Um café para adormecer, por favor! São dez e meia. Mais coisa menos coisa. As pessoas entram no café do costume. Sentam-se, pousam malas, telemóveis, maços de cigarros como pequenas sementes de conversas que, durante um tempo, não terão fim. Cumprimentam-se, reviram os olhos à rotina que finalmente terminou e brindam ao resto de noite que ainda têm pela frente. Ouvem-se restos de conversas. Pousam nas mesas alheias como sobras de cinza de cigarro. As gargalhadas são discretas e estão sentadas à mesa. Como nós. Entre os muitos que chegam e que partem, surge uma presença diferente. Que sobressai. Não sobressai pelas cores que veste, pelas marcas que usa, pelo tablet último modelo debaixo do braço, pelo tamanho da carteira ou pelo que tem dentro. Sobressai pela pobreza. Sobressai pelos bolsos das calças puídas. Demasiado grandes para o nada que têm dentro. Nas mãos um saco de plástico branco com os pertences de uma vida. Uma colher. Três chávenas de plástico. Cigarros. Duas moedas de...