo, vamos aprendendo que nem sempre esse é o caminho da paz. E, que, por vezes, o melhor é não querer entender coisa nenhuma que não tenha uma explicação que não seja só água, de límpida. Porque esse é um caminho que não vai levar a sítio nenhum. Um caminho que nos desvia de outros caminhos. Mas,
Se eu vir aquela árvore como toda a gente a vê, não tenho nada a dizer sobre aquela árvore. Não vi aquela árvore. Álvaro de Campos
Estamos no meio de uma certa confusão. Ingleses a querer sair da Europa, catalães a querer sair de Espanha, homens e mulheres a quererem sair do seu corpo e, pior que isso, pessoas que se dividem entre “a favor” e “contra”. Tenho dado por mim a pensar que, na origem deste basqueiro, está uma ideia de educação que gostaria de chamar “safa-te!”. No último século, uma certa educação aposta tudo para que a criança se torne numa pessoa adulta autónoma e independente, ou seja, que não tenha vínculos que a determinem nem a constrinjam. A antiga ideia da sociedade que corrompe o homem singrou e teve como consequência a educação de gerações na consciência da máxima “safa-te”. E, para se safar, uma pessoa tem de ser capaz de fazer tudo sozinha, sem depender de ninguém; quanto mais sozinho, mais valor tem! Só que a educação “safa-te!” não previu os resultados deste individualismo e destas autodeterminações… As tais pessoas independentes e autónomas, os ingleses, os catalães, I mean… nós!

Efemeridade do tempo

Havia um berço de ferro para onde iam todos os bebés que nasciam naquela casa em várias gerações. Nasciam na cama dos pais e era ali que passavam a dormir, ao lado. Era branco, de ferro, com rosáceas na cabeceira e os pés em baloiço. Alguns desses bebés nunca chegaram a ter outra cama. O luto dessa morte era feito com a chegada de outro bebé. E a vida continuava até que uma geração já não quis usar o berço usado e o berço foi para a casa onde se guardavam as batatas. cheguei a embalar-me nele aí, no fresco das telhas vãs,na brincadeira e uma penumbra que ficava bem com aquela cama. Eu pertenço à geração que já não foi para esse berço. Até que um dia a adega deixou de receber batatas, a telha vã foi substituída por uma placa e a geração a que pertenço deixou de plantar batatas. A mesma geração que parece morrer de medo da penumbra. O berço? Deve estar num sítio onde ninguém sabe a história dele nem os nomes de todos os que lá nasceram. Isabel Lucas https://puroaca
Plantar um bosque! Um dia destes passeava numa propriedade de um amigo, jovem agricultor entusiasta. Está a plantar uma mata nova. Eu ia andando e olhando aqueles paus espetados que me pareciam todos iguais. Mas o meu amigo, orgulhoso da sua obra, ia dizendo coisas. "Aqui temos um carvalho, aquele é um castanheiro-da-índia, além são nogueiras." Lembrei-me então da frase de São João: "Já somos filhos de Deus, mas ainda não se vê nada do que havemos de ser!" Mas há quem saiba ver, e neste ver já o que não é está todo o segredo da fé e da esperança. Pe. Vasco Pinto de Magalhães sj Onde há crise, há esperança
"primeiro acredita, porque é assim que tudo começa. depois descomplica, porque é assim que tudo avança. a seguir confia, porque é assim que respiras fundo. e já na estrada, de mangas arregaçadas e olhar focado no caminho, ajusta a tua bússola. marca o teu ritmo. pelo caminho, abraça muito. ao longo da viagem, sê mais do que construtora da tua vida: sê também cuidadora.(...)" http://www.asnovenomeublog.com/2017/09/tu-mereces.html
«Por onde quer que as nossas vidas sigam. Por mais longe que elas se declinem, há sempre o lugar de onde viemos. O lugar onde existimos desde o início, com todos os nossos inícios. Muito importantes, os lugares onde construímos as nossas ilusões primeiras. Mesmo que se desfaçam, nada nem ninguém pode alterar o sítio inicial onde foram acalentadas como matéria preciosa. Os cenários onde nos projectámos no mundo lá de fora. Os lugares onde dissemos muitas vezes, quando eu for grande, quando eu for grande, quando eu for grande.» http://d-amar.blogspot.pt/2017/10/vouzela-continua-linda.html
Tapas os caminhos que vão dar a casa Cobres os vidros das janelas Recolhes os cães para a cozinha Soltas os lobos que saltam as cancelas Pões guardas atentos espiando no jardim Madrastas nas histórias inventadas Anjos do mal voando sem ter fim Destróis todas as pistas que nos salvam Depois secas a água e deitas fora o pão Tiras a esperança Rejeitas a matriz E quando já só restam os sinais Convocas devagar os vendavais Se tanto me dói que as coisas passem É porque cada instante em mim foi vivo Na busca de um bem definitivo Em que as coisas de Amor se eternizassem. Sophia de Mello Breyner Andresen
Sou o único homem a bordo do meu barco. Os outros são monstros que não falam, Tigres e ursos que amarrei aos remos, E o meu desprezo reina sobre o mar. Gosto de uivar no vento com os mastros E de me abrir na brisa com as velas, E há momentos que são quase esquecimento Numa doçura imensa de regresso. A minha pátria é onde o vento passa, A minha amada é onde os roseirais dão flor, O meu desejo é o rastro que ficou das aves, E nunca acordo deste sonho e nunca durmo. Sophia de Mello Breyner Andresen
À vinda do supermercado diz-me o pequeno monstro que às vezes me faz companhia: «E qual é a tua razão de ser?» Na rua, a tarde rola devagar entre prédios murchos — e ele acrescenta: «Não me digas que são os versos.» E ri-se Rui Pires Cabral
"Broken crayons still color"

"Coisas que têm quereres"

I am sorry this is always how it goes The wind blows loudest when you've got your eyes closed But I never changed a single colour that I breathe So you could have tried to take a closer look at me I am tired of punching in the wind I am tired of letting it all in And I should eat you up and spit you right out I should not care but I don't know how So I take off my face 'Cause it reminds me how it all went wrong And I pull out my tongue 'Cause it reminds me how it all went wrong I am sorry for the trouble, I suppose My blood runs red but my body feels so cold I guess I could swim for days in the salty sea But in the end the waves will discolour me So I take off my face 'Cause it reminds me how it all went wrong And I pull out my tongue 'Cause it reminds me how it all went wrong And I cough up my lungs 'Cause they remind me how it all went wrong But I leave in my heart 'Cause I don't want to stay in the dark So I take off my face 'Cause it reminds
Tenho fases, como a lua, Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...). No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu... Cecília Meireles, in 'Vaga Música'

Coisas que têm quereres

Dá-nos a tua paz

Dá-nos a Tua paz, Deus Cristão falso, mas consolador, porque todos Nascem para a emoção rezada a ti; Deus anti-científico mas que a nossa mãe ensina; Deus absurdo da verdade absurda, mas que tem a verdade das lágrimas Nas horas de fraqueza em que sentimos que passamos Como o fumo e a nuvem, mas a emoção não o quer, Como o rasto na terra, mas a alma é sensível... Dá-nos a Tua paz, ainda que não existisses nunca, A Tua paz no mundo que julgas Teu, A Tua paz impossível tão possível à Terra, À grande mãe pagã, cristã em nós a esta hora E que deve ser humana em tudo quanto é humano em nós. Dá-nos a paz como uma brisa saindo Ou a chuva para a qual há preces nas províncias, E chove por leis naturais tranquilizadoramente. Dá-nos a paz, porque por ela siga, e regresse O nosso espírito cansado ao quarto de arrumações e coser Onde ao canto está o berço inútil, mas não a mãe que embala, Onde na cómoda velha está a roupa da infância, despida Com o poder iludir a vida com o sonho... Dá-nos a tua paz
They say home is where the heart is But my heart is wild and free So am I homeless Or just heartless? Did I start this? Did it start me? They say fear is for the brave For cowards never stare it in the eye So am I fearless to be fearful Does it take courage to learn how to cry So many winding roads So many miles to go And oh Oh they say love is for the loving Without love maybe nothing is real So am I loveless or do I just love less Oh since love left I have nothing left to fear So many winding roads So many miles to go When I start feeling sick of it all It helps to remember I’m a brick in a wall Who runs down from the hillside to the sea When I start feeling that it’s gone too far I lie on my back and stare up at the stars I wonder if they’re staring back at me Oh when I start feeling sick of it all It helps to remember I’m a brick in a wall Who runs down from the hillside to the sea When I start feeling that it’s gone too far I lie on my back and stare up at the stars I wonder if t

"Guardar só o que é bom de guardar"

Fui criança, indo por um carreiro, a caminho do mar, mão na outra mão, entre árvores, pedras, insectos e aves. Toda a Natureza me coube nas pupilas, mestra de sentimentos, e eu discípula. E, se fechava os olhos, ela punia-me com o silêncio cruel das ondas, a mudez imerecida dos insectos, e a distância das aves, que doía. e os abria, tudo me rodeava, apaziguado e meu, mas a mão que me trazia a mão puxava-me para a luz de cada dia. Fiama Hasse Pais Brandão Cenas Vivas, Relógio d’Água
É talvez o último dia da minha vida. Saudei o sol, levantando a mão direita, Mas não o saudei, para lhe dizer adeus. Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada. 1920? alberto caeiro poemas inconjuntos poemas completos de alberto caeiro fernando pessoa presença 1994
Um dia há um vulgar homem na falésia, um pássaro cantando na varanda, uma simples fissura na parede – e levantamos uma pedra, uma casa. Parecemos ratos se não estivermos atentos, porque é Deus a provocar as evidências, batendo no joelho com a Sua larga mão. “Até que enfim!” – e faculta-nos o dom de um vislumbre e lança-nos depois em novas trevas. carlos poças falcão sinais arte nenhuma (poesia 1987-2012) opera omnia 2012
Não é fácil ser poeta a tempo inteiro. Eu, por exemplo, nem cinco minutos por dia, pois levanto-me tarde e primeiro há que lavar os dentes, suportar os incisivos à face do espelho, pentear a cabeça e depois, a poeira que caminha, o massacre dos culpados, assistir de olhos frios à refrega dos centauros. E chegar à noite a casa para a prosa do jantar, o estrondo das notícias, a louça por lavar. Concluindo, só pelas duas da manhã começo a despir o fato de macaco, a deixar as imagens correr, simulacro do desastre. Mas entretanto já é hora de dormir. Mais um dia de estrume para roseira nenhuma. José Miguel Silva

"Guardar só o que é bom de guardar"

Há a saudade e há a saudade que vos pertence Pardalitos dos meus olhos! Zumalai, Agosto de 2017

"Guardar só o que é bom de guardar"

"Mister, mister, photography!" O sorriso deles quando percebiam que falávamos português... Dili, 21 de Agosto de 2017

Podia ver isto todos os dias...

Why did you stop loving life? Well, you don't love life itself. You love, uh, places, animals, people, memories, food, literature, music. And sometimes you meet someone... who requires all the love you have to give. And if you lose that someone, you think everything else is gonna stop too. But everything else just keeps on going. Giraudoux said, you can miss a single being, even though you are surrounded by countless others. Those people are like... like extras. They cloud your vision, they're a meaningless crowd. They... They're an unwelcome distraction. So you seek oblivion in solitude. But solitude only makes you wither. So I'm an unwelcome distraction. I'm a cloud? You are the only part of my life I haven't figured out yet.

"Guardar só o que é bom de guardar"

"Précisa foto" Zumalai, Agosto de 2017

Das favoritas desde sempre

Even if a day feels too long You feel like you can't wait another one You're slowly givin' up on everything Love is gonna find you again Love is gonna find you, you better be ready then You been kneelin' in the dark for far too long You've been waitin' for that spark, but it hasn't come Well I'm callin' to you, please, get off the floor A good heart will find you again A good heart will find you, just be ready then Tethered to a bird of sorrow A voice that's buried in the hollow You've given over to self-deceivin' Your prostrate bowed would not be leavin' You've squandered more than you could borrow You've bet your joys on all tomorrows For the hope of some returnin' While everything around just burnin' Come on, we gotta get out, get out of this mess we made And still for all our talk, we're both so afraid Will we leave this up to chance, like we do everything? Love is gonna find us again Love is gonna find us, we
Não ter um Deus não ter um túmulo não ter nada de certo mas apenas coisas vivas que nos fogem – existir sem ontem existir sem amanhã e cegar no vazio – socorro – pelo sofrimento que não tem fim – Antonia Pozzi

"Guardar só o que é bom de guardar"

Meysi Montanha, Zumalai, Agosto de 2017
Cada um de nós nasce com um artista lá dentro. Um poeta, um escultor, um aventureiro... um cientista, um pintor, um arqueólogo, um estilista, um astronauta, um cantor, um marinheiro. E o sonho e a distância, e o tempo e a saudade deram-nos vida, amor, problemas, mentiras e verdade; e damos por nós mesmos descobrindo que agora, se calhar, já é um pouco tarde. E nas memórias velhas e secretas da menina morou sempre aquele sonho de um dia ser... bailarina, actriz, modelo, princesa, muito rica; eu sei lá! Mas os anos correram num assombro, e a vida foi injusta em qualquer jeito para a chama indelével que ainda arde. E os filhos são bonitos no seu peito. Pois é... mas agora... agora já é tarde. E nos papéis antigos que rasgamos há sempre meia dúzia que guardamos. São os planos da conquista do Pólo Norte que fizemos aos sete anos, escondidos no sótão uma tarde, e estiveram perdidos trinta anos. E agora, se calhar, maldita sorte! Por desnorte, acaso ou esquecimento, alguém já desc