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«É triste» quando os jovens pensam que Igreja não lhes diz nada que sirva para a sua vida

Rui Jorge Martins 
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Imagem: viewapart/Bigstock.com 
Publicado em 26.09.2018
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A uma semana do início do sínodo dos bispos, que de 3 a 28 de outubro, no Vaticano, se vai centrar nos jovens, o papa assumiu que a Igreja tem andado distante das suas expetativas, quer por não os saber escutar, por não ter nada de relevante para lhes transmitir ou devido aos escândalos que a têm atravessado.

«Quando nós, adultos, nos fechamos a uma realidade que é já um facto, dizeis-nos com ousadia: “Não o vedes?”. E alguns mais decididos têm a coragem de dizer: “Não vos dais conta de que já ninguém vos escuta, nem crê em vós?”. Verdadeiramente precisamos de nos converter, de descobrir que, para estar ao vosso lado, devemos derrubar muitas situações que, em última análise, são aquelas que vos afastam», afirmou Francisco esta terça-feira, em Tallinn, capital da Estónia.

O papa está consciente de que grande parte da juventude não pede nada aos católicos porque não os «consideram interlocutores significativos na sua existência», e revelou sentir-se «triste» quando uma Igreja «se comporta de tal maneira que os jovens pensem: “Estes não me dirão nada que sirva para a minha vida”».

«Antes, alguns [jovens] pedem expressamente para serem deixados em paz, sentem a presença da Igreja como algo molesto e até irritante. Isto é verdade! Indignam-lhes os escândalos económicos e sexuais contra os quais não veem uma clara condenação, o não saber interpretar adequadamente a vida e a sensibilidade dos jovens por falta de preparação, ou o papel simplesmente passivo que lhes atribuímos», apontou.

Diante de uma assembleia ecuménica, o papa afirmou que na consulta preliminar do sínodo muitos jovens pediram alguém que «os acompanhe e compreenda sem julgar e saiba escutar, bem como dar resposta» às suas inquietações, porque não raras vezes os adultos «não sabem o que querem ou esperam» da juventude, ou quando a veem feliz «ficam desconfiados», ao mesmo tempo que «relativizam» as suas angústias.
«Muitas vezes, sem dar por isso, as comunidades cristãs fecham-se e não escutam as vossas inquietações. Sabemos que vós quereis e esperais ser acompanhados, não por um juiz inflexível nem por um pai receoso e superprotetor que gera dependência, mas por alguém que não tem medo da sua própria fraqueza e sabe fazer resplandecer o tesouro que guarda dentro de si, como num vaso de barro», observou.


Igreja e jovens avançam na vida num diálogo de surdos, com a primeira impenetrável às preocupações dos segundos, mantendo imperturbável a sua rota: «Às vezes, as nossas Igrejas cristãs – e ousaria dizer todo o processo religioso estruturado institucionalmente – carregam consigo atitudes nas quais nos é mais fácil falar, aconselhar, propor a partir da nossa experiência, do que escutar, do que se deixar interpelar e iluminar por aquilo que vós viveis».

Francisco reiterou que a Igreja quer dar resposta aos jovens, tornando-se uma «comunidade transparente, acolhedora, honesta, atraente, comunicativa, acessível, alegre e interativa, isto é, uma comunidade sem medo» e elogiou a fé dos mais novos, que, não obstante a «falta de testemunho», «continuam a descobrir Jesus» nas comunidades cristãs.

Mas não é só no interior do pequeno mundo das igrejas que Cristo está: por não ter medo das periferias, porque «Ele mesmo se tornou periferia», pode ser encontrado «na vida do irmão que sofre e é descartado» se os cristãos «tiverem a coragem de sair de si mesmos, dos seus egoísmos, das suas ideias fechadas».

Ao comentar o verso de uma música interpretada por uma cantora famosa na Estónia, «o amor está morto, o amor foi-se embora, o amor já não mora aqui», o papa pediu: «Isso não, por favor! Façamos com que o amor permaneça vivo, e todos nós devemos trabalhar por isso».

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