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PorMiguel Esteves Cardoso
Quando saireste jornal, a Maria João e eu estaremos a caminho do IPO de Lisboa, à porta doqual compraremos o PÚBLICO de hoje. Hoje ela será internada e hoje à noite,desde o mês de Setembro do ano passado, será a primeira vez que dormiremos semser juntos.

O meu plano é que, quando me expulsarem do IPO,ela se lembre de ir ler o PÚBLICO e leia esta crónica a dizer que já estoucheio de saudades dela. É a melhor maneira que tenho de estar perto dela,quando não me deixam estar. Mesmo ficando num hotel a 30 passos dela, dói-me demuito mais longe.

O IPO consegue ser uma segunda casa. Nenhum outrohospital consegue ser isso. Podem ser hospitais muito bons. Mas não são comouma casa. O IPO é. Há uma alegria, um humor, uma dedicação e uma solidariedade,bem-educada e generosa, que não poderiam ser mais diferentes da nossa atitude emaneira de ser - resignada, fatalista e piegas - que são o default institucional da nacionalidade portuguesa. É graxa? Paraque tratem bem a Maria João? Talvez seja. Mas é merecida. Até porque toda agente que os três IPO de Portugal trata é tratada como se tivesse direito atodas as regalias. Há muitos elogios que, não obstante serem feitos para nosbeneficiarem, não deixam de ser absolutamente justos e justificados. 

Este é um deles. Eu estou aqui ao pé de ti. Comotu estás ao pé de mim. Chorar em público é como pedir que nada de mau nosaconteça. É uma sorte. É o contrário do luto. Volta para mim.

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