Avançar para o conteúdo principal

Numa carta que amanhã seguirá para Lisboa


Taizé não é uma morada perdida no mapa, não existe num tempo criado para cada um de nós, não é um mundo sem realidades. É uma tentação pensá-lo. Fazer de Taizé um oásis sem desertos por perto é quase como que a negação da vida de cada um: vivida e sofrida. Tu (Nós) não queres apenas voltar a Taizé, queres voltar à calma paradoxal que Taizé te traz, à oportunidade sempre à espera de encontro, à sede saciada, às chagas curadas, ao lago aparentemente imperturbável a qualquer brisa ou sombra que o ameace, ao silêncio que grita, à interioridade que não se cala, ao tempo desfeito de tempo... Queres voltar a Taizé e ao que Taizé te traz. Faz-te peregrino. Leva a tua vida até Taizé, mas traz Taizé para a tua vida. "Todo o caminho é de regresso", a maior viagem das nossas vidas é sempre aquela que fazemos até às nossas casas. Custa, mas (quase) tudo aquilo que custa vale a pena, nem que seja um pouquito. E as nossas casas, aquilo que é nosso, porque nos foi dado e não porque o tenhamos conquistado, valem sempre a pena.

Taizé não é uma morada desde o dia em que começa a morar em nós. É este o verdadeiro encanto (e desafio) de Taizé.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não é uma sugestão, é um mandamento

Nos Evangelhos Sinóticos, lemos muito sobre as pregações de Jesus a propósito do «maior mandamento». Não é a grande sugestão, o grande conselho, a grande linha diretiva, mas um mandamento. Primeiro, temos de amar a Deus com todo o coração e com toda a nossa força, sobre todas as coisas. Ao trabalhar com os pobres camponeses da América Central, que não sabiam ler nem escrever, a frase que eu sempre ouvia era: «Primero, Dios». Deus tem de ser o primeiro nas nossas vidas, depois, todas as nossas prioridades estão corretamente ordenadas. Não amaremos menos as pessoas, mas mais, por amar a Deus. A segunda parte do «maior mandamento» é amarmos o próximo como a nós mesmos. E Jesus ensina-nos, na parábola do Bom Samaritano, que o nosso próximo é esse estrangeiro, esse homem ferido, essa pessoa esquecida, aquele que sofre e, por isso, tem um direito acrescido sobre o meu amor. Jesus manda-nos amar os estranhos. Se só saudamos os nossos, não fazemos mais do que os pagãos e os não cr
Talvez eu seja O sonho de mim mesma. Criatura-ninguém Espelhismo de outra Tão em sigilo e extrema Tão sem medida Densa e clandestina Que a bem da vida A carne se fez sombra. Talvez eu seja tu mesmo Tua soberba e afronta. E o retrato De muitas inalcançáveis Coisas mortas. Talvez não seja. E ínfima, tangente Aspire indefinida Um infinito de sonhos E de vidas. HILDA HILST Cantares de perda e predileção, 1983

Oh Senhor

Ó Senhor, que difícil é falar quando choramos, quando a alma não tem força, quando não podemos ver a beleza que tu entregas em cada amanhecer. Ó Senhor, dá-me forças para poder encontrar-te e ver-te em cada gesto, em cada coisa desta terra que Tu desenhaste só para mim. Ó Senhor, sim, eu seu preciso da tua mão, do abraço deste amigo que não está. Dá-me luz, à minha alma tão cansada, que num sonho queria acordar. Ó Senhor, hoje quero entregar-te o meu canto com a música que sinto. Eu queria transmitir através destas palavras. Fico mais perto de ti.