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Para além do hoje


A reter: Fugimos do passado e temos medo do futuro, o que implica que somos forçados a viver um presente demasiado pequeno. 

Cada vez mais se vive o momento. Fugimos do passado e temos medo do futuro, o que implica que somos forçados a viver um presente demasiado pequeno. 

Os tempos de descanso devem ser ocasião de trabalho interior. Mas, vai sendo cada vez mais raro encontrar gente com memória, assim com também é raro encontrar pessoas com discernimento suficiente para se comprometerem em projetos a longo prazo.

Navega-se à vista... sem riscos, sem sucessos nem fracassos... sem sentido. Vamos dando as respostas mínimas ao mundo e aos outros, em vez de sermos protagonistas dos nossos sonhos e heróis apesar das nossas derrotas. 

O passado e o futuro não são mentira. São partes da verdade. Sou o que fui e o que serei. Uma identidade que vive no tempo, uma coerência que se constrói através diferentes espaços e tempos, amando o que há de eterno em cada momento. Elevando o espírito acima da realidade concreta do mundo.

Uma existência autêntica – uma vida com valor – constrói-se com uma estrutura sólida, equilibrada e aberta a horizontes mais longínquos em termos temporais. Um presente maior, com mais passado e mais futuro. Sermos quem somos, de olhos abertos.

Não devemos viver dia a dia, mas sim semana a semana, mês a mês, ano a ano... precisamos de assumir que a nossa vida é tão bela quanto enorme, fugindo à triste lógica de tentar aproveitar cada dia como se fosse o último... não será a nossa vida muito maior e mais profunda que isso? 

Sem as referências do passado e sem as responsabilidades do futuro, o momento não é presença, é ausência.

José Luís Nunes Martins
jornal i
22 fevereiro 2014

http://www.ionline.pt/iopiniao/alem-hoje

Ilustração de Carlos Ribeiro

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