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Imagina

Imagina la oscuridad.
El horror dispara sus minutos a la velocidad de la metralla.
Las sirenas crecen como aullidos de chacales,
los gemidos retumban entre los escombros, clavan sus esquirlas.
Imagina tus lágrimas como bayonetas,
desahuciadas de todo consuelo, de toda piedad.
Refugios rebosando de miedo, temblando de miedo
mientras los cadáveres elevan sus montañas,
mientras los bombarderos gotean constelaciones en las aceras.
Imagina el aire entrándote, invadiéndote de muerte.
Se pulverizan árboles y bibliotecas;
se desgarran cuerpos y muros,
se mutilan recuerdos y palabras;
se siembran minas, terrores y esqueletos de pájaros.
Imagina la orfandad de las cosas. El llanto de las cosas.
Imagina cómo los héroes se envuelven en capas escarlatas.
Cómo los verdugos despliegan alfombras escarlatas.
Cómo las víctimas se ahogan en manantiales escarlatas.
Y cómo el espanto, la venganza y el odio
ganan batallas en tu corazón sobrecogido.
Estás en medio del recinto inexpugnable del pánico.
Y eres tú quien orquesta los crímenes. 
Porque has sido tú.
Tú, que eres capaz de imaginar,
de sentir todo lo que imaginas,
de fabricar todo lo que sientes,
de construir realidades con los sueños
quién ha dado vida al horror.
Por eso, atrévete a cambiar la estructura
del mundo
y donde dices temor di esperanza
porque las lágrimas también son de alegría.
Porque la sangre también es nacimiento.
Porque la belleza también es sobrecogedora
y el amor un potente estallido.
Por eso, atrévete.
Apacigua tu mente,
ilumina tus ojos,
imagina justicia.
Imagina consuelo.
Imagina bondad.

Ana Rossetti 



Imagina o escuro.
O horror dispara os minutos à velocidade da metralha.
As sirenes crescem como uivos de chacais,
os gemidos ressoam pelos escombros, espetando suas lascas.
Imagina as lágrimas como baionetas,
despejadas de consolo, de piedade.
Refúgios a transbordar de medo, tremendo com medo
enquanto os cadáveres fazem montanha 
e os bombardeiros despejam constelações nos passeios.
Imagina o vento a entrar por ti adentro,
a invadir-te de morte.
Fazem-se em pó árvores e bibliotecas,
rasgam-se corpos e muros,
recordações e palavras;
semeiam-se minas, terrores e esqueletos de pássaros.
Imagina a orfandade das coisas. O pranto das coisas.
Imagina como os heróis se metem em capas escarlates.
Como os verdugos estendem carpetes escarlates.
Como as vítimas se afogam em ribeiros escarlates.
E como espanto, vingança e ódio
ganham batalhas em teu coração.
Tu estás no meio do recinto inexpugnável do pânico,
e és tu quem orquestra os crimes.
Porque foste tu,
tu, que és capaz de imaginar,
de sentir tudo o que imaginas,
de fabricar tudo o que sentes,
de fazer realidade do sonho,
tu é que deste vida ao horror.
Por isso atreve-te a trocar a estrutura do mundo
e onde dizes temor diz antes esperança
porque as lágrimas são também de alegria.
Porque o sangue é também nascimento,
porque a beleza é também conforto
e o amor uma potente explosão.
Por isso, atreve-te.
Sossega o espírito,
põe luz nos teus olhos,
imagina justiça.
Imagina consolo.
Imagina bondade.


(Trad. A.M.)

http://ruadaspretas.blogspot.pt/2014/12/ana-rossetti-imagina.html

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