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O TEMPO COMO O VENTO


As horas e os anos sopram apagando as paixões superficiais, ao mesmo tempo que avivam e incendeiam o fogo das mais profundas. Aquilo que é leve levanta voo como se fosse importante e, pouco depois, com o passar do tempo desaparece… Ao que é sólido, o tempo revela-o à medida que se vão perdendo as superficialidades que lhe escondem os contornos. A verdade está, quase sempre, sob um manto sujo... 
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Somos como pedras. Mais pequenas ou maiores, grãos de areia ou rochedos. A proximidade é mais importante do que o tamanho. O mais pequeno grão de areia, se estiver próximo, é maior do que uma montanha ao longe. Até porque uma montanha ao longe é um mero grão de areia… e um grão de areia é sempre um quase nada. 
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Importa estar atento ao outro, cuidar do que nele se mantém tanto quanto do que se modifica, celebrando o que de bom não se altera, tanto quanto aquilo que nele muda para melhor… tolerando o mal que teima em ficar, tanto quanto aquilo que se deteriora… 
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É preciso ter um enorme cuidado com as pequenas oscilações e rotinas, uma vez que conseguem, quase sempre, o que parece impossível ao início: de forma calma e subtil destroem o que é sólido. Muitas vezes, quando damos conta do estrago, já é estrago de mais. 
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A verdade é que com o passar do tempo, se nada for feito, qualquer situação tende para a desordem. Há que estar atento e a cada dia corrigir este desleixo do tempo.
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Por mais que o tempo passe, há coisas em que parece não tocar… As aparências mudam, mas até no rosto humano há traços e proporções que se mantém sempre… é nesses, e só nesses, que reside a verdadeira beleza, a essência que transparece de forma simples e subtil por entre as ilusões do instante.
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O tempo, como um vento, sopra e insufla o interior dos que sabem onde devem ir. 
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Há pessoas que têm o céu todo no coração. É verdade que a sua grandeza e força não são evidentes… Mas também nunca ninguém viu o vento, o tempo ou o amor… apenas se pode ver o que eles fazem. 

José Luís Nunes Martins 
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30 de maio de 2015 

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