Avançar para o conteúdo principal
Há um aspeto muito curioso no evangelho de hoje [Mc 2, 1-12]. Quatro homens fazem de tudo para levar um paralítico até diante de Jesus. Não conseguindo atravessar a multidão, descem-no pelo telhado. Nos três evangelhos que contam esta situação, o narrador diz que Jesus ficou impressionado com a fé daqueles homens, mas nenhum nos oferece uma mísera palavra que seja sobre o paralítico! Ou seja, o evangelho não está interessado na fé daquele doente particular: não interessa tanto o que ele tenha sentido, dito ou pensado. O foco está todo posto sobre os outros homens: e, mesmo assim, sobre eles, os evangelistas nem se preocupam em explicar que relação teriam com o paralítico; o evangelho de Lucas e de Mateus nem dizem quantos eram. Mas todos estão de acordo em dizer que foi o suficiente para Jesus lhe curar os pecados e a paralisia. E todos ficaram maravilhados. Ora o que salta imediatamente à vista é que a cura chegou pela mediação de outras pessoas! O que esta narrativa nos diz é que, mesmo que falte a fé, a confiança, a saúde a alguém, onde estiverem 'uns quantos' a cuidar dessa pessoa, aí está Jesus a curar. E isso pode acontecer quando nos juntamos a rezar por alguém, ou quando cuidamos de um doente ou um idoso, ou quando recolhemos alimentos para alguém que passa fome; ou ainda quando estamos numa reunião a tratar de uma instituição ou de uma cidade ou de um país. Mesmo que falte algo de fundamental a alguém, temos o poder de nos juntarmos para o proteger e levantar. Havemos de nos curar pela fé uns dos outros - e pela fé uns nos outros!

João Delicado
http://verparalemdolhar.blogspot.pt/2014/01/evangelho-dia-hoje-doente-paralitico.html?q=a+curar+outro

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não é uma sugestão, é um mandamento

Nos Evangelhos Sinóticos, lemos muito sobre as pregações de Jesus a propósito do «maior mandamento». Não é a grande sugestão, o grande conselho, a grande linha diretiva, mas um mandamento. Primeiro, temos de amar a Deus com todo o coração e com toda a nossa força, sobre todas as coisas. Ao trabalhar com os pobres camponeses da América Central, que não sabiam ler nem escrever, a frase que eu sempre ouvia era: «Primero, Dios». Deus tem de ser o primeiro nas nossas vidas, depois, todas as nossas prioridades estão corretamente ordenadas. Não amaremos menos as pessoas, mas mais, por amar a Deus. A segunda parte do «maior mandamento» é amarmos o próximo como a nós mesmos. E Jesus ensina-nos, na parábola do Bom Samaritano, que o nosso próximo é esse estrangeiro, esse homem ferido, essa pessoa esquecida, aquele que sofre e, por isso, tem um direito acrescido sobre o meu amor. Jesus manda-nos amar os estranhos. Se só saudamos os nossos, não fazemos mais do que os pagãos e os não cr
Talvez eu seja O sonho de mim mesma. Criatura-ninguém Espelhismo de outra Tão em sigilo e extrema Tão sem medida Densa e clandestina Que a bem da vida A carne se fez sombra. Talvez eu seja tu mesmo Tua soberba e afronta. E o retrato De muitas inalcançáveis Coisas mortas. Talvez não seja. E ínfima, tangente Aspire indefinida Um infinito de sonhos E de vidas. HILDA HILST Cantares de perda e predileção, 1983

Oh Senhor

Ó Senhor, que difícil é falar quando choramos, quando a alma não tem força, quando não podemos ver a beleza que tu entregas em cada amanhecer. Ó Senhor, dá-me forças para poder encontrar-te e ver-te em cada gesto, em cada coisa desta terra que Tu desenhaste só para mim. Ó Senhor, sim, eu seu preciso da tua mão, do abraço deste amigo que não está. Dá-me luz, à minha alma tão cansada, que num sonho queria acordar. Ó Senhor, hoje quero entregar-te o meu canto com a música que sinto. Eu queria transmitir através destas palavras. Fico mais perto de ti.